A presença da colagem como um dos
possíveis instrumentos da banda desenhada não é de forma alguma
uma novidade. Num artigo presentemente no prelo, num livro colectivo
dedicado à abstração em banda desenhada, regressámos ao livro 978
de Pascal Matthey e à obra de diceindustries para tentar compreender
não apenas esta “tendência” como também quais os contornos
precisos da técnica e as suas potencialidades expressivas, políticas
e de representação. Se podemos falar de Jack Kirby num campo
estrito da banda desenhada, também poderíamos arrolar Max Ernst,
Jess e Cátia Serrão em práticas mais expandidas e contaminadas da
banda desenhada ou nas suas margens confundidas com as artes visuais.
O alcance deste pequeno zine de François Henninger – com que nos
havíamos cruzado em algumas publicações alternativas, e de quem
lêramos Lutte des corps et chutes de classes – leva muitas
das revisitações do material mortificado pela tesoura a atingir
paroxismos maximais, que poderão devolver alguma urgência à banda
desenhada que serviu de “matéria-prima”. (Mais)
30 de abril de 2017
27 de abril de 2017
Três títulos da Avery Hill. AAVV.
Três passeios por paisagens inconstantes. A Avery Hill é uma recente e pequena
editora londrina que parece disposta a fazer apostas numa certa
diversidade de linguagens da banda desenhada, que tanto poderá
compreender gestos algo experimentais como outras abordagens mais
convencionais, mas ainda assim informadas por sensibilidades e
estilos contemporâneos, abertos a um diálogo entre vários géneros,
e sempre sob o signo da tranquilidade. Dos que nos foi dado a ler,
vimos precisamente como constante a exploração dos mais distintos
mundos ficcionais, que podem compreender a ficção científica, a
fantasia, o fantástico, o mundano e até o horror, mas sempre numa
pausada e certeira caminhada. Os três livros que trazemos aqui à
colação, de uma forma ou outra, dão-nos a impressão de estarem
unidos por “passeios” idênticos, sejam eles mais próximos da
ficção ou da autobiografia, e procurando vários graus de
experimentação gráfica, narrativa ou de composição. (Mais)
24 de abril de 2017
Colaboração no The Comics Alternative: It's No Longer I That Liveth, Francisco Sousa Lobo.
O último livro de Francisco Sousa Lobo inscreve-se de uma maneira intensa no seu projecto contínuo de auto-ficção. As afinidades com aquilo a que chamámos o "Poema Contínuo" de Baudoin é por demais assinalado na obra de Lobo, um pouco como, se bem que com instrumentos distintos, dos de Marco Mendes no seu Diário rasgado. Este último título traz para primeiro plano a relação complexa coma fé, a sexualidade e a difícil comunicação com os outros seres humanos, no cadinho mais tumultuoso da vida de uma pessoa na sociedade ocidental: a adolescência. Menos do que um Bildungsroman, It's No Longer That I Liveth é uma demolição da personalidade, uma mortificação, para nela tentar ver se existe alguma fagulha ainda sobrevivente... O texto maior sobre este livro foi escrito em inglês para The Comics Alternative, deixando aqui o link directo.
15 de abril de 2017
Gaïa. Thierry Cheyrol (La Cinquième Couche)
Se tivermos em conta alguns dos exemplos incluídos em Abstract Comics, e experiências quer narrativas como algumas das peças
incluídas em A Graphic Cosmogony ou mais experimentais como 978, apercebermo-nos-emos de que tem surgido uma espécie de
tendência em explorar formas de representação das transformações e devires em
tempos dilatados, através das potencialidades expressivas da banda desenhada,
para criar quadros de compreensão à escala humana. Noutras palavras,
transformar a banda desenhada numa espécie de filtro, gráfico neste caso, que
permita “dar a ver” fenómenos usualmente for do campo da visibilidade ou
experiência humanas, de uma forma a poder criar um qualquer grau de
relacionabilidade. (Mais)
9 de abril de 2017
Torrente de ilustração (várias editoras).
Permitam-nos iniciar este texto com uma nota pessoal e um
pedido de desculpas. A nota pessoal prende-se com uma justificação de termos
estado “em silêncio” em relação a toda uma série de livros ilustrados para a
infância que têm sido publicados nos últimos meses em Portugal, não por falta
de atenção e menos ainda por falta de interesse, mas devido a vários
compromissos profissionais e académicos que nos têm impedido de poder fazer uma
recepção crítica mais atempada, individualizada e específica a cada um desses
projectos. O pedido de desculpas deve-se às editoras, que têm sido generosas em
deixar-nos a par das suas novidades e apostas editoriais, que não acarreta de
forma alguma a obrigatoriedade de escrever sobre elas mas parte de um
pressuposto de atenção, dada a (ainda) desequilibrada recepção crítica desta
produção nos meios de comunicação mais massificados, e mesmo nos mais
especializados reduzidos muitas vezes a discursos impressionistas. Porém, esse
pedido de desculpas deve ainda dizer respeito ao presente texto, pois ao
abordar mais de trinta títulos de um só fôlego, é mais do que natural que
incorramos numa profunda injustiça, já que nem poderemos entrar numa leitura
formal pormenorizada que cada título mereceria nem poderemos dar conta de um
juízo de valor mais argumentado e claro. (Mais)
3 de abril de 2017
Trump Card. Rudolfo (Chili Com Carne/Ruru Comix)
1 de abril de 2017
Silent Agitators. Kent Worcester (auto-edição)
Já nos havíamos cruzado neste espaço com Worcester por
ocasião do volume por si co-editados, AComics Studies Reader, se bem que ele tem trabalhado noutros projectos
associados à banda desenhada (o volume dedicado a Peter Kuper na colecção
Conversations da UPM, um The Superhero Reader,
etc.). Este título é uma auto-edição de toda uma série de pequenos artigos, quase
uma trintena de entradas, que foram publicadas na New Politics (que é
publicada duas vezes por ano) entre 2003 e 2016. Esta secção, intitulada “Word
and Pictures”, permitiu a Worcester uma exploração inclusiva do tipo de
trabalhos abordados, mas sempre sob uma mesma perspectiva. Como explica na
introdução, com vista a uma certa “correcção” em relação ao tipo de objectos
maioritariamente estudados na academia – o círculo dos Estudos de Banda
Desenhada, para o qual ele próprio tem contribuído, afinal -, pretende aqui
focar-se sobretudo em trabalhos de natureza política. Combativa, directa,
endereçada, sejam caricaturas, cartoons
ou banda desenhada (ficcional ou não), toda esta produção visa, como implica o
título do livrinho, “agitar”. (Mais)