O que é preciso é começar 1.
Na formação das crianças, é muito importante tirar partido da primeira fase de aprendizagem verbal, a qual acompanha igualmente a fase de aprendizagem dos primeiros modos de categorização do mundo. É importante, naturalmente, que as crianças aprendam as categorias e as regras do nosso mundo social, para que nele se integrem. Ética e politicamente, isso integrá-las-á em todos os problemas que daí advêm, claro está, mas - gigantesca dúvida: será a resistência a esses problemas preferível às alternativas da própria formação?
Em todo o caso, faz todo o sentido também tirar partido dessa mesma formação, desse intervalo entre a procura de uma sólida categorização e o espaço das dúvidas, para fomentar também mecanismos de liberdade na associação de ideias, de objectos, de realidades.
É aí que entra um livro desta espécie. O texto deste livro, de Rodari, é muito simples e escrever toda a frase que o compõe ocuparia mais espaço que qualquer destes parágrafos. Mas o que ele propõe é compreender que, para fazer uma mesa, se pode olhar para além das mãos humanas e da dimensão comercial, e encontrar as reverberações que se mantêm na natureza. As imagens criadas posteriormente por Silvia Bonnani são colagens também elas simples, que fazem emergir figuras de uma absoluta legibilidade, ainda que a sua composição interna oscile entre a mesma clareza e encontros desviantes curiosos: por exemplo, pétalas de flores pode ser compostas de fotografias de rosas, tampos de madeira feitos com imagens de madeira, mas laranjas podem ser preenchidas por labaredas, copas de árvores por massa com pesto.
O texto, de uma maneira linear mas atravessando campos inteiros de categorias separadas pelo nosso racionalismo, as imagens, colhendo de inúmeras fontes e deixando que elas se encontrem num mesmo plano de concórdia, fazem o mesmo gesto: sulcar caminhos que atravessem fronteiras e permitam a outros segui-los. O que é preciso? Começar.
Nota: agradecimentos à editora pela oferta do livro.
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