Não é a primeira vez que Fernando Pessoa se vê a si mesmo ou
aos seus poemas transmutados em matéria passível de uma vida gráfica, seja ela
em banda desenhada, ilustração ou outras disciplinas que partilham fronteiras
com campos considerados, as mais das vezes, como populares. Todavia, a
sua presença é usualmente a de uma personagem em passagem, um fantasma que traz
algum peso de referência a uma história que não lhe dirá respeito de forma
directa (nós próprios o fizemos numa história curta, lavrada há uns meses). É
possível que uma das mais marcantes presenças neste território tenha sido
quando interrompeu o fluxo dos Piratas do Tietê, de Larte, num dos
episódios mais memoráveis de quem os lia à época. E mais recentemente, foi alvo
de uma fantasia genérica no projecto A vida oculta de Fernando Pessoa,
de André Morgado e Alexandre Leoni, sobre o qual esperamos alguma vez escrever.
Para além disso, e para não entrarmos no campo do cinema, recordemo-nos como
não apenas David Soares teceu uma teia alternativa e mistérica com o romance A
conspiração dos antepassados, mas já antes Pessoa se havia digladiado com
um inimigo portentoso num livro que fez algum furor num pequeno círculo
literário no final dos anos 1980: Fernando Pessoa contra o Homem-Aranha e
outras istórias, de Rui de Souza Coelho. A pessoa fictícia do Pessoa real,
seja ele qual for, não é alheia a estas dimensões. (Mais)
30 de abril de 2016
29 de abril de 2016
Feira Morta/ZDB: Quireward # 01 & outros zines.
Serve o presente post para pura publicidade.
Apesar de já termos posto a circular numa anterior Feira Morta a publicação Quireward (graças ao apoio do Clube do Inferno), é amanhã que será feito o seu lançamento oficial (e aqui, virtual). A nova Feira Morta decorrerá Sábado 30 de Abril e Domingo 1 de Maio, entre as 15h e as 20h, na galeria ZDB, ao Bairro Alto, Lisboa.
A Quireward é uma publicação da nossa lavra, publicada pela Montesinos. Um fanzine risografado (impresso a azul) de 24 páginas de banda desenhada, em inglês, o primeiro número conta com uma história curta completa escrita por nós e desenhada por Mao, o primeiro capítulo de três de uma outra também escrita por este vosso criado e desenhada pelo Sérgio Sequeira, e ainda a primeira parte de duas de uma adaptação da lenda da Dama de Pé-de-Cabra por Ricardo Santo. A capa "wraparound" é do André Pereira, e o design dos Playground.
Para além da Quireward, a Montesinos lançará uma pequena colecção de contos ilustrados, e terá à venda outras publiações. Estaremos na mesa da Oficina do Cego.
Será também a estreia mundial de várias publicações de Juno Moura, entre bandas desenhadas narrativas (A princesa Sara e o passarinho bebé), um livro de etiqueta (capa aqui ao lado) e um livro-jogo. Fanzines fotocopiados a cores, foram produzidos totalmente de forma autónoma. A própria estará presente na Feira no Sábado.
Apesar de já termos posto a circular numa anterior Feira Morta a publicação Quireward (graças ao apoio do Clube do Inferno), é amanhã que será feito o seu lançamento oficial (e aqui, virtual). A nova Feira Morta decorrerá Sábado 30 de Abril e Domingo 1 de Maio, entre as 15h e as 20h, na galeria ZDB, ao Bairro Alto, Lisboa.
A Quireward é uma publicação da nossa lavra, publicada pela Montesinos. Um fanzine risografado (impresso a azul) de 24 páginas de banda desenhada, em inglês, o primeiro número conta com uma história curta completa escrita por nós e desenhada por Mao, o primeiro capítulo de três de uma outra também escrita por este vosso criado e desenhada pelo Sérgio Sequeira, e ainda a primeira parte de duas de uma adaptação da lenda da Dama de Pé-de-Cabra por Ricardo Santo. A capa "wraparound" é do André Pereira, e o design dos Playground.
Para além da Quireward, a Montesinos lançará uma pequena colecção de contos ilustrados, e terá à venda outras publiações. Estaremos na mesa da Oficina do Cego.
Será também a estreia mundial de várias publicações de Juno Moura, entre bandas desenhadas narrativas (A princesa Sara e o passarinho bebé), um livro de etiqueta (capa aqui ao lado) e um livro-jogo. Fanzines fotocopiados a cores, foram produzidos totalmente de forma autónoma. A própria estará presente na Feira no Sábado.
27 de abril de 2016
La république du catch. Nicolas de Crécy (Casterman)
Este é mais um desses projectos que
poderá ser entendido como de crossover, no sentido em que não
é apenas um projecto de produção transnacional como onde duas
linguagens supostamente distintas se nutrem uma da outra para criar
um espaço de encontro. Com efeito, se se acreditar que existe uma
divisão clara entre a banda desenhada ocidental, mormente
francófona, e japonesa (não existe), poder-se-iam arrolar
características antagónicas ou diversas para depois nos
surpreendermos com a sua passagem. Todavia, essa seria uma visão
redutora e não de continuidade e de cruzamentos recorrentes. Ainda
assim, aceitar-se-á que os modos de produção e circulação da
banda desenhada, em termos gerais, é algo diferente entre esses dois
países, o que influencia algumas das práticas, mesmo ao nível do
desenho, mas seguramente que na forma de comunicação com o público. (Mais)
23 de abril de 2016
Os figos são para quem passa. João Gomes de Abreu e Bernardo P. Carvalho (Planeta Tangerina)
Num tempo em que perigosamente a distribuição e acesso a todas
as facetas da vida na Terra é compartimentada por direitos de propriedade
estanques, sopesar alternativas de relacionamento não é apenas importante como
compulsório. A patenteação de produtos agrícolas, até hoje “livres” e “naturais”,
a privatização da água, a re-confirmação de fronteiras intransponíveis, a
hierarquização de importâncias conforme o poder (económico, militar, social), e
a relativização cultural de valores éticos que, sendo esgrimíveis, devem ser
claros, são apenas alguns dos escolhos lançados na tempestade dos tempos
contemporâneos. Uma pequena distância crítica e mecanismos ficcionais, mesmo
que simples (mas não simplistas), é de uma utilidade extrema. (Mais)
18 de abril de 2016
Comic Invention. Laurence Grove e Peter Black (BHP Comics)
Esta caixa é um projecto-companheiro
de uma exposição patente no museu Hunterian, da Universidade de
Glasgow, co-organizada por um dos curadores do museu, Peter Black, e
por Laurence Grove, um investigador académico da Universidade de
Glasgow que tem estudado as relações entre texto e imagem, com uma
especialização na emblemática e na banda desenhada (mormente de
expressão francesa, em torno da qual tem livros e artigos
importantes). A caixa possui cinco publicações fisicamente
separadas, mas que pretendem dar conta das várias dimensões
tentadas nessa exposição, ao mesmo tempo que alertam para dois
princípios: por um lado, o de que a relação da banda desenhada com
o leitor é directa, material, física, exigindo um contributo activo
de construção do significado (qual das publicações ler primeiro?,
que relações construir entre elas?), por outro, a de qualquer
narrativa desejada é sempre composta por linhas diferentes que podem
ter desenvolvimentos distintos conforme a perspectiva de aproximação. (Mais)
16 de abril de 2016
6 livros para a infância ilustrados (várias editoras)
É possível que seja apenas uma coincidência, em que a força
das circunstâncias nos empurra para querer ver uma tendência em que ela pode
não se verificar, mas pensamos que poderão existir, de futuro, outros factores
que confirmem esta ideia. Se temos notado que no campo da ilustração para a
infância tem havido uma maior insistência, quer na produção nacional quer na
escolha editorial, num campo da ilustração que se pauta por princípios de design simplificado, de linhas
geometrizantes, cores planas, etc. (falámos alargadamente desse tema a
propósito das Cerejas), é necessário
não tornar a visão vendada a outras possibilidades de criação. Sobretudo quando
uma certa atenção mediática, expositiva e de crítica (e até de ensino) parece
querer confirmar aquele princípio em detrimento a outras abordagens. (Mais)
12 de abril de 2016
La Crypte Tonique no 12. Les patrons de la bande dessinée.
La Crypte Tonique é uma das
mais estimulantes revistas sobre banda desenhada de que temos
conhecimento no momento, à margem da produção académica
propriamente dita. Órgão oficial da alfarrabista-galeria homónima
de Bruxelas, dirigida por Philippe Cappart, cada número pode mudar
drasticamente de formato, tamanho, tema e forma de trabalho. Se houve
números dedicados a autores e/ou obras (François Walthéry e Felix
the Cat), a maior parte deles dedica-se a dimensões mais
alargadas, estruturais da banda desenhada: o seu comércio em
Bruxelas, a questão da legendagem, a representação da Idade Média
ou dos negros, e até a “retranscrição gráfica do movimento”... (Mais)
9 de abril de 2016
Industrial Revolution and World War. Shintaro Kago (UDWFG)
Este será um brevíssimo texto sobre este pequeno álbum do
autor japonês, que tem a particularidade de ser um nome conhecido e admirado
entre os leitores de scanlations
(isto é, edições “piratas” acessíveis na internet, com traduções e edições amadoras,
o que não significa necessariamente com qualidade menor), mas cuja circulação
por edições comercialmente acessíveis é bem menor. Na verdade, esta edição, da
italiana Hollow Press/UDWFG, que se dedica a uma linha negra da criação de
banda desenhada (horror, críptico, gótico, monstruoso, etc., e a que
regressaremos em breve quando falarmos da revista homónima), é a primeira em
língua inglesa a solo (história curtas haviam sido publicadas, como “Punctures”,
em Secret Comics Japan, da Viz, em
2000) após alguns títulos de Kago em francês. (Mais)
8 de abril de 2016
Alpha... Directions. Jens Harder (Carlsen/Actes Sud/Knockabout Comics)
À
medida que a banda desenhada vai conquistando cada vez mais
territórios em termos de topicalidade, circulação e até mesmo
ontologia, vão surgindo igualmente projectos que se apresentam com
um grau particularmente alto de ambição. Jens Harder, o autor de
Leviathan, o livro cujo pequeno texto estreou este mesmo espaço, pretende nada mais nada menos do que criar uma série de
livros que encerram a história de tudo. Neste momento, os
dois primeiros volumes estão disponíveis em várias línguas, mas
aqui apenas abordaremos com precisão o primeiro, que lemos com mais
atenção. (Mais)
4 de abril de 2016
La colère de Fantômas, 3 vols. Olivier Bocquet e Julie Rocheleau (Dargaud)
É bem possível que
tenha sido em relação a Fantômas que Freud se referia, no seu ensaio “Sobre o
narcisismo: uma introdução”, quando escreveu a seguinte passagem: “…mesmo os grandes
criminosos e os humoristas, conforme representados na literatura, atraem nosso
interesse pela coerência narcisista com que conseguem afastar do ego qualquer
coisa que o diminua. É como se os invejássemos por manterem um bem-aventurado
estado de espírito - uma posição libidinal inatacável que nós próprios já
abandonamos”. Ora, será precisamente esse “bem-aventurado estado de espírito”
que informaria, antes e depois, as personalidades de todos os heróis (no seu sentido literário, não
moral) que alimentariam os ribeiros da cultura popular? Encontramos neles algum
tipo de prazer (“posição libidinal”) que não poderíamos nutrir, enquanto
cidadãos de uma civilização imbuída dos seus valores simbólicos (“já
abandonamos…”)? (Mais)
1 de abril de 2016
Unflattening. Nick Sousanis (Harvard University Press)
O surgimento, recepção e impacto de Unflattening têm sido significativos, se bem que algo confusos. O
que nós próprios cumpriremos não deixará de partilhar algumas das contradições
que a obra parece suscitar. Se bem que a leitura deste livro tenha sido feita há
algum tempo, a sua demora deve-se ao facto de esperarmos que se tornasse
pública uma entrevista que fizemos ao autor, em colaboração com Hugo Almeida. A
entrevista foi publicada no site The Comics Alternative, com quem temos vindo a
colaborar e encontra-se disponível aqui. (Mais)