8 de dezembro de 2005
Red Meat Gold. Max Cannon (St. Martin's Griffin)
Tal como a pintura e, "once upon a time", Samuel Clemens, a tira de banda desenhada - uma das formas-cristal mais interessantes deste modo de expressão, nascida da Necessidade e que somente os verdadeiramente virtuosos e geniais conseguem dar vivo alento (Salvé, Santo Schulz!) - atravessa frequentemente promessas de uma morte anunciada. Mas eis que, a cada virar da esquina, lá vão surgindo artistas capazes de lhe dar maior verve, uma alma alegre, mais anos de vida, e sentida. Esses são os génios (Frank King, Bill Waterson, Ben Katchor, Tony Millionaire, e poucos mais. Outros, como Max Cannon, optam por ir dando choques eléctricos consecutivos à tira e, mesmo que atinja o rigor mortis (os desenhos do autor são estáticos, repetindo as personagens nas mesmas poses, com mínimas alterações) e cheire a putrefacina (o humor contido nestas páginas não é para os politicamente correctos e medricas), o riso que provoca é assustador. Especialmente quando nos apercebemos do horror sobre o qual estamos a rir.
Se o riso à custa d'outrem (mesmo personagens de papel) revela uma falha de carácter, então a série Red Meat (de que este é o terceiro volume) é uma espécie de sismógrafo e polígrafo, já que nos torna claríssimas todas as fendas profundas que afinal possuímos. Se não se rirem com nenhumas das situações espatafúrdias, nojentas e obscenas (e por vezes machistas, racistas, etc.), então é porque serão, não bons leitores, mas "boas almas". Quanto a mim, tendo em conta as sacudidelas que a personagen Earl me provoca, condenado estou...
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