L’Horreur est humaine é uma daquelas publicações que torna a discussão entre o que é um fanzine e o que não o é, ou já não é, etc. vivas. Mas não será essa a discussão a desenvolver aqui. Mais, e na verdade, desta feita não se trata mais do que um mero recado da existência desta publicação. No site da editora (Humeurs), que publicou livros como as absurdas espatafurdices de Hironori ou os aparentemente infantis L’Amateur, de [Yves] Got (na verdade, continuando a sua tradição do Le Baron noir, com Pétillon), podemos ver o inexorável avanço da fanzine L’Horreur est Humaine desde o inicial grupo de comparsas relativamente unidos pelas circunstâncias ao imenso novo volume de mais de 400 páginas, com um imenso grupo de participantes, um pouco de todo o lado, de todos os tempos, de todos os quadrantes da ilustração, banda desenhada, cartoon, desenho livre, experiências visuais, etc. A lista completa dos autores (que surrupiei do site) é a seguinte: Aleksandar Zograf & Robert Crumb, Alexis Lemoine, Atak, Aude Picault, Basil Wolverton, Blanquet, Boris Artzybasheff, Carlos Nine, CF, Charles Burns ,Charlie Schlingo, David Sandlin, Elvis Studio (Helge Reumann & Xavier Robel), Eric Pougeau, Ethan Persoff, Gustave Doré, Gutherz, Jean Michel Bertoyas, Jim Woodring, Johnny Ryan & Peter Bagge, Kikuchi Hironori, Ludovic Debeurme, Mark Newgarden, Marko Turunen, Matthias Lehmann, Medi Holtrop, Morgan Navarro, Ohta Keiichi, Olivier Texier, Pascal Doury & Bruno Richard, Pascal Girard, Pyon, Rémy Cattelain, Romain Slocombe, Ruppert & Mulot, Suzy Amakane, Sylvain Gérand, Tobias Schalken, Yves Chaland.
O único senão, típico talvez de bibliómano, é a falta das indicações das proveniências dos trabalhos, com as indicações de datas de publicação, origem dos artistas, etc., - que também se verifica nos excertos colocados online - o que transformaria este livro numa verdadeira enciclopédia de referência. Pois como se entende, há aqui um pouco de tudo, o que a torna uma das melhores antologias do momento, que tanto serve de catálogo à contemporaneidade (Atak, Turunen, Gutherz, Navarro, Bertoyas, C.F., Woodring, Debeurme, Texier [de quem mostramos uma página, acima, de uma variação divertida sobre a "heroic fantasy", sobretudo dirigida à camada homofóbica que a compõe], Ruppert & Mulot) como de repescar da história (Doré, Chaland [que aqui mostramos com a sua série de serigrafias ou pseudo-história Cauchemars, em que une o estilo de George Barbier ao terror onírico], Artzybasheff, Wolverton, Nine, Schlingo), como ainda de descoberta de OBDNIs (“objectos banda desenhísticos não-identificados”), com os trabalhos de Schalken, Sandlin, Richard & Doury, Pyon, e, lateralmente, à obra fotográfica fetichista de Romain Slocombe. Um excelente contributo ao pensamento deste território, e a descobertas salutares, não só de nomes e conteúdos ao mesmo território, como das possíveis relações que se podem estruturar entre esses mesmos exemplos. Não tem nada a ver com coleccionismo, nostalgia, completismo, ou um contributo aos “grandes indispensáveis” do bedéfilo. O que apenas abona seu favor.
Nota: agradecimentos a André Lemos pelo empréstimo do volume. Mais 50 Euros a gastar... ;(
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