Começo imeditamente por dizer que, tendo tido a honra e o prazer de ter escrito a introdução a este livro, encontrarão nesse texto razões de sobra para a apreciação que tenho a fazer deste livro.
Se bem que não seja o livro de maior músculo de David Soares, e mesmo Osvaldo Medina tenha reservado algumas das suas maiores forças noutros projectos, a breve novela que é composta por Mucha, de uma leitura rápida, impressionista e, esperam os autores, incómoda, é uma experiência curiosa a vários níveis.
Não só pela natureza do trabalho de colaboração entre Soares e outros desenhadores – ocorreu de uma maneira magistral em Mr. Burroughs, com Pedro Nora -, que aponta a uma eventual produção do escritor de vários trabalhos na veia do horror para serem cumpridos por vários artistas, mas também pela natureza da sua edição. Mário Freitas, além de arte-finalista, é o editor por detrás da Kingpin Comics, que se mostra seriamente preparada para a construção de um catálogo muito próprio, individual naquilo que passa pelo mercado em Portugal. O seu objectivo não é a criação de títulos “independentes” no seu sentido mais experimental, artístico, ou outro adjectivo similar, mas sim o avanço de uma plataforma “alternativa” às editoras maiores que teimam em não encontrar soluções de criação de novos públicos e novas linguagens no interior da banda desenhada. A Kingpin, a seu modo, e juntamente com outros projectos, aposta nessa vertente comercial.
Se A Fórmula da Felicidade foi um desses gestos maiores, Mucha é um outro.
A plasticidade de Medina, corroborada pelo trabalho de Mário Freitas, tem aqui uma vertente bem diferente daquela presente na colaboração com Nuno Duarte, ou com Pepedelrey. Revelo aqui uma das pranchas a lápis, com autorização do autor. os desenhos apresentam-se de um modo mais despojado, mais terra-a-terra, até mesmo com alguma fealdade distribuída nos rostos das personagens, o que não é senão um bom equilíbrio em relação à trama planeada pormenorizadamente por David Soares, a qual também se apresenta de uma forma mais subtil, menos barroca, do que noutros dos seus trabalhos, inclusive o literário. O “barroco” aqui nada tem a ver com um posicionamento negativo, ao qual se oporia um preferencial classicismo. Tem a ver com uma exuberância de que Soares é capaz de tecer e equilibrar, mas que, em Mucha, está ausente. Porque o que importa é sublinhar a linearidade do horror que ocorre a esta população e a esta mulher. Como termino o texto na introdução, “porque, a cada vida, bata um só terror para acabar com ela”.
Nota:Agradecimentos ao Mário Freitas pela oferta do livro, ao David Soares pelo convite, e a Osvaldo Medina, pela autorização da publicação do desenho a lápis.
Onde é que existe à venda o "Mr. Burroughs"?
ResponderEliminarCara Ana Luísa,
ResponderEliminarPor variadíssimas razões, não o encontrará à venda comercialmente. A únca hipótese são feiras, leilões, ou o que for que lhe dê acesso a um exemplar em segunda mão... Tem uma edição em francês, disponível, pela Fréon/Frémok, mas se pretender a original, é difícil. Na verdade, creio que ela existe ainda, mas as razões que dizia acima não lhe dão acesso...
Boa caça!
Pedro
ResponderEliminarDisseram-me que é um livro que saiu há bastantes anos.
Adoraria ler a edição portuguesa mas apenas encontrei a francesa.
De qualquer maneira, obrigado pela informação.
Vou continuar à procura.
Sim, o livro saiu em 2000 pela Círculo de Abuso, que era o selo editorial para as edições de autor do David Soares, o escritor. Entretanto em 2003 sai a edição francesa. Quando o David termina a auto-edição e passa a dedicar-se a tempo inteiro à escrita, os livros deixam de circular (não são representados por nenhuma distribuidora). Eventualmente ele até poderá ter alguns exemplares, mas não aconselharia a um contacto directo, apesar da simpatia e disponibilidade do David Soares. Penso que a Feira da Ladra, sites online e encontros de bd em segunda mão são possíveis locais de procura, ou livrarias (Dr. Kartoon, Mundo Fantasma) com eventuais armazenamentos. Se tiver dificuldades nesses locais, deixe-me uma nota e posso tentar ajudar mais. Se é uma questão de apenas o ler (e não ter), sempre tem a Bedeteca de Lisboa (se for de Lisboa) ou... do LEBD!
ResponderEliminarPedro
Encontrei-o por acaso neste site:
ResponderEliminar-> https://www.bulhosa.pt/livro/mr-burroughs-david-soares/
Enviei-lhes um email e estou à espera de uma resposta para saber se o livro está de facto disponível.
Gostaria imenso de o ter mas já me contentava muito bem só em lê-lo.
Vivo em Coimbra. De livrarias de BD só conheço mesmo a BDmania e a Naraneko. Terei de lhes perguntar.
Bem, quanto a feiras e a sites, duvido que encontre. Mas lá vou tentar. Encontros de BD parece-me um pouco complicado - penso que não há nenhum cá em Coimbra e acho que também não irá haver em breve.
Agradeço muito a sua ajuda. Hei-de encontrá-lo em algum lado.
Perdão, fiz confusão. A BDmania é em Lisboa, a Dr. Kartoon é que é em Coimbra.
ResponderEliminarCara Ana Luísa,
ResponderEliminarSe é de Coimbra, de facto aconselho vivamente o contacto com a Dr. Kartoon, onde encontrará pessoas com um grande conhecimento do mercado, dos autores e da "cena", e com uma simpatia que seguramente a colocarão no caminho certo. Quem sabe ainda teriam "escondido" um exemplar...
Boa sorte!
Sim, o senhor da Dr.Kartoon (peço desculpa, mas não me lembro mesmo do nome dele) é de facto simpático e esclarecedor. Um dia destes pergunto-lhe.
ResponderEliminarObrigado