25 de junho de 2005

Corps de Rêves. Capucine (Le Cycliste)


Sendo homem, e não sendo pai, não posso de forma alguma compreender o que representará verdadeiramente uma gravidez. Mas o meu objetivo é falar de livros de banda desenhada, não da vida (dos outros). Também não tenho o hábito de desviar planetas com as mãos, ou de desmantelar redes de espiões nazis, ou de procurar a mulher dos meus sonhos nas planícies nevadas do Alasca, e isso não me impede de ler livros sobre esses mesmos acontecimentos.
Falo dito porque devemos fazer sempre, na crítica, uma enorme distinção entre a arte que estamos lendo e tentando apreciar, e a vida, tal qual ela se nos surge nos nossos dias vivos e como ela se nos representa nesses livros. São domínios diferentes, partilháveis na pessoa do autor, na Ideia que está por detrás do que ele ou ela criarão, mas deixam-se ficar por aí.
Capucine é uma jovem francesa maquetista, de acordo com a biografia da editora deste seu primeiro livro (www.lecycliste.com). O desenho de banda desenhada era um sonho acalentado há muito, e foi a sua gravidez que lhe permitiu tempo e tema de o fazer. Este é uma espécie de diário, feito de curtos episódios, que retratam desde o momento em que se apercebeu estar grávida até ao momento do nascimento da filha. Sendo um simples retrato, e não se integrando numa narrativa maior, não possui nada de espectacular a não ser todos os picos e fundos pelos quais um casal passa durante uma gravidez (crises e febres, a transformação do corpo, dúvidas e temores, jogos e curas). O desenho não é escorreitamente contínuo, e tantas vezes parece um rápido croquis simples como perfis de uma pincelada à la Baudoin. As pranchas também oscilam de tipologia, mas não surgem como um consciente jogo de registos, mas antes como um work in progress que encontrou felizardamente uma editora que lhe permitiu ser mais do que um fanzine (em termos editoriais, este comentário nada mais representa).
Ainda assim, haverá público que se comova com estas pequenas aventuras, os que têm a experiência rir-se-ão por proximidade e compreensão, os que esperam vir a ter colocar-se-ão de imediato perguntas pertinentes. Mas lá está, esse já é um círculo de ideias que faz parte da vida de cada um, e não da arte que aqui se dá a ler... Posted by Hello

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