tag:blogger.com,1999:blog-7498791.post5053853033317809817..comments2024-03-21T07:34:30.258+00:00Comments on Ler BD: Baratão 69. Bruno Azevêdo e Luciano Irrthum (Beleléu/Pitomba)Unknownnoreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-7498791.post-31289205873337305742014-07-07T10:06:57.077+01:002014-07-07T10:06:57.077+01:00Olá José. Agradeço as palavras, e fico feliz que p...Olá José. Agradeço as palavras, e fico feliz que possa haver algum grau de serviço de divulgação de autores menos conhecidos na nossa praça.<br />Não quero generalizar sobre a "cultura brasileira", uma vez que estamos a falar de um imenso país, com um povo que nunca mais acaba, extremamente diverso de ponta a ponta e que não tem nada a ver com as imagens de "Globoalização" [não é gralha!] que se nos atravessam à frente. Dito isto, e conhecendo o trabalho literário de Azevêdo, sim, poderíamos dizer que ele também é um herdeiro directo da antropofagia, em que se transmutam os elementos através dos géneros. Isto é, o autor mergulha nas matérias mais "bregas" e populares para descobrir formas naturais do absurdo ou mesmo do surrealismo (eu sei que parece um daqueles usos abusivos da palavra, mas não é, há mesmo uma procura por elos inesperados, oníricos, vagos, entre aquilo que o autor provoca).<br />Não sei se estes autores pertencem a "um" movimento. A exposição que organizei no FIBDA tinha um conjunto de autores que partilhavam algumas características do ponto de vista político, urbano, etc. Azevêdo também não deixa de fazer política, mas os seus instrumentos são menos o naturalismo e a observação de reportagem (mesmo que passada pela fantasia, como alguns dos outros autores) do que a mais desgarrada das comédias. <br />Quanto ao uso dos balões por Irrthum, essa associação a Sacco não é displicente de todo, mas onde o repórter procura uma fragmentação da oralidade, a urgência do discurso e a forma traumática do que se testemunha, eu aproximaria mais este uso ao de um Francis Masse, em que os balões assumem uma forma orgânica com "peso" interior à diegese, como se se tratassem de objectos que sofressem a mesma gravidade que os restantes objectos da história, ou então das falas "débordantes" de um Achille Talon... Seja como for, o que é curioso é que o artista não procura uma solução "elegante" para integrar os balões enquanto veículo do discurso nas suas imagens, mas faz antes uma distribuição das formas quase simétrica. Veja-se a segunda página que mostro e reduza-se os balões e o resto a formas simplificadas: veremos um quase perfeito equilíbrio, quase de yin/yang, à la onda de Hokusai, entre umas e outras...<br />Quanto aos Hernandez, não me parece. A paisagem pode até ter algumas afinidades, mas não as gentes. A melancolia de "Palomar" não aguenta onde vivem rios de cachaça, oitão nas carça, corno na sanfona e quenga, né?<br />Pedro<br />Pedro Mourahttps://www.blogger.com/profile/13850102500313668884noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7498791.post-50193292798488413012014-07-06T20:12:12.138+01:002014-07-06T20:12:12.138+01:00Olá Pedro,
Excelente texto e, como sempre, muto o...Olá Pedro,<br /><br />Excelente texto e, como sempre, muto obrigado pelo grande serviço (ao) público que prestas a todos, e não só neste sítio, ainda mais coma uma impressionante regularidade e qualidade pouco comuns. A banda desenhada merece o reconhecimento da importância e influência que teve na história da arte deste século e do anterior, só podendo chegar a essa merecida "homenagem", por divulgadores inteligentes e extremamente bem preparados dos seus grandes artistas e escritores, sendo tu em português, na minha opinião, o nosso primus inter pares, salvaguardando toda a estima que tenho por todos os outros blogueres e pela qualidade do seu trabalho.<br /><br />Quanto ao Baratão, não posso terminar os elogios ao teu texto sem referir o final brilhante do ultimo parágrafo, quase uma excelente voz em off de narração da última cena do livro. Não posso concordar mais contigo, se te compreendi bem, livros destes são muito úteis para encurtar as distâncias entre as pessoas e aproximar as moscas aleixianas das carecas dos doutores. Não trará certamente a aproximação das leituras do tintin dos 7 aos 77 anos, mas ajudará muitos que se julguem com menos de 68 ou mais de 70 a deixarem-se de peneiras :-) <br /><br />Pode ser exagero meu, mas parece-me um fenómeno recorrente da cultura brasileira pegar nas correntes artísticas internacionais dominantes e transformá-las, com um valor acrescentado, em movimentos originais em si mesmos, por vezes produzindo ricochetes criativos infelizmente na maior parte das vezes periféricos, ou circuscritos à América Latina. Desde logo, recordo-me do movimento antropofágico na pintura e na escrita e o movimento tropicália na música e nas artes performativas. Também na BD, nas décadas de 80 e 90 apercebi-me do surgimento de vários criadores que acrescentavam originalidade, ou pelo menos criatividade aos modelos anglosaxónicos importados, dos quais são bons exemplos os personagens brasileiros da Disney que já abordaste em profundidade, mas também a revista MAD brasileira que me parece não ser muito ousado dizer chegou a ser durante a maior parte da sua existência superior à Americana. Não esquecendo aqui os ainda quentes Angeli e Laerte e algumas produções urbanas do tipo "Tarja Preta".<br />Talvez esteja equivocado pelos meus fracos conhecimentos do fenómeno, mas quem sabe não se adivinha um movimento ao nível da BD em português do Brasil instalado há mais de duas décadas que ainda estará por identificar 8um desafio?) do qual estes exemplos abordados na tua entrada, por exemplo, poderão ser um ramo. Ou então isso já foi feito...<br /><br />Quanto aos desenhos, chamou-me a atenção a dimensão dos balões e o seu envolvimento sufocante entre as personagens. Fazem-me lembrar o estilo promovido nas "crónicas dos colonatos" do Joe Sacco, que parece servir para o leitor compartilhar o stress emocional omnipresente à diegese daquelas histórias, efeito que resulta contrário, discorrendo das tuas palavras, para o artista presente. Talvez este nordeste brasileiro esteja mais para os lados duma Palomar do Hernandez. Ou não?<br /><br />Obrigado e Abraços,<br /><br />JoséJosé Sánoreply@blogger.com