15 de abril de 2018

Futuro proibido. Pepedelrey (Escorpião Azul)


Primeiro capitulo do que se adivinha ser uma longa saga de ficção científica, este volume de 60 páginas não irá satisfazer modos clássicos e contidos de constituir uma acção narrativa. Se começamos num local, rodeados de personagens que mal criam relações entre si para o leitor e começa a emergir uma possível intriga concentrada, logo há uma rasteira que impele todo esse mundo para segundo plano. Mas quando julgamos ter atingido um outro nível, que nos permitisse cartografar a dinâmica, dá-se outro salto. (Mais)

A leitura da capa far-nos-ia pensar numa intriga em torno de uma sociedade num futuro próximo mas nos moldes das distopias: sinais visíveis da decadência urbana, ciborgues, personagens fantásticas, mistério, alienação estão ali prometidas. Mas Futuro Proibido lança mão de muitos outros elementos ou tropos da ficção científica num frenesim de assalto ao super-mercado. Ficção militar, magia, missões espaciais, espécies alienígenas, colonialismo, navegação sideral, guerras interestalares, tudo isso está presente.

Pepedelrey, que tem cultuado uma assinatura muito próxima da improvisação pura, encontra aqui um veículo para conduzir a sua bílis, sarcasmo e verve política (a divertida prancha dos soldados a declarar “nada” assinala-o solidamente), sinais indeléveis da sua obra, num projecto que poderá vir a tornar-se mais denso. Mas este primeiro volume está mais próximo precisamente de um exercício livre. O que significa que nos recordarmos das primeiras páginas de A garagem hermética, de Moebius, não seja de todo descabido. Não falamos (ainda?) da saga completa do autor francês, que acabaria subsumida a um género de aventuras particularmente domesticado, por mais elementos que acumulasse, mas da aventura sem rede processual dos primeiros números da Métal Hurlant. Moebius avançava sem saber muito bem para onde ir e, diz o autor, chegou mesmo a enviar páginas sem se recordar bem do que havia entregue anteriormente.

Não diremos que o autor português não saberá onde ir, mas neste primeiro volume joga com as actas junto ao peito, e não permitirá criar expectativas domesticadas ainda sobre o desenvolvimento da saga. Tudo está em aberto.

Pois também em Futuro Proibido atravessamos várias “etapas”, digamos assim, que são ocupadas por grupos de personagens bem distintas entre si, e sem qualquer cruzamento claro, que nos impede de os agregar numa visão coerente. Um quartel-general entra em alerta devido à fuga de uma prisioneira. Tudo destruído, descobriremos uma espécie alienígena pronta a colonizar a Terra, e parece que a colheita de cérebros humanos ajudará a uma agenda secundária. Uma missão num satélite sobrevive durante uns momentos, mas são debelados outros agentes da invasão. Depois, testemunhamos o “renascer” ou “regresso” de um humano, numa outra colónia militar. Confuso, a personagem diz “...não entendo...”

O leitor tampouco, lançado nesta tempestade de acções e personagens. O capítulo que se seguirá virá trazer elementos de explicação e condução. É esperar por esse próximo futuro.
Nota final: agradecimentos à editora, pela oferta da publicação.

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