7 de dezembro de 2013

Entrevista a Sidney Gusman no aCalopsia.

Numa primeira colaboração com o blog aCalopsia, remeto-vos para uma entrevista curta feita a Sidney Gusman, coordenador editorial na Maurício de Sousa Produções, e mentor de toda uma série de projectos que têm angariado alguma atenção crítica, nomeadamente as antologias MSP e a nova linha de livros de banda desenhada de maior fôlego reformulando as famosas personagens do autor brasileiro. Uma vez que estamos a criar um dossier de leituras críticas de todos esses títulos produzidos até à data, a publicar em breve neste mesmo espaço, surgiu-nos esta oportunidade de colocar algumas perguntas a Gusman, que pode ser visto, sem exageros, como "padrinho" dos projectos.
Link directo, aqui.
Agradecimentos a Bruno Campos, pelo desafio e convite.

4 comentários:

  1. José Sá6:00 da tarde

    Olá Pedro!
    Permite-me esta liberdade: não me parece que tiveste muita sorte com a entrevista :-). É muito difícil retirar de um "administrador executivo" a sua visão pessoal de um projecto. A cultura organizacional de uma multinacional está sempre no topo da pirâmide, de onde, neste caso, meio século nos comtempla ;-).
    Confesso que nunca, nem na infância, me senti muito próximo da obra do Maurício de Sousa. Sabes como é: a personagem feminina, a heteronormatividade. Talvez se tivesse começado nas origens das tiras dos jornais, quando só havia o Cebolinha e o Franjinha... Na verdade, mesmo nessas idades, já temos alguma percepção da qualidade do desenho, do seu grau de elaboração e dos argumentos, sendo que as histórias da Família Pato do Carl Barks, os habitantes de Vila Xurupita do Sindenberg e Canini, ou os Patetas históricos (de vários) "davam dez a zero" às aventuras circunscritas ao bairro da "Turma da Mônica". Ao contrário do que tu dizes, mas que certamente com alguma dose de exagero, apesar de no princípio da história parecer que tudo era obra do Sr. Walt Disney, no final nós conseguíamos perceber as diferenças.
    Só lendo o "Laços" - estou curioso de dar uma segunda chance com o "Magnetar" - permanece a mesma sensação. A qualidade do desenho e as opções de caracterização das personagens têm grandes oscilações, estando o Cebolinha no topo e a Mônica lá em baixo, não parecendo por vezes a mesma personagem, variando ao longo do livro entre uma Heidi e uma caracterização mais próxima do que esperaria (graficamente) da Magali. Em termos da história propriamente dita, parece-me que ela arranca bastante bem, perdendo fôlego a meio e terminando em anticlímax. Fez-me lembrar alguns blockbusters de Hollywood amputados da sua densidade por um "productor ex machina" que desce do alto para solucionar abruptamente uma trama que tem uma duração previamente determinada. Isso já acontecia nas histórias originais pela limitação do número de páginas, mas que era infinitamente mais bem resolvido pela "escola da Disney". Como aqui, parece-me.
    Obrigado e um abraço.
    José

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  2. Não se tive "sorte" ou não, mas compreendo que as entrevistas por email, a pessoas que estão extremamente ocupadas, são difíceis de levar a bom porto. No entanto, conseguiu-se o que se desejava e ficou prometida uma conversa mais musculada se houver oportunidade de visitas que permitam um frente-a-frente (hint, hint, wink, wink).
    Quanto ao resto, reservo-me para quando da leitura dos livros propriamente ditos, mas diria que "é por aí".
    Quanto à recepção. Não posso dizer o mesmo. Uma vez que tinha à mão dezenas de "gibis" de toda a espécie e feitio, tive acesso a tudo ao mesmo tempo e recordo-me da fase "acrítica" e "pandémica", só mais tarde corrigida por essa "diferenciação interna" que dizes, que também partilho (mas também pautada por ciclos: agora gosto deste, agora deste outro, etc.).
    A propósito, e peço desculpa pela auto-publicidade, tenho um ensaio precisamente sobre o Zé Carioca (semi-denso, semi-leve) algures (é procurar no blog as ligações) que te convido a ler.
    Espero que as notas surjam rápido, mas tenho dúvidas (Janeiro?).
    pedro

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  3. José Sá6:12 da tarde

    O teu ensaio semi (não precisas de pedir desculpa pela espessura do teu trabalho, é aquilo que o distingue ;-) sobre o Zé Carioca? De onde pensas que eu comsegui descobrir os nomes Sindenberg e Canini sonegados às primeiras páginas das histórias pelo omnipresente Walt Disney? Mais a sério, li-o há algum tempo, com muita nostalgia confesso, recordando o Almanaque Disney onde vi pela primeira vez a história com os "três amigos", ou os textos que surgiram sobre a origem do Zé nas antologias publicadas pela Abril nos anos 80, ou ainda as chamadas ao primeiro plano de estereótipos cariocas definidos, finalmente dessa vez, por brasileiros e que encontrávamos naqueles gibis fininhos em formatinho de 32 páginas a 4 cores. Mas também me fez recordar, pela afinidade temporal (truques da nossa memória), a dignificação anacrónica da sarjeta através da dinamização do "espaço intervinhetal" conseguida no "Pateta faz história".
    Já agora, aproveito a bucha para dizer que, assim como para "gutter", também não sou fã da expressão (tua?) "espaço intervinhetal" que, apesar de aparentemente classificadora, acompanhará as mesmas insuficiências que atribuem às definições do McCloud, bastando para este caso recordar as vezes em que esse espaço não existe, como nas histórias do Pateta, ou como nas páginas centrais da tua short com a Ana Biscaia. E não consigo resistir em apelar ao teu sentido de humor para desfazer a controvérsia: a expressão "espaço intervinhetal" é de evitar porque já tinha sido usada por Henry Gray no seu livro de anatomia para definir uma determinada parte do corpo humano que, não referindo aqui, deixa pouco espaço à imaginação identificar :-)))))
    Outra vez a sério, concedendo que a tua produção sobre esta matéria é extensa e de nível académico e que estas conversas são somente duas pessoas a dialogar, recordando que a bd é, entre mais coisas, arte sequencial, o que , desde logo, remete para soluções/definições dinâmicas, permite-me a ousadia de sugerir a substituição da palavra "espaço" por "transição"... intervinhetal, vá lá :-).
    Abraço
    José

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  4. Adoraria ter a qualidade para dizer que a expressão é minha, mas não, nem pensar: trata-se de uma herança do Thierry Groensteen, mas penso não ter sido ele quem cunhou a palavra. Concordo plenamente que não é uma palavra muito elegante, e bastaria falar de "intervalo". Agora "cloaca" é que não, por favor. No entanto, discordo do que dizes por razões teóricas e analíticas. Ele existe sempre, haja ou não um espaço em branco ou de outra cor entre duas vinhetas delineadas, haja ou não um filamento a separar espaços concretos e/ou personagens, haja ou não outras estratégias visuais que sirvam para criar unidades de significado. Desde que estas sejam criadas - a unidade mínima de significado de acordo com Th. Groensteen, e com o qual concordo - pode-se falar desse "intervalo", "espaço" ou seja o que for. Ele pode ser tornado complexo, indiscernível, etc., sem dúvida, mas existirá sempre implicitamente, levando o leitor a tomar a decisão, de criação de significado, que existe uma sequência, uma passagem de tempo, espaço e/ou acção, que separe de certa forma o que é representado em blocos identificáveis como tal, e por aí fora. Assim sendo, "transição" induziria imediatamente a uma relação temporal e até de causalidade que pode não se verificar, conforme as várias experiências de divisão de atenção de um mesmo espaço-tempo, as pesquisas sobre a estase visual, etc. A banda desenhada PODE nem sempre ser sequencial (apenas a título de exemplo, falei de "A family visit to Berlin", "Hic Sunt Leones", ou os projectos de Isabel Baraona, Mattia Denisse e Tiago Manuel para complicar).
    Fiquei com muita curiosidade sobre o Gray, de que não sei nada - com excepção de ter escrito uma telenovela com médicos...:) -; será o perineu? Ou uma zona mole, cheia de carqueja, como diria o Bocage, entre Cila e Caríbdis?
    A+
    P

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