Desta feita, gostaríamos de anunciar a saída do The Lisbon Studio Webmag no. 4, uma vez que demos início a uma esperada longa colaboração com bandas desenhadas curtas. São duas histórias de 4 páginas cada, escritas por nós, com os artistas Hugo Maciel e Ana Biscaia. Estão em inglês por terem sido criadas para um concurso internacional. Esperemos que a experiência se repita!
Obrigado aos artistas e a toda a equipa do TLS, especialmente o André Oliveira, por ter servido de liaison d'aço!
Para aceder à revista, ver aqui.
(uma pequena graçola pretensiosa)
ResponderEliminarDevemos começar por confessar que estes dois trabalhos de Pedro Moura foram lidos com uma expectativa mal antecipada. Ao início da primeira leitura fomos dominados pelo conceito de circularidade impregnada que representa a armadilha aparente da derradeira ambição da metamorfose do crítico em autor. Devemos confessar uma declaração de interesses: a estima pela qualidade do trabalho de crítica de bd do autor impede-nos e desinteressa-nos pela sua pequenez de ir mais além na questão mais imediata da exposição do “julgador” aos “julgados” através desta ousadia da exposição em praça pública de trabalhos que competem com os de quem “avaliou”.
Regressando já ao final dessa primeira leitura, na nossa imaginação, precipita-se a resposta ao enigma da esfinge "Poderá o crítico criticar a sua obra?". Em resposta ao paradoxo, da referência à primeira estória apressa-se a sentença de Jesus segundo S. Mateus "Todos que tomam a espada, morrerão pela espada"! Não parece despropositado, ou desprovido de intenção, a ironia com que o autor recusa o conselho das escrituras recusando a opção do embainhamento da iniciativa e o regresso ao apostolado da crítica.
Uma segunda leitura procurou compreender a estrutura e argumentos das duas histórias, possivelmente feitas pelo recurso às incontáveis referências de um autor com tamanha bagagem acumulada na sua já relevante actividade de estudioso e crítico do meio e do género. Um aspecto importante da análise resulta da compreensão do objecivo final , que não os intermédios (apesar de mais reveladores), destas duas criações ser a participação num concurso internacional de short stories. À brevidade da leitura deste género de obras que não ultrapassarão os três ou quatro ciclos de respiração, parece o autor confortavelmente dominado pela tentativa de induzir o leitor num movimento de um só fôlego mais profundo atravessando referências cinematográficas, que pensamos não estarão longe para a primeira estória da filmografia de um Cronenberg e da sua abordagem psicanalítica, já herdeira de WS Burroughs, da dicotomia corpo/espírito e a união à trindade moderna com a máquina, muito presente no celebrado "Crash", mas para nós mais próximo da dependência alucinógena presente na literatura "burroughsiana" no nosso preferido "Videodrome" do mesmo realizador: “Long live the new flesh!”.
A arte de Hugo Maciel surge herdeira do entrecruzamento do traço das bd sci-fi franco-belga de Moebius (mais) e a mangá de Shirow Masamune (menos), opção que parece recolher a “autorização/caução” do argumentista pelo que aporta de referências a uma conclusão ambiciosa da fusão, desta vez não desejada, de um “puppeteer”, ou o destino do mundo, perdido numa tira de moebius (o outro) percorrendo uma superfície não orientável sem nunca encontrar o seu fim ou regressar ao mesmo ponto. Para um final mais feliz, ou preferivelmente diferente, recomendamos uma solução mais redentora a que alguns chamarão de “platonismo invertido” presente no filme do argentino Gustavo Mosquera de 1996 “Moebius” baseado no conto de A.J. Deutsch de 1950, “A Subway Named Mobius” e no filme alemão homónimo de 1993.
Relativamente à segunda estória, não estando a arte dissociada do argumento, o traço heteróclito de Ana Biscaia impede-nos, de momento, de uma verdadeira análise a fazer e que necessita de uma observação atenta a outros trabalhos da mesma artista que, por esta primeira apresentação ao nosso olhar, lamentamos ainda carecer.
Nota: Agradecimentos ao autor pela disponibilização do webmag através do seu blogue “Ler BD”.
Publicada por José Sá
Excelente!
ResponderEliminarNão, o crítico não poderá jamais julgar a sua obra, pois jamais terá a distância necessária para olhar para o objecto desligado da sua vida, e ele pertence aos seus leitores. No entanto, apenas a título de informação, esta não é a primeira, nem será a última, incursão na escrita de argumento, havendo meia-dúzia de coisas espalhadas (já para não falar da escrita literária, stricto sensu). E está aberta aos flancos à vontade.
O Hugo Maciel começou agora a entrar nos territórios da banda desenhada, mas a entrada será, digo eu, grande; a Ana Biscaia já anda nisto há alguns anos, e é de procurar o seu trabalho de ilustração...
Até à próxima.
pedro