26 de dezembro de 2006
O Hábito faz o Monstro #s 5 e 7. Lucas Almeida.
Já aqui havia falado deste fan, digo, zine, cujo mentor é sobretudo Lucas Almeida, apesar de surgirem trabalhos de outras pessoas (ou pseudónimos?). A atenção ao seu trabalho desdobra-se para além das arenas habituais, quer por ter ganho há pouco tempo o prémio dos Jovens Criadores na área de bd/ilustração, e por surgir como uma das “promessas para 2007” num artigo da revista do Expresso de 30 de Dezembro do ano a acabar.
Se o formato continua o mesmo, apesar da numeração soluçante (seguem-se agora apenas números primos), o conteúdo mostra-se bem mais variado mas sob o mesmo signo de liberdade dos melhores zines.
O número 7 é o que apresenta, até agora, aquela que me parece a maior e mais sustentada história da personagem-avatar do autor, o “Jovem”. Como se lerá na nota final, nasce o texto, um tecido de várias considerações sobre o amor, de um trabalho escolar do autor. A sua aplicação às aventuras desta personagem torna essas mesmas considerações ora em verborreia a ridicularizar ora numa lição sustentada por quem a apresenta (o demónio) ora numa lição negada pelo Jovem confuso... Nesse aspecto, recorda aquelas enormes notas criadas por Chester Brown em I Never Liked You, por exemplo. Mas a mistura de níveis e de tons, entre a profunda reflexão verbal sobre um complicado (se não o mais complicado) sentimento humano e a paródia das acções, também nos poderá remeter para os trabalhos de Miguel Carneiro, com o seu Sr. Pinhão.
A história de Johny Nero de João Alves, no número 5 (o número do “hálito” e “vómito”), é muito perturbadora, pois parece-se estar de alguma forma a falar da própria história que estamos a ver, e até sobre os propósitos dos desenhos e dos seus significados. Há um momento em que a personagem feminina (apenas o identificamos assim pelo penteado e as roupas, pois esta apropriação de uma outra banda desenhada apaga os rostos e transforma-os numa papa que pinga) aponta para uma folha – no interior das folhas que agarramos e lemos - totalmente a branco e diz “esta imagem bizarra.../...diz.../...tudo!”. Exacto!
A criação de imagens díspares e de objectos que se tornam de difícil categorização parecem não dizer nada, mas a sua bizarria são o mais comunicante possível.
Nota: para contacto, o email mantêm-se: lucasmalucas@hotmail.com
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