tag:blogger.com,1999:blog-7498791.post117121596857858182..comments2024-03-21T07:34:30.258+00:00Comments on Ler BD: Please Release. Nate Powell (Top Shelf)Unknownnoreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-7498791.post-1171362241843831392007-02-13T10:24:00.000+00:002007-02-13T10:24:00.000+00:00Olá, David. E obrigado. Em primeiro lugar, gostava...Olá, David. E obrigado. <BR/>Em primeiro lugar, gostava de esclarecer uma coisa e temo não ter sido muito claro. Quando eu me referi aos ataques à autobiografia em banda desenhada, e as desmonto pelos vários itens, não me estava a referir a ti. Bem pelo contrário, quer pelas conversas que temos quer precisamente pela forma inteligente em que como deixaste os outros comentários dignos de discussão (no pleno sentido da palavra), poderias ser o necessário "advogado do diabo" para "encetarmos uma discussão" (para citar um artigo sobre este mesmo blog, ou blogue). Nâo me interessa divulgar aqui quem conheço e até que grau de intimidade, e muito menos estar a colocar nomes fazendo ataques pessoais. As pessoas menos inteligentes e que desprezam a "autobiobd" são, usualmente, fãs do Wolverine ou do Spirou, e por aí se ficam... <BR/>Voltando aos teus argumentos, espero que tenham resposta da parte de mais pessoas, mas gostaria de deixar duas coisas. Em primeiro lugar, aceitando-os evidentemente como elementos a discutir, não penso que possamos reduzir a importância da autobiografia smente ao seu valor, posterior, de documento histórico; em primeiro lugar, porque tudo poderá vir a constituir-se documento histórico (inclusive tinta descascada a parede, and believe you me); em segundo lugar, porque o que importa é a mestria com que se faz a composição, como dizes e acertadamente: daí que julgue que não estarei em erro em dizer que o "Palavras" do Sartre é uma autobiografia superior à da Carolina (do Porto). Na banda desenhada acontece o mesmo; também não sou fã dessa atitude adolescente-tardia de "se olhar para o espelho encontro a minha matéria", que só leva a coisas sofríveis (vide as centenas de fanzines por aí); num grau acima caímos em Jeffrey Brown, pelo qual não nutro carinho especial, e acho que é algo facilitista, com alguns momentos de excepção; depois, fui seduzido pelo "Blankets" do C. Thompson, mas devo confessar que as aturadas releituras não se aguentam como o primeiro impacto; e é quando entramos pelos David B., as Dominique Goblet, os Emmanuel Guibert, os Edmund Baudoin, os Fabrice Neaud, os Seth, as Marjane Satrapi, nalguns dos Art Spiegelman, e poucos mais, é que nos aproximamos dessa mestria a que me refiro. <BR/>Entenda-se, nem Nate Powell nem Gene L. Yuang chegam a esses píncaros, mas fazem algo que não era absolutamente redondo até uns anos atrás: confirmam a existência, de facto, de um "género da autobiografia" e, enquanto género, confirmam regras repetidas, estratégias, formas, composições até. No entanto, é sempre um género cujo horizonte de expectativas, espero que concordes, é ligeiramente (ou mais) maior que o de outros géneros, como o da "fantasia" (incrivelmente previsíveis) ou dos "superheróis" ("deixa-me adivinhar...") ou outros.<BR/>Continuemos!<BR/>Abraços,<BR/>PedroPedro Mourahttps://www.blogger.com/profile/13850102500313668884noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7498791.post-1171282723729428682007-02-12T12:18:00.000+00:002007-02-12T12:18:00.000+00:00Olá, Pedro! Gostei bastante dos teus excelentes ar...Olá, Pedro! Gostei bastante dos teus excelentes artigos (Como sempre.) e desejo, somente, avançar um pouco mais no tópico sobre obras autobiográficas, partindo do post que referiste no teu texto.<BR/>Reconheço que a minha opinião poderá não ser a mais popular, mas começo por dizer que não estou, de modo algum, interessado em promover o aviltamento deste género de narrativas, em que os autores escrevem e desenham legitimamente sobre as suas vidas, e sim expor e defender o meu ponto de vista sobre essa escolha. <BR/><BR/>Bom, enquanto leitor de banda desenhada sou sensível à representação das imagens, mas enquanto autor de banda desenhada sou sensível à composição das imagens: ou seja, preocupo-me em desenhar boas imagens; um valor que não passa pelo virtuosismo do domínio da técnica ou habilidade do traço — territórios em que desenhadores mais talentosos que eu expõem panoramas de maior fôlego — e sim pela articulação do espaço oferecido pelas vinhetas e prancha. Interessa-me desenhar imagens interessantes, e, para o efeito, procuro orientar-me por aquilo que eu considero serem regras úteis de composição; principalmente no equilíbrio entre o texto e as personagens. Um leitor também sente a composição como importante, mas, na maioria das vezes, não tem consciência da forma como ela foi construída de modo a lhe suscitar uma determinada reacção (-”Ah, que giro!...”). Apenas outros autores e críticos podem reflectir sobre essa condição e perceber que uma imagem em particular evoca aquele preciso sentimento / significado só porque foi ilustrada — ou fotografada e filmada — daquela forma.<BR/><BR/>Tudo isto para dizer que, reparem, é relativamente fácil observar o virtuosismo de um desenhador, tanto pelo leitor como pelo crítico, mas o virtuosismo de um escritor é muito mais difícil de avaliar: pelo crítico e, ainda mais, também pelo leitor.<BR/>Existem regras de composição de texto (como existem para a imagem), mais escorregadias porque não podem ser observadas. Acredito que essa é uma das principais razões que influencia alguém a querer ser escritor: a ideia (falsa) que é uma tarefa fácil / acessível: pensar-se que não é preciso estudá-la, como a arte — que obriga ao domínio dos materiais, às teorias da composição e à contextualização da obra no espectro cultural —, mas apenas agarrar uma folha de papel, uma caneta e escrever aquilo que nos vai na cabeça. Ora, o que nos vai na cabeça é “noise” em 99,9% dos casos, não é? Reflexões superficiais, preocupações com a lista de compras do supermercado, e, o sempre inevitável cliché presente nas obras autobiográficas, o “bloqueio criativo”. (Good grief!... O fedor das obras com personagens escritoras que lutam com bloqueios criativos é forte o bastante para descascar a tinta de uma parede a 300 metros de distância.) <BR/>Sublinho que o impulso para se ser escritor, ou autor de banda desenhada, tem de partir “de dentro para fora” e não “de fora para dentro”; e acredito que a grande maioria dos leitores acha que se podem tornar escritores, sem pensar sequer em adquirir a tarimba técnica necessária para o efeito, se escrever sobre o que lhe está mais próximo: eles mesmos!<BR/><BR/>Ninguém no seu prefeito juízo acredita conseguir ser um endocrinologista sem possuir os conhecimentos técnicos necessários, mas são capazes de acreditar que podem ser escritores se escreverem sobre eles mesmos. É aí que se concentra a minha fobia às histórias autobiográficas: acho que são fáceis, preguiçosas e, no máximo, cobardes. Contudo, admito que este é um juízo pessoal (não despido de alguns preconceitos de estimação) e, em última análise, injusto. Talvez daqui a uns tempos leia alguma obra autobiográfica que me faça pensar de outra forma; se isso acontecer serei o primeiro a dizer que o artista é um bom artista, mas até lá ficarei sempre com a impressão final que não havia necessidade.<BR/><BR/>Mesmo assim, valorizo mais uma banda desenhada autobiográfica que um livro de prosa autobiográfica: é que no primeiro exemplo existe a imagem; e diante dela só há duas avaliações a fazer: 1) o artista é bom ou 2) o artista é mau. Por conseguinte, pode ser que o hipotético álbum autobiográfico seja uma péssima obra textual, mas uma excelente obra de narrativa sequencial.<BR/><BR/>Um factor que pesa na minha apreciação positiva de uma obra autobiográfica é pensar que ela terá sempre interesse "documental" no futuro: um instrumento para se observar extintos paradigmas sociais e perceber como as coisas evoluíram, partindo dessa visão particular para uma visão global. Mas, mais uma vez, creio que a ficção pode prestar um melhor serviço.<BR/><BR/>Sintam-se à vontade para discordar.<BR/> <BR/>Abraço.<BR/><BR/>D.Anonymousnoreply@blogger.com