21 de setembro de 2005
Ups!. AAVV ((Aquilo Teatro)
A Ups! é um fanzine que está prestes a lançar o seu terceiro número. O primeiro é de 2001, o segundo mais recente. Apoiado em termos financeiros pelo Aquilo Teatro, da Guarda, vai surgindo quer pelas razões da produção quer pela “vontade explícita” dos editores e mentores do projecto, a saber, João Louro e Brígida Ribeiro (cuja regularidade é mais intermitente em termos de edição, parece-me). São ambos os primeiros números quadrados, a preto e branco, o primeiro com uma capa a três cores, o segundo com uma qualidade de papel e reprodução superior, já ara não falar de uma série de objectos inclusos que aumenta o interesse objectual da coisa: um índice móvel, uma indexação de acordo com símbolos químicos, inserts ilustrados, uma pauta para “peça para piano – estudo nº 13” de Élia Fernandes.
Não posso dizer que em termos temáticos ou de participantes estamos perante alguma novidade de maior. Não obstante a participação de ilustres (ambos números) como Isabel Carvalho, André Lemos, Rafael Gouveia e Filipe Abranches, estes não apresentam aqui os seus melhores trabalhos, são quase até auto-epigonias que aqui obtiveram espaço de exposição. Dos menos famosos, mas não por isso desmerecedores da nossa atenção, focaria o próprio João Louro, sobretudo com umas ilustrações acompanhadas de texto de criaturas fantásticas reminiscentes de Viagens de Ijon Tichy, de Stanislas Lem.
O segundo número é mais bem acabado em termos de escolha, penso, já que o primeiro reúne colagens, experiências gráficas por computador e tipográficas, e poemas urbano-depressivos apalhaçados sem grande consequência. Essa mesma lista de modos de trabalho repete-se no segundo número, mas com maior esforço, visivelmente. Por exemplo, as duas pranchas de Maria Lino são belíssimos exercícios de manchas e rostos humanos, que poderão a alguns lembrar Baudoin nas suas flâneries eróticas, umas miniaturas de Bruno del Touro típicas de um certo design urbano contemporâneo (de ilustrações, moda, brinquedos japoneses).
Tudo isto ainda se faz acompanhar de textos, prosa, poesia, objectos literários não identificados, um curto texto sobre crítica (António Godinho). A esmagadora maioria não me levanta surpresas de maior, passando por todo um universo que já tem 20 anos, de uma literatura neo-simbolista, anti-cultura, independente, underground, chamem-lhe o que quiserem, mas cujo culto não é diminuto. No entanto, os textos de Galo Porno – irmão gémeo de Rafael Dionísio no primeiro número, leitor de Ramos Rosa no segundo – parecem-me ser de alguém que desenvolver-se-á seguramente noutros patamares de exposição.
Mas como me escreveu o João Louro, estas disparidades não são mais do que naturais, porque “como um Ups!, acontece e pronto!” Nem mais.
Se estiverem interessados, poderão contactar o Aquilo Teatro, através do 271 222 499 ou aquilo-teatro@sapo.pt, ao cuidado de João Louro e Brígida Ribeiro.
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