14 de junho de 2007

A Invisibilidade do género feminino em Tintin. Ana Bravo (Chronos)


"O livro que se traz aqui à discussão é da autoria de Ana Bravo, investigadora com um currículo académico e profissional consolidado, mas que lhe acrescenta aqui uma incursão pelo domínio da banda desenhada através de uma Tese de Mestrado que conflui os discursos de desconstrução que emergiram graças ao feminismo, aos Gender e Women Studies, sobre a obra mais famosa de Hergé. A invisibilidade do género feminino em Tintin. A conspiração do silêncio quer colocar sob essa lupa de análise política o famoso “clássico” da banda desenhada. Enquanto o gesto em si é não só louvável como desejado na contínua construção de um discurso crítico no interior da banda desenhada, esta obra apresenta toda uma série de problemas que desejo aqui debater."
Este é o primeiro parágrafo de um longo artigo em que discuto esta tese e que espero venha ser editado no número de Julho/Agosto da revista Vértice. Podem aceder ao artigo, na íntegra, aqui.

16 comentários:

Anónimo disse...

O livro não é crível. Não se acredita que seja uma investigação com Muito Bom. E o feminismo que tanto prezo não é isto. A Universidade Aberta tem de abrir os olhos.Uma vergonha. Hergé e a sua obra têm estudos espantosos e a abordagem só podia ser feita por quem percebe de BD e o feminismo não se mete a mertelo.
Lamentável

Anónimo disse...

Lamentável acho eu que o autor do blog publique um comentário de um(a) anónimo(a)que, para além de não justificar o que escreve, põe em causa um trabalho de investigação, o trabalho de uma Universidade, dos membros de um júri, de um editor....
Afinal, quem não sente curiosidade em saber quem é esta sumidade e o que tem para nos ensinar a todos?
O seu contributo para este assunto seria imprescendível a bem dos trabalhos universitários e de todos os apreciadores de BD e do de feminismo!
Já agora!!!Martelo não se escreve com "e"!!!!

Anónimo disse...

Errata ao "post" anterior:deve ler-se imprescindível.

Anónimo disse...

EStudos espantosos??????
O que é que é isso? O que quer dizer??
Que rigor de linguagem!!!!!Um mimo de eloquência!!!!
Já agora, onde é que se compra essa obra???
Autor anónimo?????

Anónimo disse...

Oh D.Manuela!!!!!!Rebente lá de inveja por uma vez!!!!!!!
Vá lá!!!!!!!

Anónimo disse...

Mas afinal que confusão de comentários são estes a propósito de uma obra que tem a chancela de uma universidade conceituada?
O autor do blog devia recusar este tipo de desabafo de alguém suspeito de ter algum des/interesse na situação. Como é que se pode falar em nome de uma universidade tão abusivamente?!

Anónimo disse...

Curioso! Como é que o anónimo 1 soube que a 'investigação' teve Muito Bom, dado que essa informação só foi divulgada em círculos restritos? Aqui fica, então, a informação correcta para os leitores e o público em geral: esta Dissertação de Mestrado obteve a classificação de Muito Bom, por unanimidade, com recomendação de publicação por um júri de 3 Universidades: Aberta, Nova de Lisboa e Clássica de Lisboa.

Pedro Moura disse...

Olá a todos. Sou o autor do blog e só agora é que tive oportunidade de ler os comentários deixados, no espaço de apenas um dia. Em primeiro lugar, gostaria de informar os leitores que eu não tenho um programa de filtragem anterior aos posts, sendo eles imediatamente tornados públicos pela responsabilidade de quem os escreve. Logo, dessassocio-me desses mesmos comentários. É raro que apague comentários, e quando o faço é porque se trata de ou publicidade ou spam. De resto, independentemente da natureza dos comentários, deixo-os ficar, mesmo quando são ligeiramente insultuosos à minha pessoa (procurem o post intitulado "Quem vier por bem..").
Quanto à pequena celeuma provocada aqui, devo dizer que se o primeiro autor (ou autora) anónimo fez mal em não assinar, também o seu (ou sua) detractor(a) seguiu pelo mesmo caminho, e o seu gesto de correcção perde algum peso. Em todo o caso, como prometo, assim que o meu artigo - que também critica os aspectos menos académicos, alguns erros factuais que comprometem a natureza do trabalho e alguns exercícios generalistas de associação - estiver disponível e publicado, avisarei. No entanto, como também afirmo, acho que se deve fazer todas e quaisquer críticas, mas de uma maneira directa. Por isso, nem o "atacante" nem o "defensor" deste trabalho, nos seus comentários, explicitam quais são os problemas ou as valias. Quanto à questão das notas, pouco importa a longo prazo. Walter Benjamin "chumbou" com a sua tese.
Duvido muito que os "apreciadores de bd", entendo-a enquanto a mole amadora do mais crasso comercialismo de largas décadas, tenha sequer a capacidade de começar a preocupar-se com algumas das questões levantadas por Ana Bravo. Aliás, parte dessa mole não apreciará Tintin, quiçá, por não ter exemplos suficientemente de seres humanos do sexo feminino com glândulas mamárias suficientemente grandes e visíveis... Por outro lado, a bem de um determinado rigor intelectual a que a banda desenhada nem sempre tem estada habituada, algumas das ideias de Ana Bravo não se desenvolvem da maneira mais completa ou equilibrada. No artigo que indico, estarão explicitadas de uma forma mais directa esses problemas e a ele, mais uma vez, reenvio.
Se alguém desejar fazer mais comentários, que o faça na maior das liberdades mas pedia que, em primeiro lugar, assinasse (não há que ter vergonha e deve ser-se frontal) e, em segundo lugar, que fosse mais concreto no "ataque" ou na "defesa".
Quanto a tricas-laricas dos departamentos e pessoas aborrecidas com os trabalhos de casa, agradecia que se abstivessem.
Obrigado,
Vosso,
Pedro Moura

Anónimo disse...

O meu nome é Francisco Sousa, sou um apreciador da obra de Hergé, diria mesmo mais, tintinófilo amador. Já li algumas partes da obra em questão. Do que li até agora não gostei! Não me parece um trabalho bem "trabalhado", embora parta de uma hipótese muito "apetitosa"!
Tem inúmeras falhas, sobretudo em várias das citações que usa sobre a obra e vida de Hergé, imprecisões imperdoáveis. Denota igualmente uma falta de cuidado quando se trata de falar sobre a Banda Desenhada em termos genéricos.O júri lá saberá porque deu a nota que deu e fez a recomendação que fez, espanta-me que Rui Zink o tenha feito, pois achava que sabia alguma coisa sobre BD, mas, se calhar, estou enganado!
Poderia dar muitos exemplos, mas fico-me apenas com este: na bibliografia as fontes secundárias são divididas em várias categorias, uma das quais é Entrevistas, onde está incluido, naturalmente, o livro de Numa Sadoul e também «Ma vie de chien», de A. Valadié, e não Valadier como lá está escrito. Ora este livro não é mais do que uma “entrevista” com… Milou!!!!

Pedro Moura disse...

Caro Francisco Sousa,
Gostava de saber se por acaso teve acesso ao artigo de J.P.B. sobre este livro. Peço perdão pela sigla, pois não estou seguro do grau público que esse mesmo texto assume, uma leitura crítica praticamente a par e passo que, digamos, "aponta e corrige" os erros factuais e de estratégia académica do livro de Ana Bravo. Estão a ser feitas diligências para que venha a ser publicado num local de maior distribuição do que o boletim onde saiu e aí serão encontrados muitos destes "pecados" académicos.
No meu texto, interessar-me-á menos listar esses problemas do que discutir aspectos mais gerais. No entanto, se numa tese de cinema eu confundisse Godard com Resnais seria acusado de ignorante, ou se afirmasse que Renoir influenciou "todo" o cinema norte-americano, de incorrer numa absurda e abusiva generalização... Creio que, se semelhantes problemas surgirem no campo da banda desenhada, mesmo que academicamente, como é o caso presente, "a coisa passa" como "pequena distracção", talvez? Ou "mero detalhe secundário"?
Infelizmente, o livro está pejado deste tipo de problemas de manipulação de factos e de fontes. Por exemplo, o uso e abuso que faz do livro de Pol Vandromme é insustentável e os de Tisseron pouco explicitados e cabimentados. E o que começa mal (em termos de justificação intelectual) não chega a bom porto.
Mesmo a tese central, sobre o papel do "feminino" (já que ultrapassa as personagens humanas, para incorrer num outro abuso) na obra central de Hergé, apesar de estruturada enquanto discurso pretendido e alinhados os instrumentos a utilizar, acaba por não se desenvolver da forma mais equilibrada e consolidada.
Hergé não está isento de crítica, nem de trabalhos de descontrução, nem sequer de aventuras de especulação intelectual (vide McCarthy); mas, como qualquer obra (de arte, se quiserem), merece sim rigor, seriedade, dedicação e honestidade intelectual.
Pedro Moura

Anónimo disse...

Caro Pedro Moura, pelo que disse no fim do meu comentário, e pedindo desculpa a J.P.B. pelo uso e abuso do seu excelente texto, fica claro que dele já tive conhecimento. Fico contente por saber dos esforços que estão a ser feitos para que seja mais conhecido. Ficarei também a aguardar o seu texto com expectativa. E tem toda a razão quando diz que Hergé não está isento de crítica, acrescento, antes pelo contrário! Mas o prazer que a sua obra nos deu e dá, faz-nos ficar um "pouquinho chateados" quando as críticas não são minimamente fundamentadas e muito pouco "honestas" ou, pelo menos, academicamente sinceras!

Anónimo disse...

Como não somos o país das bananas, creio poder afirmar, com toda a legitimidade, que a tese "A invisibilidade do género feminino em Tintin: A conspiração do silêncio", da autoria daquela senhora a quem, por causa deste "excelente" trabalho, deram o grau académico de mestra, Ana Bravo, devia ter a repercussão (negativa) que merece. E apesar de nada mover contra a dita senhora Ana Bravo, acho que a obra devia urgentemente ser retirada do mercado (a menos, que os disparates, e são imensos, fossem emendados). Isto só nos envergonha, a nós, apreciadiadores e amantes da BD.

Pedro Moura disse...

Como será de esperar, não subscrevo de maneira alguma este último comentário. Se não tem nada contra a Ana Bravo, porque indica a possibilidade da censura? Retirar obras do mercado por fazerem parcos serviços a x ou y recorda-me uma época da qual felizmente não tenho qualquer experiência e espero não vir a ter. Como Voltaire, posso não concordar com a opinião de x, mas defenderei o direito de x expressar essa sua opinião. A forma mais acabada de democracia (e de "discussão" intelectual, com Kant) é dar lugar a um discurso dialogante e crítico. Logo, a tese de Ana Bravo NÃO deve ser “retirada do mercado” (aí, sim, confirmado a República das Bananas e suas Regiões Autónomas), mas posta sim sob a lupa de uma crítica séria e directa. Daí que queira que o meu artigo seja publicado num outro veículo (pois sei o que a casa gasta quando se diz "escrevo num blog"), e julgue que o artigo de JPB deva também ter uma exposição bem mais lata.
Mais, e aqui utilizo a sua expressão de um modo lato, não o incluindo ou excluindo, já que teríamos de ser exactos nesse conjunto de pessoas, é precisamente o grupo de “apreciadores e amantes da BD” que menos contribuições académicas e intelectuais desejam para a banda desenhada, preferindo manter este modo de expressão no campo de uma nostalgia febril, de um coleccionismo atroz, ou de uma plataforma de “sonho e fantasia” mole. Aliás, se me é permitida a nota pessoal, basta ver que as opiniões mais negativas em relação ao programa VERBD vêm precisamente desse campo, dos “fãs”, acríticos e muitas vezes analfabetos (quando não acéfalos mesmo), que prefeririam, penso, uma aproximação mais “consensual”, “divertida”, “aventurosa”. É preciso, como escreveu Francisco Sousa, “honestidade e sinceridade”, académica e intelectualmente, para a elaboração de um trabalho ponderado sobre a banda desenhada. De encómios já está o mundo feito. Nesse sentido de equilíbrio e rigor, o trabalho de Ana Bravo peca repetida e substancialmente. E o nosso trabalho é não censurar, mas apontar essa falta de rigor.
Obrigado,
Pedro Moura

Anónimo disse...

Censura não, definitivamente não!
Não façamos a esta senhora o que alguns "iluminados" qurem agora fazer com o "Tintin no Congo"! Aliás os falsos moralismos, cheios do tão actual "politicamente correcto", mais não são que encapotamentos de tendências retrógradas que, elas sim, deviam ser banidas daquilo que queremos que seja uma salutar troca de ideias e convicções mesmo que com pareceres díspares!
Eu por mim, saúdo qualquer trabalho que nos dê mais uma achega para uma melhor compreensão, neste caso, da obra de Hergé e até aqueles que nos sugerem, apenas, o prazer que tais leituras nos provocam. Desde que, mais uma vez o digo, sejam intelectualmente honestos e sinceros nas suas abordagens.
Francisco Sousa

Pedro Moura disse...

Sim, eu entendo perfeitamente a necessidade de se ser exacto nesse trabalho crítico, mas parece-me que jogar toda e qualquer crítica no saco do "politicamente correcto", como quem diz "politicamente fraco" não é também sólido. "Tintin no Congo" é uma obra de contornos racistas e imperialistas, sim, não pode haver dúvidas disso, tal como todos os discursos construídos em muitas das histórias do "Cavaleiro Andante" o são em relação ao império colonial português. E como Camões e Shakespeare e nós vivemos nos limites dos preconceitos que nos cabem. É inevitável. O que importa, e aí concordo consigo, é que não se torne a nossa bitola política contemporânea num instrumento de moralismo aplicado com efeitos retroactivos a outros contextos culturais, e que essa análise ("Hergé é rexista", "Hergé é fascista", etc.) se torne uma espécie de ataque monolítico isento de qualquer tipo de atenção para com os outros aspectos do objecto analisado (no caso presente, nada é dito sobre a tolerância para com a comunidade cigana em "As Jóias de Castafiore").
Novamente, estudar esses aspectos, sim, torná-los contextualizados, sim, mas "proibir", quer a obra original (retirar os álbuns de Tintin do mercado) quer a que estuda (rebentar com este estudo)é sempre perigoso. O que importa é desmontar, desmontar, desmontar...
Seu,
Pedro Moura

Anónimo disse...

Que Tintin no Congo é uma obra com contornos imperialistas e racistas todos o reconhecemos, assim como o próprio Hergé o reconheceu, para além de ser, na minha opinião, a mais "fraca" aventura de Tintin, se exceptuarmos os Sovietes que, de alguma forma, também foi rejeitada poe Hergé. Que Hergé era um homem politica e intelectualmente conservador, profundamente religioso e com alguns traços de misticismo, também me parece evidente. Mas, de qualquer forma, creio que ao "desmontarmos" as suas obras temos que ter em conta o contexto em que as mesmas foram realizadas e não apenas considerá-las atemporais. O mesmo acontece com qualquer outra obra de arte. Podemos, é certo, apreciá-las numa perspectiva intemporal, pela sua beleza intrínseca, mas se as quisermos analisar mais profundamente é fundamental conhecer mais alguma coisa para além da obra em si. Por isso mesmo estou em perfeito acordo consigo quando fala de "ataques monoliticos" desatentos!
A obra de Hergé é riquissima, aliás como o comprovam a imensidão de obras realizadas a partir dela. Todas elas nos permitem "arquivar" mais umas quantas achegas para uma compreensão maior, mas, por outro lado, nem todas (e desculpe-me a repetição) o fazem de forma isenta, honesta e séria. Por isso também concordo, mais uma vez, consigo, há que desmontar e desmontar!
Francisco Sousa