16 de julho de 2015

Habibi/Finalmente o Verão. Craig Thompson/Jillian e Mariko Tamaki (Devir/Planeta Tangerina)


Sendo rara a nossa opção em pura e simplesmente fazer divulgação dos livros publicados em Portugal, repetindo as notas de imprensa ou tecendo duas ou três frases de circunstância e genérica, é com algum prurido que colocamos aqui a nota da existência destes dois volumes. No entanto, na senda das considerações feitas a propósito da colecção Novela Gráfica, e nos esforços, ora continuados por certas editoras, ora estreantes de novos intervenientes, nota-se e espera-se que haja de facto uma abertura na oferta e na diversidade dos títulos de banda desenhada contemporânea (mas também "histórica", claro), independentemente de pertencerem ou não a um espécie de "cânone internacional", "top mais" da crítica especializada ou sequer mesmo, importe a quem importar, a uma putativa e fechada "lista de predilectos" do indivíduo que escreve estas linhas. (Mais) 

Tendo escrito alargadamente sobre ambos os títulos quando da sua edição original norte-americana, remeteremos os leitores a essas considerações. 

A Devir portuguesa, na sua tentativa de lavrar um corpus significativo neste campo em particular da banda desenhada "literária", a Biblioteca de Alice, regressa à obra de Thompson com o seu Habibi. Esta é uma obra que almeja uma monumentalidade que se esgota por efeitos de melodramatismo e alguns outros escolhos de escrita e representação, bastamente discutidos, mas a sua circulação enquanto livro que nos obrigará à interrogação do papel da banda desenhada na discussão cultural em curso é obrigatória. 

É discutível a seguinte afirmação, e muito provavelmente os editores não farão estas distinções categóricas, mas com This One Summer/Finalmente o verão, a Planeta Tangerina entra no mundo da banda desenhada. Para mais, entra por um campo não apenas riquíssimo como minado por ângulos inesperados. Riquíssimo, por este ser um soberbíssimo livro, sobre duas adolescentes (ou tweens?) penetrando numa experiência que todos nós, adultos, teremos talvez experienciado, e por a sua leitura poder eventualmente ser mesmo um guia a esse intervalo confuso. Minado, pois afunilar este livro à "literatura de adolescentes ou jovens adultos" (campo ainda pouco explorado em Portugal, mas para que a editora tem contribuído na sua colecção 2 passos e 1 salto) é um desserviço à sua transversalidade. Outro dos ângulos perigosos, por assim dizer, é que este é um livro desempoeirado, directo, franco, profundo, com todas as emoções negras dessa idade... mas há progenitores e educadores que policiam essas realidades. Este livro é um antídoto a esse controlo. 
Nota final: agradecimentos à Devir, pela oferta do seu volume. 

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