13 de janeiro de 2015

Colaboração no IJOCA. Vol. 16, no. 2.

Serve o presente post para indicar que está disponível o último volume do International Journal of Comic Art, no qual participámos com uma pequena resenha crítica, co-escrita com a investigadora Conceição Pereira, de um livro académico. Como tem sido recorrente nos últimos números, este volume é imenso (mais de 680 páginas!) e com dezenas dos mais díspares artigos sobre várias frentes e vistos sob as mais diversas disciplinas, ou mesmo propondo uma mera, mas necessária, apresentação. Assim, passando pela banda desenhada mais popular dos grandes centros de produção até tradições menos conhecidas ou até mesmo obscuras para quem não as vive (como a portuguesa, vista "de fora"), e incluindo a animação, temos aqui um campo variegado, não esquecendo jamais o cartoon político e internacional, que sempre foi um cavalo de batalha de John Lent. (Mais) 


É necessário apontar, e saudar, veementemente, que não foram necessários os ataques ao Charlie Hebdo para que um certo sector especializado desse atenção à produção dos cartoons políticos que mais "passam" a linha da perigosidade para os seus autores. Se ninguém pode negar o choque dos acontecimentos, infelizmente a censura, as ameaças, os despedimentos ou a prisão efectiva de artistas, para não falar de pior, é uma realidade em países como a Turquia, o Irão, o Paquistão, e outros. Recordemos, a título de exemplo, o brutal ataque a Ali Farzat, na Síria, em 2011. Mas ao mesmo tempo, é preciso compreender que existem pessoas também nesses países que mantêm o rumo da liberdade de expressão, precisamente em locais em que o apoio maioritário, imediato e até mesmo político-hipócrita não existe. Neste mesmo IJOCA, o qual, repetimos, sempre se dedicou a dar atenção a estes sectores menos celebrados, aprendemos como Mir. Shakil-ur-Rehman, o dono do grupo que detém o jornal paquistanês Jang, face a pressões políticas, terá respondido: "no risk, no cartoon"... 

Quanto ao livro lido e criticado, trata-se de Graphic Encounters, de Dale Jacobs, um volume que serve de corolário e expansão ao conceito de multimodalidade [e de design] que o autor já havia explorado num número de artigos. A multimodalidade [e o design], neste contexto em particular, que bebe dos trabalhos de Gunther Kress e do The New London Group, trata-se da capacidade de criar uma rede de elementos que fazem emergir sentidos linguísticos,visuais, auditivos, gestuais e espaciais num padrão determinado. De certa forma, poderia recordar algumas das questões estudadas por Ian Hague no seu livro sobre os sentidos na banda desenhada, mas ao passo que o investigador inglês se referia literalmente aos sentidos humanos na sua interacção física com a banda desenhada, Jacobs discute questões da sua representação, mas infelizmente isso nem sempre é claro. Isto é, entendemos perfeitamente que numa banda desenhada existam estratégias de representação visual de odores, ruídos e movimento, mas não podemos falar propriamente de que a banda desenhada tem cheiros, sons e movimento nesse sentido imediato (aí é que entra a análise materialista de Hague).

O autor faz cruzar esse sentido com o de "patrocínio", num sentido também ele específico (e a partir de Deborah Brandt), e que tem a ver com a forma como certos meios de comunicação estimulam a literacia. O livro portanto foca a maneira como vários trabalhos (isto é, os exemplos escolhidos) de banda desenhada vão contribuindo, e ultrapassando ideias de que se trata de um tipo textual "fácil" e "simples", para uma matéria mais densa e complexa. Todavia, o livro é mais um panegírico do que uma discussão matizada e detalhada. E esse aspecto, a nosso ver, enfraquece um pouco a argumentação que poderia ter tido lugar, e havia tido lugar, num dos mais brilhantes artigos do autor, em torno de Nova, um super-herói da Marvel.

Por um lapso de comunicação e/ou editorial, a resenha foi publicada somente sob o nosso nome, mas a sua autoria foi conjunta, como já indicado, com Conceição Pereira. A sua correcção está assinalada desde já no blog do IJOCA.
Nota final: agradecimentos a Conceição Pereira, John Lent e Mike Rhode.

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