14 de outubro de 2005

Jack Cross & Desolation Jones. Warren Ellis et al. (DC/Wildstorm)


Warren Ellis pertence à segunda leva de autores britânicos na indústria do mainstream norte-americano. Tendo já uma longa fileira de títulos, nenhum deles chega ao ponto de interesse e inovação de um Alan Moore ou um Neil Gaiman, nem sequer à loucura atípica de Grant Morrison, mas a sua dimensão fortemente politizada em relação à contemporaneidade garante uma faceta curiosa mesmo quando trata de grupos de super-heróis (desde Stormwatch a The Authority, agora nas mãos de Brubaker).
Estes dois títulos também não são a primeira experiência de Ellis no campo do hardboiled, com espiões, agentes secretos e muitas armas de fogo (e o ocasional zombie satânico), conforme outros títulos anteriores publicados em (sub-)editoras, usualmente com desenhadores de terceira categoria e que tornavam a obra, já na sua parte narrativa fraca, em francamente pobres exemplos, ou melhor, excelentes exemplos de maus, feios e fáceis comercialismos. Exemplos: Scars, Strange Killings, Red.
Estes dois títulos, portanto, são um pouco mais merecedores de atenção e seguimento. Jack Cross é interessante na medida em que retrata parte da paranóia norte-americana em defesa, e na quantidade de caixas chinesas que as variadíssimas agencies e bureaus constituem, perfazendo um intricado mapa em que, a dado ponto (ou nível de segredo), já não dá conta de hierarquias, direcções, controlo. Se o lema de Watchmen era “quem vigia os vigias?”, aqui deveria ser “quem mente a quem?”, pois é esse o cerne da política dos nossos dias.
Quanto a Desolation Jones, ainda há muito para revelar, mas basta dizer “vampiro em busca em de filmes porno de Hitler” para ter uma ideia da profundidade intelectual e existencial deste título... Bom, pelo menos é divertido.
O desenhista de Jack Cross é Gary Erskine, cujo controlo e certa inexpressividade já nos servira The Filth, de Grant Morrison. É um desenhador extremamente convencional, sem grandes originalidades (vejam-se as dobras amarrotadas das camisas ou os dedos das mãos e pense-se em Geoff Darrow), mas essa escolha editorial não é má de toda para transportar esta história de uma estranha tensão, mais interna que relacionada com as acções retratadas.
Desolation Jones conta com a arte de J. H. Williams III, que após uma longa carreira em títulos do mainstream de super-heróis, se apresentou a um mais amplo público com a Promethea de Alan Moore, na qual mostrou ser capaz de estar à altura do projecto mais interessante dos últimos tempos (em termos visuais inclusive) do grande criador britânico. É um pouco mais convencional no arranjo das vinhetas, como não poderia deixar de ser, mas entregando-se a excepções que por isso se tornam mais significativas (veja-se a splash page, quase no final do #1, em que Jones ataca Wood).
Um caso banal, mas como disse merecedor e legível para os fãs do género... Que género? Não me parece que de hardboiled, já que a água evaporou há muito e a chapa está vermelho incandescente. Posted by Picasa

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