17 de abril de 2011
O Capuchinho Vermelho. Louise Rowe (Presença)
O que é preciso é começar 4.
A última classe de livros de que falaremos neste conjunto é um descritor que na verdade pode abarcar outras tantas classes: o pop-up. Enquanto livro mecânico, são os mais comuns, mas isso não diminui de forma alguma o fascínio que exercem.
O primeiro destes livros é algo desequilibrado no seu valor. A organização das imagens em relação ao texto que comporta, e o próprio texto, não é das mais conseguidas. Esta versão do Capuchinho Vermelho não traz qualquer dimensão criativa em relação às mais conhecidas e empregues, desde aquelas que mais respeitam a origem violenta e medieval desse famoso conto (talvez o mais famoso) até mesmo as versões mais delicodoces disneyescas… Não há qualquer pesquisa estrutural, frásica, rítmica. A relação entre as imagens e os textos é fraca, e mesmo a maneira como elas saltam de uma perspectiva para outra não implica escolhas fabulosas.
O que valoriza este livro é a própria matéria que compõe essas imagens, apenas 6 por cada página dupla, e essa é magnífica. A escolha por uma paleta extremamente reduzida, entre castanhos, vermelhos e ocres, baços, e largas manchas de branco, assim como por texturas ricas e várias para dar conta dos objectos - os veios das folhas de árvore, o telhado da casa, o pêlo do lobo, o vestido com capuz da protagonista, as tábuas do soalho - incutem o tom, obviamente desejado, de outonal e melancólico que se pretende dar a esta história. Mesmo que não haja uma mudança no final - por exemplo, usando cores mais vivas no desenlace - esse ambiente é coeso no livro, e os elementos de papel, as florestas que se erguem, a casa sólida e pequena da avó rodeada pelo lobo, e o pequeno corvo na chaminé, os caminhos que ligam todos os passeios possíveis das personagens, o enorme focinho voraz do lobo de órbitas vazias (e ainda mais assustador por isso), tornam a sistemática abertura deste livro num pequeno exercício de maravilha.
E, com boas estratégias de ignorar a leitura do texto impresso mas a procura por modos pessoais de contar a história, aliadas à performance com estes mecanismos de papel, tornarão eventualmente este Capuchinho numa experiência inesquecível e marcante.
Nota: agradecimentos à Catarina, Gilberto e Manuel pelo empréstimo do livro.
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