6 de novembro de 2005

Nemo no Século XXI. AAVV (Geraldes Lino)


Para além ou com o jazz, Nemo no Século XXI, reúne 18 pranchas que homenageiam a obra-prima (uma das provas de que a banda desenhada dispensa qualquer tipo de comparações com outras artes quando precisa de falar de potencialidades bem expressas e concretizadas) de Winsor McKay, Little Nemo in Slumberland. Como será de esperar, por todas as circunstâncias e atenuantes, não estamos perante 18 excelentes trabalhos, mas todos eles são, pelo menos, competentes e bem acabados. Não há nada de “amador”, num sentido algo pejorativo desta palavra.... Mas também não encontro nada de brilhante, mesmo daqueles autores que têm uma experiência invejável ou um ritmo de produção/publicação francamente bom.
A maioria das histórias alia a ideia aos conceitos de “sonho” a “quimera” ou “utopia”, na sua acepção sócio-política: Ricardo Ferrand, Zé Manel, José Carlos Fernandes, Jorge Coelho, Manuel Souto, mais levemente Carlos Moreno e acrimoniosamente Manuel João Ramos. Outros optam por marcar a efectiva efeméride em questão, Carlos Moreno e Carlos Marques, e de um modo subtil, Mota. Existem também os esperados cruzamentos com a realidade portuguesa (Ferrand, Zé Manel, Ricardo Cabrita, J. Morim, Moreno, M. Souto), outros géneros como a ficção científica ou o erótico (J. Mascarenhas no primeiro, Álvaro no segundo, e Pepedelrey em ambos), e, claro está, a plasticidade própria do sonho, com as histórias de Susa Moneiro, Rui Lacas, Paulo Monteiro e Pedro Nogueira. Quanto a mim, que a mim me cinjo, a minha preferência recai nesta última “família”, pois são, pelos menos plasticamente, as mais interessantes pranchas da colecção. Acrescentando ainda a de M. Souto, que, talvez pela proximidade de mais uma provação nacional, a de escolher o Timon... perdão, Presidente da Repúbica, se torna particularmente mordaz. De facto, fosse apenas uma indigestão de sardinhas... (“e de plástico, que seria mas barato”, diria O’Neill).
No geral, é uma edição interessante, válido e louvável, mas é também uma prova de que muitos dos autores (jovens ou não, pouco importa a distinção) ainda não são capazes de produzir trabalhos de uma espontânea e tangível qualidade quando “por encomenda”... De acordo com o editorial, presume-se que a Efeméride (o verdadeiro título da publicação?) seja uma publicação regular, marcando, como diz, as “datas redondas”, e homenageando figuras incontornáveis na História da Banda Desenhada. Posted by Picasa

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