Balanço 2.
Não há outro modo de o dizer: apesar desta ser uma publicação da responsabilidade e vontade do próprio FIBDA, o convite que estenderam a Sara Figueiredo Costa (que, digo desde já com a finalidade da clareza crítica e confissão de conflito de interesses, é não apenas minha amiga pessoal, como companheira de armas em várias frentes associadas à banda desenhada, ilustração e áreas contíguas, vítima das minhas insistentes dúvidas) leva a uma importante inflexão no tipo de discurso pelo qual o FIBDA é conhecido, ou bem pelo contrário, pouco conhecido, no que diz respeito às publicações que lhe estão associadas (mormente, os catálogos de cada ano).
O livro em si apresenta-se com um fim extremamente simples. Fazer um breve balanço da história de duas décadas completas da elaboração do seu festival. Assim sendo, temos as inevitáveis listas de datas, premiados, participantes, etc., mas essa inevitabilidade nada tem de negativo, bem pelo contrário, são um instrumentos sine qua non não se poderia exercer um balanço verdadeiramente digno desse nome, isto é, com distanciamento crítico, de catalogação e categorização dos gestos, de remistura e refundição do olhar que o FIBDA proporcionou sobre a produção de banda desenhada. O papel deste Festival, assim como do CNBDI, ao qual está intrinsecamente ligado, é fulcral no avanço desta arte em termos de memória histórica, de criação de massa crítica, de fomento do estudo desta arte. Nem sempre os gestos do FIBDA se revestiram de interesse crítico, e muitas vezes é mesmo uma política acriteriosa que pauta as exposições, as formas de aproximação, as políticas de divulgação e a preocupação com os públicos.
Este volume tem textos de Nelson Dona e de Cristina Gouveia, o primeiro incidindo sobre o traço geral percorrido pelo Festival, cuja importância é inegável, e o segundo focando num dos grandes trunfos do CNBDI, que é o papel que tem em salvaguardar parte do espólio artístico da banda desenhada portuguesa, através dos originais que compõe a sua colecção. Mais, o volume tem um anexo com uma selecção ponderada e rica de alguns desses tesouros. São duas das dimensões que tornam o FIBDA o maior festival neste momento em Portugal desta área, e que, por essa mesma razão, lhe incutem responsabilidades que nem sempre são cumpridas da melhor forma ou pelo menos da forma mais acabada. Mas há passos nessa direcção, não apenas assegurados pelos variadíssimos colaboradores de sempre do FIBDA, os investigadores e comissários e divulgadores de banda desenhada que a cada ano contribuem com o seu gesto integrado, mas também com os novos colaboradores que tentam pequenas curvas. Neste último capítulo, Sara Figueiredo Costa, que colabora com o FIBDA de há 5 anos para cá, tem demonstrado um trabalho aturado, sobretudo na dimensão textual (é neste momento que devo tornar claro que também eu tenho colaborado esporadicamente com o FIBDA, sobretudo com pequenas exposições; o texto com que colaboro neste volume diz respeito à exposição sobre alguns autores contemporâneos, e, por essa razão, é um tanto ou quanto deslocado do âmbito do Almanaque, perspectiva que ganhei posteriormente e que não atribuo aos seus editores, a quem reitero o agradecimento pelo convite).
Dito isto, o coração deste livro é o texto de S. F. Costa, o qual aborda questões que atravessam os últimos 20 anos da banda desenhada no país, passando pela questão maior da edição, dos papéis dos festivais, da sua recepção social, da sua divulgação mediática, da sua apreciação crítica e do seu ensino. Sendo um texto de balanço, e não uma tese, o texto é justíssimo no seu equilíbrio, nas vozes participantes, nas perspectivas avançadas. Trata-se menos de um trabalho de conclusões (se bem que ele as avance ou proponha) do que uma agregação, explanação e esclarecimento do território sobre o qual importa fundar abordagens críticas. Algum trabalho nessas frentes está feito, mas não o suficiente. É isso a que S. F. Costa alerta, sobretudo, no seio precisamente de um dos eventos que o poderá melhor proporcionar.
Espero, portanto, que este livro sirva como o que ele é: não um retrato inerte do que passou, mas uma cunha que abra ainda mais uma porta cada vez mais ampla nos discursos em torno da banda desenhada.
Nota: agradecimentos ao FIBDA, pelo convite e pelo envio do livro.
Após uma pesquisa na internet fiquei como estava antes, sem saber como adquirir o almanaque, podia informar-me como o posso fazer?
ResponderEliminarOlá, Ricardo Baptista,
ResponderEliminarA forma mais simples será contactar o próprio CNBDI (www.amadorabd.com), na Amadora, e inquirir junto a eles como poderá comprar ou adquirir uma cópia.
Boa sorte,
Pedro Moura
Muito obrigado.
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