Em Julho de 2004 começavam os primeiros passos a tentar perceber esta tecnologia do blog. Dez anos passados, ainda não percebemos bem.
Aprendemos muito noutros campos, juntamos mais uns livros, uns amigos também.
É discutível o que mudou no panorama da crítica da banda desenhada, se bem que muitos dos agentes possam ter mudado.
Às vezes surge a pergunta, "para quê?", mas não há respostas iguais todos os dias.
Enfim, continuemos... mas esperando que com alguma companhia. "É por isso que gostava de vos ver aqui".
29 de julho de 2014
Arsène Schrauwen. Olivier Schrauwen (auto-edição)
Encerrar
um artista na sua nacionalidade, para nela procurar as razões da sua
abordagem, é algo redutor. Esse tipo de determinismo raramente nos
ajuda a compreender as suas opções, para além daquelas
circunstanciais que ditarão, por exemplo, a integração num modelo
editorial. Como o comic book, o tankobon, o álbum
franco-belga, o fanzine, ainda que mais recentemente, nos centros de
maior produção ou informados pelas tendências internacionais, o
advento do “livro”, ou “graphic novel” se preferirem, parecer
um modelo mais divulgado, mesmo que seja um modelo precisamente
marcado pela sua diversidade. Mas no caso deste título em
particular, a nacionalidade tem um papel decisivo, ou pelo menos uma
sua integração na história nacional, e a escolha da forma e modo
de edição é determinante também em relação ao seu significado
geral. (Mais)
27 de julho de 2014
O meu avô. Catarina Sobral (Orfeu Negro)
É
inevitável falarmos deste livro sem assinalar o prémio que angariou
na Feira do Livro Infantil de Bolonha no início deste ano. Um
galardão dessa categoria é um garante imediato de uma circulação
significativa, em termos de informação e atenção mediática,
claro, mas igualmente de edições. No entanto, mesmo a celebração
a que esse prémio permite não nos deve impedir de ler o livro
criticamente, pois esse exercício libertará decerto as forças que
ele contem. (Mais)
26 de julho de 2014
The Mighty Enlil. Pedro Cruz (El Pep).
Prevíamos
escrever sobre esta obra ainda na sua forma online, onde ainda
permanece totalmente acessível. O compasso de espera levou a que
surgissem, rapidamente, uma edição disponível na Amazon e agora
esta pela portuguesa El Pep (com
alguns retoques, pelos vistos), que tem procurado, como temos visto,
multiplicar o seu catálogo não apenas em termos de quantidade, de
número de títulos, mas em termos de géneros, artistas, tipos de
abordagem e até mesmo formato e materialidade dos livros em si. No
caso presente, temos uma espécie de comic
book
em “prestige format”, com lombada, uma história contida, que
tanto é devedora às raízes da cultura escrita humana como aos
clássicos dos super-heróis da DC dos anos Weisinger. (Mais)
24 de julho de 2014
Flowering Harbour. Seiichi Hayashi (Breakdown Press)
Há
uns anos, a propósito da publicação em inglês de Red Colored Elegy,
faláramos do papel de Hayashi na geração da Garo,
na companhia de outros autores que, não sendo famosos junto a um
público mais jovem e mais “fã” de séries populares, compõem
porém um grupo extremamente significativo numa verdadeira expansão
da banda desenhada enquanto linguagem passível de explorar emoções
e realidades humanas complexas, desprovidas quase totalmente de
mecanismos mais tipificados, sejam eles da aventura, da acção ou do
romance. (Mais)
22 de julho de 2014
The Congress. Filme de Ari Folman.
A relação entre este
filme e o livro que lhe poderá ter dado origem, a saber, o magnífico
Congresso futurológico, de Stanislaw Lem (que foi publicado
em português num dos primeiros volumes da saudosa colecção de fc
da Caminho), é da mesma ordem que entre Do Androids Dream of
Electric Sheep? de Philip K. Dick e Blade Runner de Ridley
Scott: menos do que uma adaptação, ou até de uma versão, ou
sequer de uma transmediação, os textos literários acabam por ser
antes uma bateria de conceitos, estruturas e estímulos para depois
se tecerem novas histórias e desenvolvimentos. Logo, importa menos a
ideia de “fidelidade” do que a “pertinência” ou mesmo a
“força” desse aproveitamento. A questão, porém, é: ocorrerá
essa força em The Congress? (Mais)
17 de julho de 2014
Propaganda. Joana Estrela (Panda Books)
Pelos
vistos, um dos segredos bem guardados da cultura homossexual, que
pode ser entendida como um monolito, é o facto “dele/as” usarem colheres para dissolver o açúcar no café. Isto de acordo com
um artigo de jornalismo de investigação lituano que tentou entender
as despesas de uma associação local. Além disso, graças
igualmente aos esforços de ideólogos, conclui-se que, uma vez que
os homossexuais não se conseguem procriar biologicamente,
multiplicam-se através de propaganda, da qual fará parte, sem dúvida
alguma, este livro. Pelo menos, de acordo com um político lituano,
cujo nome é citado, mas que julgamos não ser importante para o
cômputo da inteligência humana. (Mais)
15 de julho de 2014
Something terrible. Dean Trippe (auto-edição)
Dean
Trippe é um dos co-fundadores de um dos sites mais revisitados de
quem segue algumas das mais interessantes discussões em torno do
design de super-heróis, Project: Rooftop, de uma forma
equilibradamente inteligente e fanática, sem a secura da primeira
abordagem e sem a leitura acrítica da segunda. Enquanto ilustrador,
Trippe parece devedor de uma linguagem simples e “limpa”,
reminiscente de um encontro entre a banda desenhada mainstream
de super-heróis dos anos 1950 (Carmine Infantino e Curt Swann acima
de tudo?) e o streamlining da banda desenhada infantil da
mesma época (como os das companhias Harvey ou Archie). Nesse
sentido, é uma equação que teria dado os seus primeiros passos de
recuperação com Bruce Timm e é uma família que incluirá por
autores como Cameron Stewart, Darwyn Cooke, entre outros. Mas
Something terrible é something different. (Mais)
14 de julho de 2014
Little Tommy Lost. Cole Closser (Koyama Press)
Desprevenidos,
poder-se-ia pensar que este livro era uma reedição de uma qualquer
tira obscura dos anos 1920, num formato pequeno e barato que recorda
as da Fantagraphics dos anos 1990 (Dickie Dare ou Pogo).
É claro que o selo da Koyama Press nos apontaria de imediato para
uma qualquer tendência contemporânea, mas o interior do livro não
tem nada a ver com as abordagens ultra-estilizadas de um Michael DeForge, Hellen Jo ou dos Tin Can Forest. Mas de que se trata Little
Tommy Lost? Um exercício de imitação? Um pastiche? Uma
homenagem? (Mais)
12 de julho de 2014
Colaboração no du9. Yekini, le roi des arènes, de Lisa Lugrin & Clément Xavier.
No site du9.org, encontrarão uma resenha crítica, relativamente curta (mas somente em francês e inglês), a um volume que é, a um só tempo, uma biografia de um lutador de laamb, uma luta corpo-a-corpo tradicional senegalesa, uma análise desse desporto e do seu papel sócio-cultural no país, do seu aproveitamento pelas forças financeiro-mediáticas e políticas,um Bildungsroman com laivos fantásticos, um livro de banda desenhada de reportagem e de viagem, e talvez uns quantos outros ingredientes.
Desenhado de uma forma tão clássica como moderna, apesar das centenas de páginas trata-se de um texto fluido e comovente mesmo nalguns momentos.
Para aceder a ele, ver aqui.
Desenhado de uma forma tão clássica como moderna, apesar das centenas de páginas trata-se de um texto fluido e comovente mesmo nalguns momentos.
Para aceder a ele, ver aqui.
11 de julho de 2014
Hoje sinto-me... Madalena Moniz (Mini Orfeu)
Quando
escrevemos sobre Children’s Picturebooks, de Salisbury e
Styles, havíamos notado a presença de um projecto, à altura
“escolar”, de Madalena Moniz. Na secção dos comentários
correspondentes, a notícia de que o livro estaria a ser produzido
para publicação pela Mini Orfeu não se fez esperar e aqui surge
ele. A ideia de “escolar” não tem nada de pejorativo, tal qual o
havíamos debatido no texto anterior, e é particularmente
significativo, sobretudo para a instituição em si, que a qualidade
dos livros produzidos no seio desses projectos apresentem desde logo
características suficientemente musculadas que façam adivinhar a
sua circulação mais alargada. Isso estava patente desde logo no
livro de Moniz. (Mais)
9 de julho de 2014
F(r)icções. Nuno Duarte e João Sequeira (El Pep)
No
nosso pequeno mercado, na inexistência mesmo da possibilidade de
garantir a continuidade de géneros, formatos, colecções, etc.,
dada a volatilidade do público, a descoordenação dos canais de
divulgação, e a falta de memória generalizada, e até mesmo por os
esforços editoriais nem sempre serem recompensados da forma que
mereceriam, todo e qualquer livro ou projecto surgirá como singular.
E criar expectativas determinadas por trabalhos anteriores que servem
como instrumento principal de leitura de um novo pode ser o caminho
errado para a sua recepção livre de escolhos. Caso contrário, e
perdoe-se o jeu de mots, criam-se fricçõesque de pouco
servem. (Mais)
5 de julho de 2014
Baratão 69. Bruno Azevêdo e Luciano Irrthum (Beleléu/Pitomba)
Não deveremos jamais reduzir os livros às suas nacionalidades respectivas, ou lê-los somente sob a óptica das suas origens geográficas. No entanto, se discutimos a realidade inerente às aventuras da Turma da Mônica como pertencentes a uma deslocalização da cultura brasileira, necessária para o seu sucesso comercial alargado, e falámos do caso de alguns dos livros de Pedro Franz e outros autores como se ancorando na realidade hodierna do Brasil contemporâneo e politizado, talvez possamos dizer que Baratão 66 é uma espécie de reflexo, ainda que distorcido, de um Brasil do interior. Talvez menos conhecido em termos gerais, talvez mais pobre em termos materiais, mas vivo como uma pedra que se rola e sob a qual pululam insectos de toda a estirpe. (Mais)
3 de julho de 2014
Tiras do Baralho. André Oliveira e Pedro Carvalho (El Pep).
Este livro terá algumas afinidades, mesmo que longínquas,
com os projectos da Oubapo, no sentido em que, menos do que tecer uma narrativa
ou desdobrar um conceito de uma forma interna, se lança um desafio em responder
a uma série de estritas regras estruturais e depois se tem de cumprir o
exercício até ao fim. Além disso, as tiras procuram seguir igualmente as regras
internas e clássicas da organização do humor nesse formato – cena, acção,
clímax, remate -, se bem que pela sua disposição vertical até se aproxima mais
da sua variante japonesa, a yonkoma. (Mais)