18 de julho de 2013

Anos Dourados. Marco Mendes (Mundo Fantasma)

Serve o presente post para indicar aos mais distraídos, que não acompanhem as notícias de outras plataformas (melhores em anúncios e divulgação), que se encontra em circulação o livro-catálogo dos desenhos à vista de Marco Mendes, alguns dos quais publicados no seu blog, Diário Rasgado, e que estiveram em exposição em Coimbra recentemente.
Este livro tem um design de Virgínia Valente, que inclusive redesenhou/reescreveu à mão um texto da nossa lavra, incutindo-lhe uma qualidade visual dinâmica e significante. Os nossos agradecimentos ao Marco pelo convite e a toda a equipa pelo trabalho.
Uma vez que o nosso texto vai até ao osso deste particular corpus do artista, não faremos aqui qualquer análise, mas ficam aqui apenas dois trechos.
"Estes desenhos parecem ser perceptíveis, inteligíveis. Mas uma obra de arte tem um segredo, ou melhor, ela tem a chave para dizer algo que até ali era indizível, pois só ela, dizendo-o, a torna dizível (nada disto tem a ver com uma assunção logocêntrica destes desenhos, sendo tão-somente o meu próprio esforço em traduzir aquilo que vejo).
Os desenhos de Marco Mendes retratam pessoas, a esmagadora maioria deles. Todos nós concordaremos com muitos dos elementos identificáveis nestes desenhos: um sofá, pessoas, o canto de um televisor, um cabo eléctrico atravessando o chão, objectos em torno. Onde está, todavia, o detalhe, aquilo que Mieke Bal disse ser «a contradição que rasga o trabalho, o elemento monstruoso que revela as falhas e as disparidades e que, por provocar assombro, oferece possibilidades infindas para a [sua] compreensão»?
Está no tempo e no olhar."
+
"Uma das características do trabalho de Marco Mendes é a visibilidade da sua tarefa, a materialidade do processo, negando a ilusão da representação transparente. Se compreendêssemos aqueles rabiscos que fazemos num papel, meio-distraídos, ao telefone ou numa sala de aula, como num dos pólos de um espectro, e a lenta e aturada construção de uma banda desenhada no outro, estes desenhos encontrar-se-iam numa suspensão quase a meio, e onde ambas as forças deixam os seus traços, por um lado no aparente virtuosismo naturalista das figuras, por outro na qualidade de inacabado que as rodeia como um fumo. Mas essas marcas visíveis de inícios interrompidos, as rasuras, repassagens do lápis, os breves traços a caneta ou marcador, como primeiro passo ou apenas negação da brancura do papel, os balões de fala abortados, os rostos riscados, os apontamentos textuais e aqueles outros cobertos de riscos censórios, as marcas de água do papel que emergem da frottage, e até mesmo a assinatura e a data - mas repare-se como parece que todas essas linhas frenéticas incutem um qualquer movimento aos objectos circundantes, ancorando ainda mais os corpos na sua distensão inerte - não apenas aumentam o grau de materialidade dos desenhos como são signo háptico do autor, os pequenos gestos de aproximação, arautos da captura óptica."

4 comentários:

Marco Mendes disse...

Obrigado eu, Pedro, por tudo. Abraço!

Nuno Amado disse...

Olá Pedro
Não é distracção... muitas coisas que saem eu não recebo informação nenhuma. E não sou adivinho...
Gostaria muito de divulgar os livros do Marco Mendes, e de outros, mas também preciso que alguém me dê alguma coisa para isso, ou pelo menos me diga que existe.
Para fazer o lançamento de um livro não peço muito... basta uma capa e uma ou duas páginas, e um texto de apresentação.
Se nem isto me mandam, como querem que se faça a divulgação?

Abraço

Pedro Moura disse...

Olá, Marco. Não vamos começar com um ping-pong de agradecimentos. Abraços.
Olá, Nuno. Bem-vindo. Pela forma como comentaste, presumo que tenhas lido a frase como eu dizendo que são "distraídos" aqueles que têm outros blogs, como o teu, mas não era isso que queria transmitir! Talvez a frase pareça ambígua e vou dar-lhe uma martelada. O que queria dizer era mesmo que os leitores mais distraídos, aqueles que não seguem os blogs mais atentos e rápidos do que o meu - o teu é um deles, mas também o do Cleto, por exemplo, que falou do livro - podiam não saber deste projecto. O aviso é que NÃO se pautem pelo lerbd para saberem de novidades, que ando sempre às arrecuas. Não estava de forma nenhuma a criticar as formas de trabalhar dos outros, e acho que tens toda a razão: se pretendem maior divulgação, há que trabalhar por isso, e espero que outros sigam o teu conselho, convite e disponibilidade do Leituras de BD.
Até breve,
pedro

Nuno Amado disse...

Sim Pedro, "risos", foi o que li na frase dos distraídos. Já me chamaram à atenção que eu não tinha divulgado isto e aquilo, e só divulgava destes e daqueles...
Bem, eu divulgo de quem me manda material de divulgação. Se há editoras que não mandam, não podem estar à espera que eu divulgue. Isto deveria ser lógico, mas parece que não é!

Obrigado pela resposta!
:)

Abraço