24 de fevereiro de 2006
Chimera. Frank Santoro (Ganzfeld)
A Quimera era um monstro que representava, pensa-se etimologicamente, o Inverno; era uma mistura de espécies animais (um leão, uma cabra ou bode e uma serpente); era a confusão.
Nos créditos desta banda desenhada de Frank Santoro publicada pela Ganzfeld como um jornal (de 18 páginas; e não é a primeira vez que Santoro experimenta este formato, pois já antes o fizera com Storeyville), diz-se que se trata do “sonho atrás do sonho”. Seja, e não o entendamos como um mero jogo de palavras, mas como o programa real. Vejam-se as “séries” que se correlacionam dentro, nas páginas: um par de namorados mergulhando na praia, voltando à cidade, indo ao cinema; um outro ou o mesmo casal, em cenas pornográficas, o amor explícito, e trocando estranhos objectos, como uma casa a arder; um Minotauro e uma jovem, uma cena que parece tirada de um fresco grego, com um homem tocando um aulos, a flauta dupla, e corpos dançando em gestos repetidos cuja natureza gráfica também me faz recordar os vasos da Antiguidade grega (especificamente as figuras mais estilizadas, a negro sobre fundo vermelho, nos vasos cerimoniais dos casamentos como o loutroforos ou o lebes, verifico). É como se vogassem certas referências de uma forma relativamente livre, em torno de um centro que nos escapa, mas que acreditamos ser o mesmo que se encerra noutras tantas, todas?, as obras... o amor, o sonho, temas recorrentes em todos os que respiramos vivos.
A Quimera era um monstro, uma mistura, e uma confusão. Mas esta Chimera, sendo também ela mistura, também pode ser vista como confusão, mas se o for, sê-lo-á no seu mais pleno sentido: fusão num só ponto, complicado, concentrado, de todos os seus significados. Monstro, só em relação ao policiamento das definições, da escolaridade obrigatória, do bibliotecário sistemático (e é bom sabê-los haver anarquistas!). Monstro, que o seja, felizmente. É tempo de monstros, quando a razão adormece em prol de novos sonhos.
Nota: esta publicação é como um jornal, quer em tipo de papel quer em formato. O scan que eu fiz é péssimo, a imagem original não tem esse "corte" a meio...
Ah! Cá está. Este bibliotecário é tão anarquista que deixa escapar toda a informação. Muito obrigado.
ResponderEliminarE até breve,
tsfrqtt