Tendo já colaborado em ocasiões passadas com a plataforma Buala, voltamos agora a um novo episódio, em contornos ligeiramente diferentes. (Mais)
Tratando-se a Buala de um ponto de encontro transdisciplinar e crítico em torno do diálogo cultural e pós-colonialista contemporâneo entre Portugal, Brasil, África e outras paragens, interessa-lhe toda a espécie de discursos críticos, ancorados nas mais diversas disciplinas, vertentes políticas e linguagens artísticas, que façam pensar essas mesmas possíveis relações. Fruto do esforço destes últimos anos, eis que surge agora o primeiro número de uma série prevista de publicações. Todos esses projectos serão temáticos, ainda que de forma espontânea e livre, sendo o título do presente volume bastante explícito: Este corpo que me ocupa. São várias as linhas que cosem o conceito de corpo, desde o "incorpo" de Gonçalo M. Tavares, rede de afectos que liga o corpo-carne ao Mundo, à esfera do biopolítico pensado por Foucault, Esposito e outros, passando pela precariedade de Judith Butler que o atravessa. São também as várias linguagens expressivas presentes enquanto objectos de análise: desde as mais especificamente artísticas como a fotografia, o cinema, a dança, a performance, o rap, os fanzines, a manifestações políticas, religiosas, ritualísticas, de ocupação e vivência do espaço, público e privado, de vida e de morte.
Conforme já havíamos anunciado quando da discussão do livro de Yvan Alagbé, École de la misère, serve o presente post para indicar termos participado com um artigo em torno do primeiro livro de Alagbé, Négres jaunes, cujo título indicamos acima. Prevê-se que haja uma edição online no futuro, possivelmente com uma forma mais alargada e detalhada. Uma das partes que tivemos de cortar é a génese e transformação textual deste livro de Alagbé, história bastante atabalhoada. Aqui fica, pour prendre date e para os completistas:
"Alagbé, juntamente com o seu colega de
universidade (em física) Olivier Marboeuf, fundou a editora francesa
Amok no início dos anos 1990. A primeira versão de Négres
jaunes foi serializada entre os números 3 e 5 da revista
trimestral dessa plataforma editorial, Le cheval sans tête
(de que Alagbé era também o director), entre Outubro de 1994
a Maio de 1995. Para a sua edição em formato de álbum, em 1995
(colecção Feu!), Alagbé acabaria por alterar radicalmente as
pranchas em termos visuais e não só, considerando-se essa a sua
versão final. Por exemplo, os episódios originais tinham,
respectivamente, 16, 16 e 18 páginas, mas a versão final tem apenas
47 páginas. Em 2000 foi publicada novamente (na colecção Octave) e
em 2012 teve uma outra, aumentada com outras histórias curtas,
algumas das quais inédita. Esta nova versão foi re-intitulada
Nègres jaunes et autres créatures imaginaires, e sairia pela
Frémok, uma fusão da editora citada e da belga Fréon. Uma tradução
portuguesa, “Pretos Amarelos”, foi trazida a lume por João Paulo
Cotrim na efémera mas soberba revista Papéis 97
(Cotovia: Lisboa 1996). Para o presente ensaio, cingimo-nos a um
estudo geral da última versão."
Nota final: um bem-haja à equipa da Associação Cultural Buala, especialmente Francisca Bagulho, Marta Lança e Candela Varas, pela disponibilidade, trabalho de edição e paciência. No artigo propriamente dito, deixamos agradecimentos a João Paulo Cotrim e Domingos Isabelinho, que aqui repetimos.
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