Tentar encapsular toda a actividade da arquitectura numa só definição é uma tarefa impossível (talvez até indesejável), que tanto se pode conformar ao seu lado mais conceptual e artístico, no sentido de esculpir o espaço com uma linha, ou aos aspectos imediatamente relacionados com as responsabilidades materiais e sócio-económicas do projecto. Afinal, quando usamos o verbo “arquitectar” estamos a referir-nos a uma maneira particular de pensar, que toma em conta tanto circunstâncias e pontos de partida como de objectivos particulares, o que a poderia afastar dos conceitos mais livres, sem regras, da mais usual das actividades artísticas ou de expressão. Assim se compreende que em determinados sistemas filosóficos que organizaram e sistematizaram as artes, a arquitectura possa ter ficado de fora (como no caso de Schopenhauer). (Mais)
26 de novembro de 2012
23 de novembro de 2012
Critical Approaches to Comics. Theories and Methods. Randy Duncan e Matthew J. Smith, eds. (Routledge)
Este livro encontra-se no seguimento de um anterior projecto de Randy Duncan e Matthew J. Smith, a saber, o seu The Power of Comics: History, Form and Culture. Mas onde esse outro livro era escrito pela dupla, e tinha um fito introdutório ao estudo de banda desenhada, no seu plano académico (já) possível, este novo projecto reúne 21 ensaios de vários investigadores e escritores (inclusive, naturalmente, os próprios Smith e Duncan), cada um dos quais procura estabelecer os instrumentos mais correctos e específicos a uma das dimensões analisáveis desta linguagem. Como os próprios explicam na entrevista que lhes fizemos (ver no fim deste post), este livro poderia ser utilizado durante um curso universitário, como uma espécie de manual concentrado, ajudando assim os docentes e os discentes a encontrarem num só volume toda uma série de questões pertinentes. (Mais)
21 de novembro de 2012
Asteroid Fighthers 2 e Hän Solo. Rui Lacas (Asa/Polvo)
Não haverá dúvidas aos leitores destes livros, e da obra de Rui Lacas em geral, que este é um autor capaz de navegar as mais diversas águas dos géneros da banda desenhada, adaptando-se a eles e fazendo inflectir as suas ferramentas de construção narrativa, composição e ritmo, e até mesmo os instrumentos gráficos. Tal não significa, porém, que todas as suas conquistas sejam efectivas do mesmo modo. (Mais)
19 de novembro de 2012
Odisseia Negra. Valentino Sergi, Jorge Coelho et al. (Passenger Press)
Apesar de estarmos a
utilizar para descritivo geral um título em português, como se vê pelas fotos
da capa este é um projecto na verdade em três outras línguas: italiano, francês
e inglês, partindo de um núcleo editorial italiano. Valentino Sergi é, conforme
indicado na ficha técnica, quem o idealizou e é possivelmente quem escolheu os
argumentistas e os artistas, assim como a forma geral do projecto. O livro
aparece como uma caixa de cartão, cintada, no interior da qual se encontram
três fascículos (apenas um caderno, impresso a preto sobre folhas coloridas de
gramagem espessa: azul bebé, amarelo torrado e um rosa com mais ciano), contendo
cada um deles um dos três capítulos ou sub-histórias desta saga. Por ordem, são
eles: Odissea Nera (em italiano,
obviamente), escrito por Alessandro Cremonesi e desenhado por Christian G.
Marra (que é o editor da Passenger); Black
Odyssey (inglês), escrito por Sergi e desenhado por Jorge Coelho; e Noire Odysseée (francês), escrito por Adriano Barone e desenhado por
Alain Poncelet. No entanto, todos os fascículos, estando a mancha de banda
desenhada em cada uma das línguas respectivas, apresenta uma tradução nas
outras línguas no friso inferior. Sendo todo o projecto uma versão da Odisseia, as línguas não deixam de poder
fazer sentido no interior desta matéria diegética, se imaginarmos que por cada
paragem da viagem de Ulisses ele se encontraria com povos de línguas
diferentes, ou dialectos distintos, como o ático, o iónico, o aeólico ou o
lésbico (não é piada). (Mais)
18 de novembro de 2012
Abstract City. Christoph Niemann (Abrams)
Aquilo que pode ser
englobado pela denominação “ilustração” não pode ter, e cada vez terá menos,
contornos espartilhados. Ela não tem de se ancorar necessariamente a textos
prévios nem tem de obedecer a determinadas regras materiais (que, de resto,
nunca foram muito certeiras). Há, porém, gestos que conseguem subverter ainda
algumas das ideias que se poderiam firmar para empurrar as fronteiras em
direcções novas, mais ou menos misturadas com outras disciplinas e categorias
que podem fazer sentido para começar a criar um discurso em torno delas, como
por hipótese “o design” ou “a arte”, mas rapidamente esgotam a sua pertinência
face às experimentações possíveis. Tais são os gestos de Christoph Niemann. (Mais)
16 de novembro de 2012
"To Find Places to Draw". Ensaio na Reconstruction.
O segundo artigo (da dupla indicada) está escrito em língua inglesa e foi incluído no no. 12.3 da Reconstruction. Studies in Contemporary Culture, cujo número especial tem como tema (In)Securities e foi editado por Susana S. Martins e Susana Araújo.
O título deste artigo é "'To Find Places to Draw': Comics' Resistance to Insecurity", e que repesca elementos empregues na nossa leitura de Viva la Vida!, de Baudoin e Troub's, Faire le Mur, de Maximilien Le Roy, e L'Inscription, de Chantal Montellier, re-integando-os num todo coeso e sob o signo das discussões centrais no artigo.Está disponível aqui.
Os nossos agradecimentos às duas editoras, pela paciência e apoio, a Miriam Sampaio, pela revisão de texto, e aos blind reviewers, pelos conselhos e críticas pertinentes, nem sempre acatados da melhor forma por nós, que insistimos em certos erros.
"A voz do oud". Ensaio na estrema.
Por feliz coincidência, é no mesmo dia que se tornam disponíveis dois artigos académicos da nossa autoria que, apesar das diferenças temáticas e de alguma metodologia, se coordenam entre si enquanto "ensaios gémeos" (como repararão pelo coincidente parágrafo inicial e alguns dos instrumentos e referências). O primeiro, em língua portuguesa, encontra-se disponível online no site da estrema: Revista Interdisciplinar de
Humanidades.
Trata-se de um projecto de alunos associados ao Centro de
Estudos Comparatistas da FLUL, que publicará trabalhos desenvolvidos sobretudo
nos seminários afectos a essa instituição, apesar de estarem igualmente abertos
a colaborações provindas de áreas contiguas.O nosso artigo intitula-se
(brace yourselves!), "A voz do oud. Criação de espaços multiculturais e
a reinvindicação da voz ao 'outro' na banda desenhada francófona contemporânea",
e que aborda sobretudo as obras dos autores Farid Boudjellal e Kamel Khélif.
Trata-se de um texto desenvolvido no seminário de António Sousa Ribeiro, Temas e
Conceitos de Teoria da Cultura (inserido no Programa de Estudos Comparatistas, e
ministrado no 1º semestre de 2011-2012), tendo por isso necessariamente que
atravessar uma construção contextual das obras analisadas e um discurso balizado
em referências bibliográficas denso.
Agradecimentos ao Prof. Dr.
Sousa Ribeiro, aos colegas de seminário, sobretudo Bruno Henriques, e aos
blind reviewers, apesar de não termos corrigido todos os erros e
incompletudes apontados.
Poderão aceder directamente ao artigo em pdf aqui.
Ensaio do Vazio. Carlos Henrique Schroeder et al. (7letras)
Baseado no romance homónimo de Carlos Henrique Schroeder
(de 2006), “este” Ensaio do Vazio é
um projecto que reúne um conjunto de cinco artistas para criarem uma adaptação
em banda desenhada. Esse aspecto colectivo insufla-lhe, logo à partida, uma
dimensão pouco usual, mas apenas a sua consideração cuidada poderá desvendar se
se trata de uma conquista de novas potencialidades ou se, bem pelo contrário,
acaba por criar obstáculos na sua fruição. O aspecto colectivo é multiplicado
pelo facto de, editorialmente, ser uma junção entre três casas, a saber, a 7
Letras, a Editora da Casa e a Design Editora. É esta última, pensamos, que terá
tido a parte de leão em termos de coordenação, convite e distribuição. (Mais)
15 de novembro de 2012
Lynda Barry. Girldhood through the Looking Glass. Susan E. Kirtley (University Press of Mississippi)
Esta é uma monografia académica dedicada exclusivamente à obra da autora de banda desenhada (mas não só) norte-americana Lynda Barry, sobretudo através de um filtro específico, que tem a ver com a representação - figurativa, actancial, social, sexual, política, filosófica - das raparigas na sua obra. “Visualizing girlhood”, como se escreve na página 22. Sendo, como é hábito repeti-lo, o campo dos estudos da banda desenhada relativamente jovem, não é de estranhar que muitos aspectos prementes ou autores importantes não tenham sido ainda alvo de estudos específicos. Se é verdade que Barry já foi alvo de muitos artigos, e é inclusive uma das autoras eleitas por Hilary Chute no seu Graphic Women, ela era merecedora de um estudo como este. (Mais)