Este é um objecto ambíguo. Por um lado, é um livro que pretende apresentar-se como um retrato dos cinquenta anos desde que Almada se tornou cidade. É dessa forma que o projecto emerge, do ponto de vista editorial, político e financeiro, no seio dessas mesmas comemorações. Por outro, por graça dos seus autores, a sua matéria tece-se como uma ficção em torno de um par de personagens, e tenta criar uma intriga misteriosa, fantástica até, que se vai intercalando com momentos conhecidos, importantes ou marcantes desses mesmos 50 anos.
De uma forma sucinta, o livro centra-se na vida de um jovem rapaz, Pedro, que nasce em 1973 e vai vivendo em Almada até aos anos 1989, o momento mais avançado na diegese do livro. Dessa forma, imaginamos, estará próximo da vivência empírica do argumentista deste livro, Carlos Guerreiro. Mas Pedro tem um elo com o seu tio Vasco, relojoeiro, que a dado momento da sua vida desapareceu, coincidindo quase com o fecho e desmantelamento do famoso farol de Almada, posteriormente recolocado na ilha Terceira. Esse elo traduz-se através do tropo do “objecto mágico”, no caso, um gnómon, que é mapa, pista e chave do tal “mistério”, e este revela-se ser uma “máquina no tempo”.