29 de julho de 2007

Locus. Mauro Cerqueira (auto-edição)


É curioso que mesmo num tempo onde a esmagadora maioria dos jovens artistas esteja mais preocupado com as (pífias) questiúnculas de “originalidade” e “fama”, e entregues às novas velocidades comunicativas e dispersão de atenção, existam entre alguns dos seus intervenientes aqueles que têm tempo e interesse em revisitar as suas próprias histórias e memórias, por mais recentes e “ultrapassadas” que estejam. "Para que não fique esquecido", reza o índice.
Locus é um fanzine quadrado de pouco mais que uma dúzia de páginas cujo objectivo principal é servir de epitáfio a uma banda de heavy metal de garagem de Guimarães, da qual Mauro Cerqueira fez parte (vocalista). O aspecto musical está presente na inclusão de um CD (garage session) e noutro local.
Se bem que não seja “my cup of tea”, convenhamos que para quem escutou alguma vez – i.e., atento às letras, ao ambiente e até mesmo à imagética, logo, imaginário criado – uns Iron Maiden ou uns Slayer, entenderá que os lados mais negros e pesados do metal namoram algumas das facetas mais egoisticamente deprimidas (Robert Smith larga o metal, mas não a “duprê”) da existência humana. Isto é, contemplam-se o suicídio e o próprio funeral para depois se poder ser mais amado enquanto vivo. Mima-se a morte para se afirmar mais o facto de que apenas vivos o podemos fazer.

Todos os ingredientes se encontram aqui: noites sombrias, monstros, deusas góticas, morte adiada ou regresso de cadáveres q.b., necrofilia ou assassínio, Bocage e Böcklin, títulos sugestivos... O nome Locus (quer do zine quer da banda) destilar-se-á de locus horrendus, um dos mais conhecidos e empregues topoi do Romantismo europeu, cuja função era criar um ambiente perturbador e onde as fronteiras da dor e do prazer se esbateriam, tal como nas do grotesco e de um apreço pela mortalidade humana. Por razões que julgo serem claras na experiência deste Locus preciso, essa perturbação, esse terror, esse confronto com o horrível, acaba por se esbater na claridade quer do gesto editorial quer dos novos desenhos de Mauro Cerqueira. A procissão de mortos-vivos que se apresenta nas primeiras páginas acaba por ser menos um Triunfo da Morte e aproximar-se de um desses carnavais a que James Ensor nos habituou...
Notas: agradecimentos a Mauro Cerqueira pelo zine. Para compras ou outras informações, ler o anterior post sobre Cerqueira ou ir ao myspace da banda (ver link).

3 comentários:

  1. esta fanzine é mesmo fixe e o vocalista da banda tem uma voz linda e sensual!

    oi pedro!

    tou mt contente por teres gostado!
    obrigado e até breve!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Foi um projecto para ficar em historia, desde o intiuito conceptual do fundador até à fusão unica de 6 jovens numa procura de experimentalismo musical. Locus, um movimento classico, transposto e vivivo numa geração mais recente. Deixo-te aqui algo para relembrar "In Locus memorial(faixa 3)"
    http://www.myspace.com/conquersounds
    Abraço! João

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