19 de outubro de 2023

Mesas-redondas da "Flexágono" 2023

Serve o presente post para recordar os leitores que está patente em Óbidos, integrada no Festival Literário Fólio, a exposição Flexágono. Banda desenhada, narrativas gráficas e desenho, hoje, no Museu Abílio de Mattos e Silva. Mostrando obras de Amanda Baeza, Daniela Viçoso, Dora Sidorenko, João Sequeira, José Feitor, Marco Mendes, Matilde Feitor, Ricardo Baptista, Rita Mota e Sofia Belém, é uma oportunidade única de ver estes trabalhos apresentados de uma forma contemporânea, adulta e esteticamente informada, sem algum do ruído usualmente associado aos certames que lhes dão atenção.

Flexágono é uma faceta já consolidada do Festival Literário Fólio, ainda que se apresente de forma mutável em todas as suas edições. Enquanto espaço de divulgação e reflexão sobre a criação de banda desenhada e outros objectos de narrativas gráficas e territórios contíguos, o seu propósito será sempre o de chamar a atenção para com uma produção contemporânea, cuidada, que responde a muitos dos desafios formais e conceptuais destas artes perante o mundo.

A banda desenhada é não apenas uma arte com uma história social e estética próprias, como tem uma natureza viva que se vai transformando, mesmo que isso nem sempre seja acompanhado por um número de pessoas que as mereceria, e são muitas as surpresas que esperam os novos leitores, se estes apenas se prenderem às expectativas do que conhecem da sua infância ou das esferas do entretenimento. O ensaio, a autobiografia, o desenho de campo, a exploração da memória, o gesto de resistência, a refabricação das tradições ou até de identidades são todos campos passíveis de visitação desta tarefa artística.

Sempre tivemos oportunidade de, nas edições anteriores, criar um distinto e específico diálogo com os espaços onde nos apresentamos, e este ano não é excepção. O Museu Abílio de Mattos e Silva alberga não apenas o espólio de um artista multifacetado, que se expressou nas ditas Belas-Artes mas igualmente em variados campos das artes aplicadas, e em materialidades múltiplas, como também demonstra a vontade da designer Maria José Salavisa, que foi uma pioneira no entendimento e cruzamentos entre os espaços interiores e a luz, a vivência quotidiana informada pela beleza e o conceito, o equilíbrio entre as formas. Todos esses princípios presidiram à selecção de um grupo de artistas, entre veteranos e novos valores, que precisamente colocam em acção essas potencialidades do desenho, da narrativa visual, da expressão gráfica ao serviço da ideia.

Jan e Aleida Assman consideram que “cada geração transmite cultura à próxima, não através de um legado genético, mas antes pela conservação e repetido reexame ou reutilização de objectos culturais e rituais – formações culturais (textos, ritos, monumentos) e comunicação institucional (recitação, prática, observância) – que constituem a cultura objectivizada de uma sociedade”. Os diálogos entre o fundo do Museu, os artistas de várias gerações, e um público diversificado, mas também entre o gesto monumentalizador de um museu e alguma natureza de efemeridade de uma exposição temporária de objectos gráficos de uma temporalidade e de um espaço de atenção frágeis, entre substratos que se vão mantendo e consolidam uma identidade cultural (nacional?, internacional?, artística?, linguística?, humana?) e de textos de uma magnífica diversidade de assinaturas e expressões, são apenas algumas das facetas deste cristal que poderá ser lido de formas distintas e todas estimulantes, como espalhar de maneira diversa as práticas da nossa própria leitura.

Organizaram-se duas mesas-redondas, que terão lugar nestes dois próximos dias. 

Hoje, dia 19, pelas 16h00, terá lugar o painel Como as imagens leem: relações entre imagens e narrativas, com Daniel Lima, ilustrador e autor de banda desenhada, e Catarina Alfaro, coordenadora da Programação e Conservação da Casa das Histórias Paula Rego /Fundação D. Luís I.

E amanhã, às 15h30, é a vez de Como as imagens pensam: materialidade, forma e presença, com os artistas e autores Lord Mantraste, Maria João Worm e Biakosta.

Ambas têm lugar no mesmo museu. 


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