12 de outubro de 2005
SPX 2005. AAVV (CBLDF)
Conforme de há uns anos a esta data, as antologias da SPX não apresentam somente (ou sequer) os participantes da exposição que lhe dá nome (Small Press Expo), como uma escolha muito específica e sob um tema geral à publicação. É como se se tratasse de facto de uma exposição, comissariada por um nome e dirigida através de uma ideia (as viagens, a guerra). De acordo com o texto que está no seu site pretendeu-se “voltar às raízes”, convidando um editor; no entanto, ainda se pode manter a ideia desse editor como uma espécie de “comissário”. E este ano é de peso: ou melhor, começa a ganhar peso: Brian Ralph, membro do colectivo de Fort Thunder e autor de títulos como Cave-In, Climbing Out e Crum Bums (que, diga-se de passagem, não consigo apreciar, não obstante o meu gosto por “alternativos”). Não se podendo encontrar, desta feita, um tema específico a todas as histórias, elas não deixam de vogar sob os nossos olhos sob a sombra do seu comissário. Sombra tutelar, claro, mas ainda assim marcante de uma certa ambiência.
E essa ambiência ou tema residual é a indulgência. Como em todas as antologias da SPX, encontrar-se-á aqui ma grande variedade, desde trabalhos de autores mais famosos (publicados) a outros mais obscuros (fanzines locais), desde trabalhos que revelam alguma maturidade, ponderação no modo a que se entregam, insistência em criar algo com significado, e outros exemplos de “meia-bola e força” típicos de quem mistura “liberdade de expressão” com “qualquer coisa serve”. Se bem que sabemos que qualquer coisa expressa tem, óbvio, expressão, é possível no entanto discernirmos se essa expressão é necessária, imperativa ao autor, ou se é apenas um exercício qualquer de mãos desocupadas.
A inclusão de desenhos livres de Marc Bell (e um amigo), por exemplo, não me parece uma tentativa de alargar o entendimento do que os “comics” podem ser, mas uma atitude displicente de incluir uma sobra que se tinha lá por casa. Existem muitos exemplos aqui de histórias de banda desenhada tout court mas também “poeticidades do eu”, fracas, desprovidas de qualquer narrativa ou linha de fuga lógica, como se bastasse erradicar essas seguranças de uma obra para se tornar “interessante”, “alternativo”. Apesar de ser uma antologia livre, cuja organização é precisamente pela defesa da liberdade de expressão na banda desenhada – um problema específico nos E.U.A. -, a esmagadora maioria destas histórias não destoaria de uma antologia virada para crianças, não devido a uma qualquer universalidade, inocência, descontracção criativa, mas porque poucas atingem um grau mínimo de satisfação adulta.
Ainda assim, e como qualquer antologia, terá os seus momentos de glória e satisfação, tal como as suas desilusões. Quanto às desilusões, a história de Bertozzi não faz jus do seu demoradíssimo Rubber Necker, surgem pelo menos dois “acólitos-epígonos” (Drew B. White d’après Brian Ralph, Jeff Czekaj d’après Kochalka e outros, Vinh Ngo d’après Patrick McDonnell, etc.), situação que já ocorrera em edições anteriores; entre outros trabalhos nulos, que mais vale não citarmos. Já para os melhores momentos, fale-se da história de Jesse Reklaw que vampiriza o Maus de Spiegelman para uma rememoração dos anos 60 em Berkeley (esta história não é inédita, mas não me lembro onde a vi); uma “intervenção” de R. Sikoryak que mostra mais uma vez onde o pastiche pode levar; uma misteriosa pequena saga de Brian Chippendale; e as quatro páginas de amizade bucólica de Joe Derry. De resto, é resto.
É ou deve ser também evidente que, ao sermos confrontados com esta litania, uma sucessão tão diversa de trabalhos, a sua fruição se torna necessariamente contaminada. Temos de fazer um pequeno e diferente esforço para poder discernir portanto tanto cada uma das “peças” na sua importância e vitalidade individual como a razão que as torna relacionáveis umas com as outras. Finalmente, e apesar da escolha da organização da SPX se descartar dos temas querer passar-se por uma mais-valia, a verdade é que um certo foco permitido pelo tema garantira antes alguns anos de excelentes colheitas (2001, 2002). Por vezes, mas só por vezes, a “liberdade total” coincide com “falta de rumo”...
Olá... Para comprar volumes antigos da SPX, nada melhor que qualquer das livrarias na internet, buscando com "Comic Book Legal Defense Fund" (é mais fácil). A de 2003 é subdistribuída pela Top Shelf (google nele). Se estas soluções não servirem, escreve-me outra vez (ainda há ebay, abebooks.com, etc.).
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