3 de fevereiro de 2020

Maximum Troll On. Benjamin Bergman (Mmmnnnrrrg)


A convergência da cada vez mais forte da capitalização de tudo, inclusive as culturas populares, que inclui as sub-cultura infanto-juvenil, geek, e high fantasy, e os modos como criam zonas de intersecção, levam a que seja sempre particularmente complicado conseguir escapar a certas fórmulas e tropos associados a géneros determinados. Este minúsculo livro, que junta quatro aventuras de dois aparentes cavaleiros de ar medieval, e cuja continuidade entre si é discutível mas uma clara possibilidade, cria elos mais o que óbvios com sagas como O Senhor dos anéis, e todos os textos derivados, da obra de R. E. Howard (Conan e Kull) e, mais recente, A Guerra dos Tronos

Porém, o autor está menos interessado em criar uma variação sobre esses temas, ainda assim contribuindo para esse edifício, no típico exercício de “resposta literária” que constitui os próprios campos temáticos, do que transformá-lo num quase independente exercício de retórica livre, experimental e alucinada. (Mais)
Com vinhetas densamente populadas pelas personagens e paisagens, em enquadramentos drásticos e hiperbolizados, e cores planas radicais, com uma composição de malha apertada, sem filamentos brancos entre vinhetas, há por vezes mesmo páginas de difícil leitura, que obrigam à releitura para compreender o último gesto, movimento ou acção. Pois o que importa é continuar em frente, numa contínua velocidade de dissolução.



As duas personagens têm tanto de típicos companheiros-de-armas nas epopeias heróicas como de Estrumpfes. E se encontram vários inimigos monstruosos, entre uma diversidade de trolls, criaturas análogas a Chtulhu, gigantes bárbaros, ratos gigantes, também podem ser acossados por robôs de gelo interessados em roubar escalpes e outros bosses. E, encontrando objectos mágicos ou atravessando etapas previstas em Dungeons & Dragons, são bastos os que tombam de outros géneros (ficção científica) ou que deverão muito aos underground comix.


No final dos anos 1970 e depois 1980, existiam bonecos de PVC com cores garridas de todas as séries de animação, banda desenhada e outras. Tendo todas o mesmo tamanho, era prática comum guardá-las no mesmo local e não haveria quaisquer limitações a, quando se brincava, criar crossovers. O Estrumpfe de óculos e o Marco da Montanha podiam perfeitamente juntar-se para dar cabo do Flip, da Abelha Maia, enquanto o pai do Vickie e Willy Fog faziam apostas. E havia uma certa beleza em tê-los simplesmente empilhados, onde as formas de plástico e as cores garridas se misturavam num padrão promissor, numa espécie de alucinação visual sem drogas e confortavelmente caseira. Folhear Maximum Troll On partilha dessa energia.

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