17 de setembro de 2004
Broderies. Marjane Satrapi (L’Association)
Satrapi abomina que a encerrem nesse inexistente género e aprisionante preconceito político da banda desenhada (e de tudo o resto) conhecido como "feminina". E chega mesmo a recusar convites que a integrem em exposições da "criação feminina" desse modo. Não obstante, a autora do ainda não sobejamente conhecido Persepolis resolve revisitar o território das memórias, estas últimas mais recentes, sob o signo exclusivo da mulher. Mais, um grupo de mulheres iranianas, que fala de tudo e mais alguma coisa, de narizes, coisas várias que se cosem, chá, chaves, fugas, mas sobretudo de homens, sejam eles amantes ou maridos, amados ou odiados. O estilo continua simples, a preto e branco, o que não impede Satrapi de nos ofertar com soluções extremas e constantemente surpreendentes num livro feito sobretudo de diálogos. Para um público exigente e aberto à mais pessoal das expressividades, Broderies (Bordados) serve muitos objectivos: aproximarmo-nos de uma realidade que não nos é familiar (o Irão das últimas décadas), abalar as diferenças (o que move as mulheres é universal), alertar-nos (da Internacional Machista) e até mesmo fazer-nos rir com momentos tristes.
(publicado em Mondo Bizarre no. 20)
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