Esta brevíssima sere para dar conta do lançamento do quarto volume desta colecção, que temos estado a acompanhar. Desta feita, trata-se da "tradução" em banda desenhada/ilustração de Vertigo de Hitchcock por João Fazenda.
No entanto, devemos confessar que não encontramos aqui o mesmo entusiasmo na criação de imagens que julgamos pertencer ao Fazenda do terceiro volume de Loverboy (com Marte), de Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos (com Pedro Brito), da pequena história escrita por Gonçalo M. Tavares para a antologia Movimentos Perpétuos e muitas das ilustrações no Público... Em primeiro lugar, nota-se como que uma estratégia interessante em "dobrar" o filme em dois, para que possamos acompanhar dois momentos segregados que convergirão, e serão coroados, pelas duas mortes de Madeleine/Judy, mas que a torna demasiado atreita à tradução portuguesa do filme - A mulher que viveu duas vezes (e morreu duas vezes)- e menos propensa à procura de outros elementos que poderiam servir de leit-motiv visual para a trasformação.
Algumas das imagens mostram uma soltura atrevida e livre que constrói imagens magníficas, sobretudo as de "paisagens", sejam estas as de interiores (a sala de Scottie, a florista, a Missão, o museu) ou exteriores (o parque das coníferas gigantes), mas as figuras humanas parecem demasiado controladas e como que reduzidas a meras instâncias do que tem de ser contado. E tendo em conta que são elas quem ocupam a maior parte das "cenas", as quais não sobrevivem sem que haja uma permanente rememoração do filme - caindo-se no perigo da ilegibilidade narrativa - são demasiados os "ângulos mortos" criados aqui... Não "cegos", os quais deixariam ainda a potencialidade de serem preenchidos de vários modos, meio-adivinhados, fantasmáticos; "mortos", impedindo uma reconstrução com alguma autonomia em relação ao filme que lhes deram origem.
Nota: agradecimentos ao editor, pelo envio do livro.
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