Este livro terá sido produzido ao mesmo tempo, ou na companhia de A Noiva que o rio disputa ao mar, de Cotrim e Rocha. Trata-se de um volume que engloba oito bandas desenhadas de média-metragem, todas de dez páginas, de (por ordem de entrada) Alex Gozblau, Filipe Abranches, Ricardo Cabral, Jorge Mateus, Zé Manel, Pedro Brito, Susa Monteiro e Daniel Lima, e mais uma série de peças de uma só página por dezanove novos autores, tudo fruto de workshops dirigidos por Pedro Brito em duas escolas locais.
Como não pode deixar de ser, quer os veteranos quer os benjamins oferecem trabalhos de vária índole, humor, estratégias e, também, resultados. Em termos gerais, e desconhecendo os métodos do workshop de Brito, e tendo ainda a consideração a idade e/ou formação dos participantes, a maior parte destas histórias de uma página acabam por roçar os mesmos temas ou inquietações, como por exemplo a relação de amor-ódio pela cidade onde se vive ou estuda ou onde se nasceu, pequenos exercícios de humor em torno das rotundas (de que muitas cidades portuguesas se orgulham ser a capital), escapes e fantasias, ou pequenas homenagens aos “postalinhos” da terra, alguns até roçando maiores ironias, como a de duas pontes numa brevíssima cavaqueira (Bruno Serra). Mas de todas elas, permitam-me destacar a banda “fotografada” de Alfredo Gomes que abre essa secção, cuja atenção e ritmo nos oferece uma excelente pausa.
Quanto aos veteranos, também encontramos vários sabores, como convém a uma cidade à beira-mar, entre o peixe e os figos. Alguns dos autores mergulham em memórias pessoais (que desconhecemos se são fictícias ou verdadeiras, mas o que importa é o que e como se confessa à beira-da-página), como os casos de Gozblau e de Abranches, o primeiro perscrutando uma obsessão com o que se encerra no fim das coisas, e que se descobre depois deles, o segundo elaborando uma tão palavrosa como texturada história (não suas características constantes), em torno de um olhar fotográfico – ecoando o Caga-Ferros d’A Noiva? – que tanto recupera do seu baú de memórias como inventa novas capturas contemporâneas. Outros escutam as conversas de quem passa, como Ricardo Cabral e Pedro Brito, o primeiro de um modo mais desconexo (ainda que provoque ligações de vinheta a vinheta, sopesando um humor muito próprio), como quem vai num passeio, e o segundo pesquisando e dando voz aos velhotes da terra, à la David Greenberger, com resultados inesperados. Daniel Lima, utilizando um texto de uma colaboradora, cria aquilo que parece ser um típico, ou menos típico talvez, romance de Verão, com as cores do limão (uma pequena alucinação gráfica muito próxima em termos de respiração do seu filme animado, com João Paulo Cotrim, Um degrau pode ser um mundo).
Os outros autores, independentemente do momentâneo elo que conseguem de uma bela imagem ou uma boa frase (penso sobretudo em Susa Monteiro), apresentam trabalhos um tanto ou quanto desinspirados e tíbios.
Nota: agradecimentos à CMP, pelo envio do livro.
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