17 de abril de 2011

10 P‘tits Pingouins. Jean-Luc Fromental e Joëlle Jolivet (Hélium)


O que é preciso é começar 5.
Este outro pop-up já procura um maior cruzamento entre todas as suas camadas: a história, as acções representadas, os mecanismos de papel “interactivos”, os desenhos, etc., todos concorrem num mesmo sentido, apresentam um grau de união absolutamente conseguido.
O livro mostra-nos um grupo de dez pinguins que, à medida que vão fazendo as suas tropelias - e ajudados pelos leitores que puxam as lâminas e fazem mover os mecanismos -, desaparecem um por um, até nada restar sobre a planura gelada e branca do Antárctico. O texto de Jean-Luc Fromental é apresentado em quadras de uma musicalidade fluida e linda, terminando sempre suspensa no número em que os pinguins ficaram diminuídos, número que apenas surge na página seguinte, obrigando assim à leitura também ela fluida e consequente de todo o livro, para ir contando de 10 a 0, ensinando assim a contagem de um modo deleitoso, como queria Horácio.
É precisamente pela coesão total, a planura de todo este projecto, que não deveria ser apenas o nome do escritor e do ilustrador, Jolivet, na capa, mas ainda o de Gérard Lo Monaco e Bernard Duisit, director artístico e engenheiro do papel respectivamente, sem os quais o projecto não poderia ganhar esta dimensão (o nome vem na capa de trás, porém, de uma forma bastante visível).
A razão pela qual escrevemos interactivos entre aspas é por não acreditarmos que a interactividade esteja apenas presente naqueles momentos em que o espectador ou leitor toca ou maneja algo na obra. Se se trata de uma obra de arte ela é imediatamente, por natureza, interactiva: toca-nos, mesmo que de maneiras insuspeitadas. Ou melhor, nunca o são insuspeitadas, podem é não encontrar a melhor ou mais eloquente explicação verbal.
10 P‘tits Pingouins (“sur la banquise…”) é um livro que traz esse mel absolutamente conseguido de uma união total entre a dimensão da narrativa, a dimensão visual, a dimensão cinética, a dimensão da prosódia, e todas as outras que houver. Nesse sentido, é um pop-up raro, já que a maioria deles se desequilibra sempre para uma dessas dimensões em detrimento de outras. Quando os editores escrevem na capa, “um livro animado”, isso é real por mais do que uma razão…
Nota: un grand merci à família Debaecque pela oferta do livro à J, que mo emprestou.

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