Gostaríamos de ajudar a divulgar um MOOC (Massive Open Online Course, ou Curso online massivo livre) ministrado por Christina Blanch, da Ball State University, cujo currículo inclui o estudo de banda desenhada e de estudos das mulheres (Women Studies): correspondentemente, o curso será sobre género e banda desenhada. Quase todas as informações que deixaremos aqui estão disponíveis no inglês original, no link indicado abaixo, mas desta forma poderemos ajudar a que se torne mais claro junto a mais pessoas.
Esta parece-nos ser uma oportunidade curiosa, dado que se trata de uma experiência inovadora em relação ao ensino à distância, apesar de levantar alguns problemas (já indicados por algumas pessoas) sobre o seu impacto económico, social e educacional em relação às estratégias mais normalizadas. Isto é, o facto de ser um veículo que disponibiliza informação gratuitamente a um número assombroso de pessoas, mesmo estando associado a uma série de processos típicos de um ambiente de ensino (escrita de trabalhos, discussões balizadas, leituras orientadas, etc.), pode não significar automaticamente melhor ensino ou um avanço efectivo dos conteúdos académicos possíveis.
Neste momento, o programa pormenorizado do curso ainda está a ser trabalhado, mas estará disponível em breve. Descritivamente, tratar-se-á de um curso sobre "como é que a banda desenhada [a palavra empregue é "comic books", remetendo a um pólo de produção muito particular, e não a "comics" em geral] pode ser usada para explorar identidades, estereótipos e papéis de género/sexuais". Uma outra frase, que diz pretender "abordar questões sobre representações e construções de género envolvendo homens e mulheres", parece afunilar desde logo a questão aos papéis da heteronormatividade, mas talvez as questões possam vir a abrir-se mais com as leituras a fazer. Seria bom compreender desde já se a hipersexualização dos super-heróis será tratada, abordando o típico desequilíbrio entre os uniformes dos heróis (que lhes cobrem o corpo todo) e heroínas (que revelam estrategicamente partes do corpo), ou mesmo da figuração (protuberâncias mamilares perfeitamente esféricas e em circunferências superiores às cabeças, desafiando a gravidade, traseiros que independentemente da posição de combate ou de descanso são apresentados ao olhar, etc.), ou como é que determinados assuntos, como as emoções, a biologia, as expectativas, são distribuídas, mas nada disso é (ainda indicado). Já para não falar de que há um notório desequilíbrio entre desejo e fantasia nestas distribuições, mesmo no interior de uma economia exclusivamente heterossexual ("corpos de mulheres enquanto objecto de desejo sexual", "corpos de homens enquanto fantasia do si"). Desta forma se justificam as imagens escolhidas para este post, recolhidas aqui e aqui. Um dos "trunfos" que o curso apresenta - passe a forma espectacular e dramática com o que o vídeo anuncia a coisa - é o conjunto de entrevistas anunciadas com alguns dos escritores e artistas mais famosos do momento. O facto dos nomes até agora badalados serem os de Brian K. Vaughn, Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman, Jason Aaron, Scott Snyder, Matt Fraction e Mark Waid - que anunciou de forma bombástica este curso no seu site -, aliados às estratégias visuais de publicidade do curso, e sublinhando a forma como é descrito, apenas sublinha mais uma vez essa ideia de normalização: são todos homens e escritores de títulos quase sempre da indústria mainstream de super-heróis, ou variações. A associação a nomes tais como os de Gail Simone (mulher, mas autora da DC, que quase sempre é usada pela indústria para afirmar "há mulheres que escrevem super-heróis") ou de Terry Moore (autor da esfera independente, e da saga Strangers in Paradise, que explora de forma muito moldada as questões da sexualidade no seu confronto com as expectativas sociais, educacionais, etc.) parecem aumentar o escopo das questões, mas não o suficiente, a nosso ver. As questões (hipotéticas, ou já planeadas?) que Waid coloca, "qual é a personagem de banda desenhada mais masculina?" ou "porque é que o Homem-Aranha já não é casado?" podem até fazer prever o pior. A ausência de nomes tais como os de Alison Bechdel, Gabrielle Bell, Phoebe Gloeckner, Melinda Gebbie, Lynda Barry, Aline Kominsky, ou Craig Thompson, Chris Ware, e tantos outros, faz-nos colocar ainda mais questões prévias, desta feita sobre modos de produção, políticas editoriais, recepção, etc. (mas, recordemo-nos, fala-se de "comic books", não de "comics").
No entanto, acreditando que mais vale seguir as coisas e depois entender o que lhe falta do que minar o projecto em si, fica aqui o desafio aos interessados.
Consultem o site aqui, onde se podem inscrever directa e facilmente.
Esta parece-nos ser uma oportunidade curiosa, dado que se trata de uma experiência inovadora em relação ao ensino à distância, apesar de levantar alguns problemas (já indicados por algumas pessoas) sobre o seu impacto económico, social e educacional em relação às estratégias mais normalizadas. Isto é, o facto de ser um veículo que disponibiliza informação gratuitamente a um número assombroso de pessoas, mesmo estando associado a uma série de processos típicos de um ambiente de ensino (escrita de trabalhos, discussões balizadas, leituras orientadas, etc.), pode não significar automaticamente melhor ensino ou um avanço efectivo dos conteúdos académicos possíveis.
Neste momento, o programa pormenorizado do curso ainda está a ser trabalhado, mas estará disponível em breve. Descritivamente, tratar-se-á de um curso sobre "como é que a banda desenhada [a palavra empregue é "comic books", remetendo a um pólo de produção muito particular, e não a "comics" em geral] pode ser usada para explorar identidades, estereótipos e papéis de género/sexuais". Uma outra frase, que diz pretender "abordar questões sobre representações e construções de género envolvendo homens e mulheres", parece afunilar desde logo a questão aos papéis da heteronormatividade, mas talvez as questões possam vir a abrir-se mais com as leituras a fazer. Seria bom compreender desde já se a hipersexualização dos super-heróis será tratada, abordando o típico desequilíbrio entre os uniformes dos heróis (que lhes cobrem o corpo todo) e heroínas (que revelam estrategicamente partes do corpo), ou mesmo da figuração (protuberâncias mamilares perfeitamente esféricas e em circunferências superiores às cabeças, desafiando a gravidade, traseiros que independentemente da posição de combate ou de descanso são apresentados ao olhar, etc.), ou como é que determinados assuntos, como as emoções, a biologia, as expectativas, são distribuídas, mas nada disso é (ainda indicado). Já para não falar de que há um notório desequilíbrio entre desejo e fantasia nestas distribuições, mesmo no interior de uma economia exclusivamente heterossexual ("corpos de mulheres enquanto objecto de desejo sexual", "corpos de homens enquanto fantasia do si"). Desta forma se justificam as imagens escolhidas para este post, recolhidas aqui e aqui. Um dos "trunfos" que o curso apresenta - passe a forma espectacular e dramática com o que o vídeo anuncia a coisa - é o conjunto de entrevistas anunciadas com alguns dos escritores e artistas mais famosos do momento. O facto dos nomes até agora badalados serem os de Brian K. Vaughn, Brian Michael Bendis, Jonathan Hickman, Jason Aaron, Scott Snyder, Matt Fraction e Mark Waid - que anunciou de forma bombástica este curso no seu site -, aliados às estratégias visuais de publicidade do curso, e sublinhando a forma como é descrito, apenas sublinha mais uma vez essa ideia de normalização: são todos homens e escritores de títulos quase sempre da indústria mainstream de super-heróis, ou variações. A associação a nomes tais como os de Gail Simone (mulher, mas autora da DC, que quase sempre é usada pela indústria para afirmar "há mulheres que escrevem super-heróis") ou de Terry Moore (autor da esfera independente, e da saga Strangers in Paradise, que explora de forma muito moldada as questões da sexualidade no seu confronto com as expectativas sociais, educacionais, etc.) parecem aumentar o escopo das questões, mas não o suficiente, a nosso ver. As questões (hipotéticas, ou já planeadas?) que Waid coloca, "qual é a personagem de banda desenhada mais masculina?" ou "porque é que o Homem-Aranha já não é casado?" podem até fazer prever o pior. A ausência de nomes tais como os de Alison Bechdel, Gabrielle Bell, Phoebe Gloeckner, Melinda Gebbie, Lynda Barry, Aline Kominsky, ou Craig Thompson, Chris Ware, e tantos outros, faz-nos colocar ainda mais questões prévias, desta feita sobre modos de produção, políticas editoriais, recepção, etc. (mas, recordemo-nos, fala-se de "comic books", não de "comics").
No entanto, acreditando que mais vale seguir as coisas e depois entender o que lhe falta do que minar o projecto em si, fica aqui o desafio aos interessados.
Consultem o site aqui, onde se podem inscrever directa e facilmente.
Só uma dúvida: está lá escrito "comics books"? Estranho se assim for, porque o correcto será "comic books".
ResponderEliminarCordialmente,
G.Lino
Não, o erro foi meu, entretanto corrigido. Obrigado!
ResponderEliminarPedro