Serve o presente brevíssimo post para dar conta de um texto, misto de colecção de apontamentos e de ensaio, em torno da personagem Zé Carioca, que foi publicado na revista de estudos de cultura latinoamericana Nuestra América no. 5, órgão associado a um grupo de professores e investigadores de várias instituições de vários países, mas mais estritamente associado ao Núcleo de Estudos Latino-Americanos e ao Centro de Estudos Culturais, da Linguagem e do Comportamento, da Universidade Fernando Pessoa.
O convite foi feito pelo Professor Rui Torres, a quem desde já agradeço, e, apesar da natureza da revista ser forte e rigorosamente académica, não cumpri da melhor forma esse princípio, apresentando antes um pequeno passeio de considerações. Julgo que o título, apesar de longo, é claro: Para um estudo do desenvolvimento de Zé Carioca: de personagem-tipo a personalidade. A viragem de Sindenberg e Canini.
Depois de um breve historial da origem desta personagem, quer nas suas primeiras aparições nos filmes de animação quer nos livros de banda desenhada dos anos 50 - mas sempre com um seguimento de leituras estéticas -, advogo que ao contrário de uma percepção mais comum, a de que esta personagem é um mero cliché do "brasileiro" (aliás, do carioca), a dupla de Ivan Saindeberg, nas histórias, e Renato Canini, nos desenhos, num período entre 1971 e que se estenderia até meados dos anos 80, transformá-lo-ia numa personalidade de pleno direito, com toda uma série de estratégias narrativas e visuais que tornam as suas histórias (quase cem entre a dupla, se bem que cada um trabalhasse a personagem com outros colaboradores) memoráveis - ainda que no seio da produção de banda desenhada infanto-juvenil, de escapismo, de humor "feel good", do império Disney...
Na verdade, mesmo no interior dessas histórias, há sempre pequenos pormenores que escapam à "visão oficial", como os pequenos retratos urbanos, não-narrativos, com que Canini contribuía, muitas vezes relegando as personagens principais a meras silhuetas ao fundo, e colocando em primeiro plano cenas urbanas contemporâneas, sem quaisquer comentários e, por isso, mais efectivas. Já para não falar do estilo "feiúra" de Canini, que tantos inimigos fez como fãs sobrevivendo nos nossos dias.
Num outro plano, tento analisar a recorrência de certas camadas passíveis de interpretação cultural que recaem na construção dessa personalidade: os conceitos de máscara, de sósia, de variação, desdobramento, e ainda as noções de espaço (interior, exterior, urbano, favela, etc.) e papel/estação social explorado pela dupla.
Enfim, uma mais ou menos superfical incursão em território do gibi brasileiro, e desta personagem que ainda tem muito potencial de estudo, havendo sido alvo, segundo informações recentes, de algumas teses académicas.
Entretanto, este artigo tornou-se disponível online, aqui.
Nota: este texto tem o apoio de uma pequena bibliografia mais ou menos especializada, inclusive da impagável base de dados inducks, mas nada seria de uso sem o apoio de Fábio Zimbres e Edson Dias Ferreira.
Para além de reiterar os agradecimentos a Rui Torres, gostaria ainda de os estender a Daniela Duarte.
Amigo, gostaria muito de ter acesso a esse artigo para publicá-lo no cabruuum.blogspot.com
ResponderEliminarSeria possível?
Grande abraço.
Caríssimo Augusto Paim,
ResponderEliminarAgradeço o seu vivo interesse, mas por razões que julgo serem claras (exclusividade da revista, tamanho e natureza do texto, e interesses editoriais), vejo-me obrigado a declinar o seu convite.
Mas fica a apreciação do seu gesto, sinceramente!
seu,
pedro moura
Desde puto que amo os Cariocas do Canini! O seu contributo para essa personagem equivale ao que Barks deu aos patos!
ResponderEliminarJosé Abrantes