Este projecto começou de uma forma bem distinta, em que a palavra "translation" era o principal termo operativo, não no seu sentido de transposição de linguagens, mas antes no seu sentido político de passagem de uma cartografia cultural para outra, e todas as operações que isso implica de distorção, aceitação, negociação, etc., e sobretudo a ausência dessa mesma tradução, que encurralam muitas produções - como a da banda desenhada portuguesa - a um espaço diminuto de circulação, mesmo que toque assuntos, intensidades ou experimentações formais que interessariam a leitores noutros palcos.
Assim sendo, este volume abre a oportunidade a discussões de banda desenhada polaca, grega, holandesa, checa, etc., que muitas vezes nem sequer tem direito a levantar voo suficiente para entrar no proverbial radar crítico. Fazendo parte de um ciclo de outros livros (Global Perspectives in Comics Studies), é um contributo decisivo ao alargamento da atenção à banda desenhada como um mundo diverso de produção.
Da minha parte, contribui com uma análise exclusivamente dedicada ao objecto mutante, heteróclito e politizado da revista Buraco # 4, de que demos conta aqui (há mais de dez anos!, o tempo não perdoa...). Intitulado "Dissent and Resistance in Contemporary Portuguese Comics: The Case of Buraco #4 and Porto’s Es.Col.A. Movement", aproxima aquele gesto colectivo e ancorado no tecido histórico do seu momento ao conceito de dissidence de Jacques Rancière.
Ficam os agradecimentos aqui aos editores e aos revisores do texto, que em muito melhoraram a prestação.
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