
A personagem Fato-de-Macaco, de Rui Gamito, já havia sido apresentada numa outra história, publicada na colecção Lx Comics da Bedeteca de Lisboa (no. 8). Tal como esta aventura agora, O Símbolo, também essa outra era um pastiche dos mais variados géneros da cultura pop e pulp e até pimba. Mas se Fato-de-Macaco (Lx Comics) era um exercício relativamente linear e sem grandes sombras e projecção de significados, apenas o puro prazer de seguir a sequência, Fato-de-Macaco. O Símbolo, apresenta uma pequena dobra que o faz ganhar uma outra dimensão.
A personagem já parece querer dizer muito: precisamente por não dizer nada. Quer dizer, o corpo parece baseado numa mistura entre Conan, o Bárbaro, agentes secretos e o Bruce Willis de todos os filmes acerebrais que faz. Em O Símbolo, depara-se com a ameaça trazida por Ferdinand C. (baseado física e – a modo parcial – filosoficamente no Unabomber), e apenas lhe dirige ora questões, ora afirmações inócuas, ou frases banais de herói... O combate que se dá a punhos e explosões parece servir apenas de pirotecnia histriónica para sublinhar o erro de ambas as partes: as de Ferdinand C. em acreditar que é uma “revolução” que trará a consciência imediata a uma vida mais plena junto às pessoas, o herói, como todos os heróis, em querer manter o status quo (que parte de mãos misteriosas...) mesmo que isso lhe custe o seu próprio discernimento. O símbolo, afinal, é ubíquo e não esconde nada: a inércia das nossas vidas está arreigada a um ponto profundo.


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