17 de junho de 2024

O homem que sonhou o impossível. Mário Freitas e Lucas Pereira (Kingpin)


Este livro, apesar de curto, convida o leitor a ler para além dele, uma vez que mexe com todo um imaginário caro ao mesmo, já acólito desse mundo, pelo que é muito difícil lê-lo de forma estritamente textual, atendo-nos aos seus elementos presentes. Apesar da roupagem fictícia, ele cria elos imediatos com o mundo real, e as respostas a esses estímulos expandem a eficácia do título. Aparentemente, tratar-se-á da história de um velho artista de banda desenhada, chamado Jack King, vivendo num lar de terceira idade, onde outros colegas de profissão também passam os dias. Mas um mistério oculta-se na biblioteca do lar, que despertará um último e grande conflito, o qual resolverá uma crise de décadas e trará a ideia, talvez, de uma possível redenção.

7 de junho de 2024

Larva, Babel de uma noite de São João. Julían Ríos (Barco Bêbado)

Saiu a lume, pela Barco Bêbado, a versão portuguesa do “romance” (usemos a palavra e aspas, para já) de Julián Ríos, lançado originalmente em Espanha em 1983, Larva. Babel de uma noite de São João. A um só tempo figura fulcral de uma certa reinvenção pós-moderna das letras espanholas e marginal do seu status quo, este é um daqueles livros que reformula estrutural e ontologicamente a própria noção de género, senão de literatura.

A literatura nem sempre é literatura. A maior parte das vezes apresenta-se como um veículo que se pretende disfarçar a si mesmo enquanto transparente, meio para um mundo diegético que se forma algures nas nossas mentes de leitores e nos faz crer que tão-somente o observamos através de uma janela, continuando o programa de realismo de Alberti. Talvez mesmo aquela transparência de que Walter Benjamin fala [Durchsichtigkeit], e que se torna obsessiva ao longo do século XX, e a sua noção de avanço tecnológico, regime da razão e progresso, ocultando a barbárie que é o seu preço. Famosamente, no seu ensaio “O contador de histórias” (“Der Erzähler”), Benjamin separa o acto (oral) de contar histórias do da escrita de um romance, colocando este não apenas dependente do objecto-livro e da história da imprensa, mas desligando-o também da experiência tornada comum, ou “vivência” (Erlebnis), nascendo do indivíduo isolado, sem recurso à sapiência. Escreve o ensaísta o seguinte:


Escrever um romance significa levar o incomensurável ao extremo, na representação da vida humana. No seio da completude da vida, e através da representação desta mesma completude, o romance oferece as provas da perplexidade profunda dos vivos.” (mais)

5 de junho de 2024

Pessoa e o Cinema - Ciclo e debate.




Conforme notícia anterior sobre a publicação da última revista Pessoa Plural", eis o LINK onde podem encontrar mais informações e como aceder o visionamento de vários filmes associados à figura de Fernando Pessoa, inclusive os projectos de animação que depois debaterei com Marcelo Mello no dia 12 de Junho, a partir das 19h de Portugal.


3 de junho de 2024

"A pluralidade de Pessoa em filmes de animação e histórias em quadrinhos" (artigo académico)

É com imenso prazer que partilho um artigo de natureza académica sobre banda desenhada, animação e Fernando Pessoa que vi publicado na prestigiada revista Pessoa Plural, no. 25, 2024, intitulado "A pluralidade de Pessoa em filmes de animação e histórias em quadrinhos".


Faço sobre análises formais de trabalhos de bandas desenhadas e filmes de animação, curtas e longas, a cor e preto e branco, adaptando e baralhando, pelos autores brasileiros Eloar Guazzelli, Otto Guerra, e Laerte Coutinho, o português radicado em França José-Manuel Barata Xavier e o francês Thibault Chollet, mas uma última sessão mergulha igualmente na minha própria prática, discutindo a adaptação de Mensagem, que fiz com a Susa Monteiro.


Ficam os agradecimentos aos editores, sobretudo Marcelo Mello e Jerónimo Pizarro, que me foram ajudando a moldar as ideias e o texto. E ainda ao Dário Duarte, pela pesca de uma referência certeira.


Há livre acesso ao artigo sob a forma de pdf, aqui.


No dia 12 de Junho, pelas nossas 19h às 21h, estarei numa sessão de visionamento de alguns destes filmes, seguidos de comentários e discussões. Mais informações sobre isso atempadamente.