Destes cinco últimos livros de Edmond Baudoin, quatro são fruto de colaborações, diferentes entre si. As ilações que se podem tirar daí revelariam de vários factores. Um sucesso que Baudoin tem conquistado substancialmente nos últimos anos em vários círculos, expressos até pelo facto de serem estes livros em várias editoras. A sua exposição cada vez mais alargadas, que o permitem empregar os seus instrumentos expressivos e as suas matérias predilectas em várias frentes. A conquista de um espaço social e económico que lhe permitirão uma vida mais feliz, sem que com isso leve a uma sobreexposição que enfraqueça a sua produção artística. E a alegria, junto aos seus autores, de verem aumentada a dieta de acesso à sua contínua, e crescente, obra. Vejamo-los.
Le marchand d'éponges. Fred Vargas e Edmond Baudoin (Librio). Esta é a segunda vez que as imagens de Baudoin seguem as palavras de um polar da escritora Fred Vargas. Mas enquanto Les quatre fleuves se tratava de uma verdadeira colaboração a quatro mãos, Vargas providenciando a matéria narrativa, os belíssimos diálogos, e o ambiente urbano de uma Paris que os leitores de Jean-Patrick Manchette ou Léo Malet via Tardi se recordarão, este pequeníssimo livro (umas 50 páginas) é um trabalho posterior de Baudoin sobre uma novela anteriormente publicada: “Cinq francs piéces”, de Coule la Seine (mas Baudoin havia ilustrado essa edição).
Um sem-abrigo é testemunho de um assassinato, de uma jovem mulher que se adivinha ser parte dos aparelhos políticos vigentes, mas ele não em qualquer desejo em se ver misturado nas intrigas e pressões policiais. É o inspector Adamsberg (que volta a ter o rosto de Baudoin emprestado) que serve de espaço dialogal humano entre a autoridade prepotente e a escala humana, marginal, do velho Pi e o seu companheiro, Martin, o carrinho de compras com o qual empurra 9732 esponjas, que espera vender a um Euro cada (originalmente, “cinco francos”) para chegar a uma possível fortuna.
A escrita policial de Vargas está menos preocupada com os enigmas básicos de quem-fez-o-quê-porquê-e-que-castigo, do que nas ondulações que os “factos crime” provocam no tecido imediatamente envolvente, sendo estas criaturas secundárias da cidade de Paris os protagonistas da focalização. Adamsberg é, naturalmente, o “foco” fictício das preocupações do(s) autor(es), num nível clássico da óptica criada pelo género policial, que tem mais a ver com essa escala ao nível da rua, uma visão de proximidade do homem da multidão, do que as panorâmicas de outros géneros que procuram abarcar territórios mais vastos, da História, por exemplo. Aqui, atravessa-se antes uma circunscrita e ininterrupta paisagem, mas com tempo suficiente para discernir os rostos e aprender os nomes que a compõem.
E os instrumentos de Baudoin, como sempre, tanto permitem uma proximidade maior destas personagens, pela “invasão gráfica” pelos seus mundos interiores (visão, memória, sonhos) como pela extensão da atenção dos espaços sociais apresentados, como esta imagem, cena na qual vemos representar-se em primeiro plano a discussão de dois amantes, ainda que apenas “oiçamos” o diálogo entre Adamsberg e Pi.
Viva la vida. Los sueños de Ciudad Juarez. Edmond Baudoin e Jean-Marc Troub’s (L’Association). Este livro concatena vários géneros. É um diário de viagem e é uma reportagem. É um diário de uma convivência a dois, e de um processo de trabalho. É uma interrogação sobre o estado dos factos que constituem o mundo, e tentar perceber ao mesmo tempo se haverá outros factos passíveis de circularem nele. E é uma máquina de capturar sonhos, para depois os redistribuir.
No seu programa principal, Viva la vida é um livro que dá conta da viagem de Troub’s e Baudoin a Ciudad Juarez, no México, a “cidade mais perigosa do mundo”. Baudoin diz que foi depois de ler 2666, de Bolaño, que teve vontade de partir para esse local, e conseguiu apoios institucionais para o fazer, com o seu jovem amigo e colega. Qual o objectivo, então, dessa viagem? Eles próprios o explicitam, de um modo que soará extremamente familiar aos leitores de Baudoin: “Encontrar lugares em que se os possa desenhar. Fazer o retrato daqueles que o queiram, e perguntar-lhes: ‘qual é o teu sonho?’ Dizer a vida nessa cidade onde se morre”. Parte substancial do livro é ocupado pela apresentação das pessoas com que se cruzam, os espaços visitados, inclusive aquelas tensões existentes entre o “lado de cá” do rio Grande, o lado mexicano, e o lado “de lá”, El Paso, Texas (mas que, da nossa perspectiva hegemónica, diríamos ser o Texas o lado “de cá” e o mexicano “de lá”, naquela economia de inscrição num nós que é sempre o “mesmo”, capitalista, liberal, colonial, etc.). Ou reflexões que emergem desses encontros, e seus desvios. E, claro, os retratos e frases das pessoas que confessam os seus sonhos, esperando que este possa vir a ser um documento futuro, fazendo no presente logo um sinal desse futuro.
Apesar dessa veia central, o livro ainda incorpora outros pequenos blocos: os momentos anteriores, durante o encontro, e as primeiras discussões; as impressões de ambos os autores antes da partida e reminiscências de testemunhos de situações totalmente diferentes - Baudoin observando miúdos a jogar à bola nas praias de Casablanca, Troub’s vendo um clandestino a escapulir-se e outro a ser capturado no porto de Tânger ou escutando histórias de uma amiga que trabalhou com os refugiados do Burundi - mas que ao mesmo tempo contribuem, de certa forma, para o contorno de um outro tipo de globalização possível, mais humana, de resistência, de preocupação com os esquecidos da promessa capitalista; uma banda desenhada integrada por autores mexicanos convidados (656 Comics); os momentos do processo de trabalho entre os dois e as rotinas; e por vezes cedendo espaço mesmo a que outros desenhem no plano de composição.
Esta é uma obra que entendemos ser de alguma resistência, no seu sentido político, face a uma cosmovisão partilhada pelos regimes hegemónicos do planeta, sobretudo aqueles associados a um determinado sabor da globalização redutora (o que a globalização não tem de ser). Isto é, num tempo em que o mundo parece caminhar a passos largos pelas também amplas veredas da insegurança, da incerteza e do derrotismo atroz, surgem estes fulgurantes gestos que pretendem mostrar outra forma de estender a mão e os ouvidos aos outros, e não os querer enclausurar numa só singular história. Estas últimas ideias serão desenvolvidas num outro trabalho de contornos académicos, esperamos, e de que daremos conta em tempo devido.
Não deixa de existir algum grau de ingenuidade política, reforçado em Le parfum des olives (ver adiante), mas talvez esta ingenuidade seja necessária para que circulem imagens diferentes sobre estas partes do mundo junto a nós. Para que circule a vida.
Corpus Song. Edmond Baudoin (6 pieds sous terre). Dois temas caros e recorrentes na obra do autor encontram-se aqui sublimados num belíssimo poema visual. Erotismo e o que ele chama de “música do desenho”, isto é, a possível traduzibilidade das linhas e das manchas gráficas da grafite abandonada no papel em sensações acústicas e expressivas. Este livro tem uma história: um casal, um homem e uma mulher, fazem amor. Nada mais. E tudo isso. Página atrás página, vemo-los abandonarem-se, como a grafite no papel, com a mescla de acalmia e tempestade do punho de Baudoin a atravessar as folhas, aos corpos um do outro. Beijam-se, abraçam-se, lambem-se, tocam-se, recebem e entram. O autor procura criar uma distinção gráfica (cromática?) entre o homem e a mulher, o primeiro desenhado com grossos contornos a grafite, mais ruidosos ou sujos, a mulher com linhas mais delicadas e com expansões maiores de brancos. Quais as razões dessa diferenciação? Uma procura por uma mimese do habitual? Uma forma de cumprir o desejo de heterogeneidade gráfica que é permitido por estas opções, em que cada linha diferenciada transmite uma vibração igualmente diferente, e cuja combinação procura uma harmonia maior do que seria possível se essas mesmas linhas e cumprimentos fosse idênticos à partida?
Por vezes o casal engalfinha-se apaixonadamente, outras parecem parar por momentos, olhando-o o outro no seu abandono no prazer. Aqui o embate amoroso parece ser duro, violento, sacudido, ali levam o seu tempo mirando-se olhos nos olhos e a auscultar cada mínima ondulação do corpo. Há páginas onde apenas surgem um par de linhas delineando claramente os corpos, noutras a mancha adensa-se e encobre tudo num ruído ensurdecedor. E, ao olharmos com cuidado, a mulher parece variar (de corpo, ligeiramente, mas de rosto, de cabelo, muito), lançando de novo a representação de Baudoin naquele mito, algo vazio, do “eterno feminino”. O homem mantém-se idêntico (autoretrato, como é habitual), e aí poderíamos encontrar fragilidades até mesmo no possível fim deste livro, que é ver onde é que no corpo se encontram as brechas e as dobras que permitem a porosidade do eu e a dissolução da nossa incontornável solidão, que no sexo (ou amor, se preferirem) por vezes quase desaparece. De um modo subtil, chegam perto daqueles versos de Óssip Mandelstam, “Sou jardineiro e sou flor – cativo/ Na prisão do mundo sozinho não vivo.”
Em muitas dimensões, este acto nada tem de pornográfico, se tomarmos esta última palavra como sinal de uma mercantilização do sexo (já que, em termos morais, estéticos, políticos, nada temos a dizer sobre o sexualmente explícito). Vivemos numa altura em que quase todos os graus de intimidade e relacionamento humano, inclusive o sexo, estão submetidos a um regime de representação e circulação mercantil. Existem concursos de namoros e casamentos, a objectificação dos corpos (não somente das mulheres) atinge hoje graus histriónicos, e publicitam-se essas camadas da vivência do humano. Baudoin, com alguns gestos, certeiros ou erróneos, de carvão, consegue recuperar alguma ideia (sempre incompleta) do desejo, carnal, físico, dos corpos, fluido e cheio de fluidos ele-mesmo, da sua subjugação à lei.
Tu ne mourras pas. Bénédicte Heim e Edmond Baudoin (Les Contre-bandiers). Esta é igualmente uma adaptação de Baudoin de um romance escrito em 2003 por uma escritora relativamente jovem com, pelos vistos, uma dezena de livros publicados. De uma forma necessariamente redutora, versa este romance sobre a relação, primeiro de fascínio mútuo, depois de um amor transfigurado e que acaba por conhecer a consumação carnal, entre uma mulher jovem, estudante universitária, Aude, e um rapaz de 9 anos, Corentin, de uma inteligência e olhar argutos. Se esta mera descrição parece prometer controvérsia, e não neguemos que a toca, que a explora, não se presta ela jamais a qualquer tipo de exposição pornográfica ou histérica. A relação de Aude e Corentin - apesar de vivermos mais intensamente a perspectiva dela - é como uma voragem, um vórtice, uma volúpia, que recorta Aude do seu mundo imediato - o namorado, a melhor amiga, os estudos de filosofia - para a relançar no interior de uma vida alienada dessas limitações sociais (até mesmo a sua entrega a uma relação sexual esporádica e fortuita com um outro homem, em que jamais dialogam e se abandonam selvaticamente, sublinha essa desregra): “tudo o que [Aude] havia escrito tinha saído de um outro eu que ela havia abandonado há muito tempo”.
O modo de adaptação de Baudoin, neste caso, é bem diverso daquele que se verifica no policial de Vargas. Onde aí se verifica, apesar das características desviantes de Baudoin, uma adaptação mais normativa às estruturas da banda desenhada (que o autor também cumpriu em Travesti), aqui segue-se uma lógica de maior entrosamento entre os blocos textuais e os desenhos. Baudoin já publicou vários trabalhos de ilustração mais clássicos de literatura, a saber, de romances de Lautréamont, Pasolini, Genet. Aí tínhamos uma paginação nítida que separava os blocos de texto das imagens esparsas que pontuavam o mesmo, numa relação de concorrência (a distribuição física dos textos e imagens) apartada e de complementaridade (a relação criadora de significado entre texto e imagem) hierarquizada e quebradiça. Neste caso, apesar de estarmos perante a criação de imagens posteriores à existência do romance, temos então esse maior entrosamento. Apesar de termos largos blocos de texto, usualmente dedicados à transmissão das sensações interiores das personagens, há sempre uma ou mais vinhetas construindo os espaços e os corpos, os diálogos surgem muitas vezes em balões (por vezes repetidos entre os balões e as legendas), seguem-se fragmentações dos acontecimentos mais vincadas, etc.
A própria presença do texto é visualmente significativa, uma vez que surge em letras imitando as ditas “de máquina”, com rasuras, adições, e correcções posteriores manuais (e os conhecidos erros ortográficos do autor), mas numa letra diferente daquela que desenha as letras das falas ou dos textos mais próximos (“interiores”, poderíamos dizer) das vinhetas, fazendo adivinhar uma separação de funções de inscrição dessas mesmas letras: umas da parte do “narrador textual”, a outras da do “narrador visual”, ou se nos for permitido puxar o autor real para a equação, a autora/o editor/o designer, e o artista. Sejam quais forem as atribuições, que revelariam desde logo uma posição ideológica e analítica da parte do crítico, inevitável, o que resta é a visibilidade dessa separação. No entanto, se ela ocorre, é para que seja mais efectiva ainda a ocasião do seu encontro: as intrusões, as mesclas, as confusões… A presença vincada da matéria verbal, em que nalguns casos constrói ilhas que enclausuram os corpos das personagens, ou volitam em seu torno como uma nuvem de ideias, de memórias, de sensações, servem para dar a ver a complicada teia em que vivemos a vida. Não há separação senão nos nomes que empregamos.
Esses próprios textos compõem um bloco geral que progride pelo preenchimento total do interior. É como se se desenhasse uma circunferência delimitada - aquela intensidade entre Aude e Corentin - e depois se a preenchesse com todas as sensações mescladas: “Eles foram arrancados a alturas irrespiráveis, mas já não podem reintegrar o mundo dos outros, o qual se lhes tornou ininteligível; eles erram num intervalo [entre-deux], uma sideração que não se nomeia”.
Há também aqui uma preocupação para deixar visível alguma variabilidade interna no traço do autor, mas essa heterogeneidade gráfica encontra-se aqui ao serviço de uma vontade livre, material, e não de uma subsunção a um programa lógico. Cada página oferece uma matéria a interpretações densíssimas que não têm apenas a ver com a trama narrativa (mas podem prender-se a ela, como quando alguns esquissos leves a lápis correspondem aos desenhos feitos por Corentin), nem com as representações ou a figuração, mas com um tratamento plástico das intensidades, como um fundamento que faz nascer das diferenças e contrastes uma tensão ela também significativa. Nalguns momentos, os rostos fragmentam-se e esses fragmentos multiplicam-se, com olhos soltos espalhando-se num padrão irregular. Mima-se aí a multiplicidade do modo com que se olha quem se ama, ou aquela operação de multiplicar que esse olhar faz: tudo incita a haver “mais vida”, sempre o tema de Baudoin.
Le parfum des olives. Hughes e Edmond Baudoin (6 pieds sous terre). Como o próprio Baudoin torna explícito numa nota inicial deste livro, o seu Poema Contínuo tem levado o autor a explorar a memória da sua família, havendo criado livros que atravessavam as figuras da sua mãe, do pai, do avô materno e avô paterno, do irmão, da filha. Este é feito em colaboração com o seu filho Hughes, baseando-se numa viagem que este fez a Israel, com um objectivo muito específico, e cuja dimensão visual é depois traduzida pelos gestos do pai. Estamos aqui tanto próximos da “biografia familiar” como da “autobiografia pelo outro” que discutimos noutro lugar, tentando compreender as possíveis tipologias que são possíveis de tecer na relação entre a memória humana e a banda desenhada.
Le parfum fala da visita de Hugues a Jerusalém em 2001, antes do 11 de Setembro, com o intuito de visitar, entrevistar e compreender que espaços de trabalho existem para os artistas de teatro ou de outras expressões artísticas (fala-se de marionetas, de dança contemporânea e tradicional, de pintura) em Israel e na Palestina, e se existem alguns palcos em que surjam colaborações. Mas a matéria que compõem a narrativa que testemunhamos apenas toca nisso ao de leve, sendo a própria viagem, os encontros e as impressões o que faz o livro.
Poderíamos dizer que este livro - confrontando-o aos outros em termos de figuração, ocupação do plano de composição, estruturação de página, etc. - é criado “às três pancadas”, mas empreguemos esta expressão não no seu sentido pejorativo, de algo à pressa, inacabado ou manco, mas como algo que foi sendo feito à medida de uma correspondência livre, no acaso das circunstâncias, e que permite deixar as marcas visíveis do próprio processo da feitura. Poderíamos até associarmo-nos ao tema perseguido por Hughes, das artes dramáticas, e imaginar que essas três pancadas seriam aquelas ditas “de Molière”, criando um espaço temporal de espera, um intervalo de serenidade que nos prepara para receber o que se lhe segue.
A “ingenuidade” que mencionámos a propósito do livro com Troub’s tem aqui uma vertente mais marcada. Não é que Hughes ou Baudoin estejam nalgum ponto a assumir alguma posição politicamente radicalizada ou unívoca. Quando Baudoin diz ser pró-palestiniano, di-lo por “não gostar de ver oliveiras a ser arrancadas”, aludindo a uma cena representada antes. Há momentos de tensão: a entrada e a saída de Hughes de Israel, com as perguntas pressionando das autoridades, um judeu ortodoxo a recusar-se “perceber” a expressão “territórios” para se referir aos colonatos para além das fronteiras de 1964 (ou outras) mas ripostando com “Israel, está bem?”, ou algumas pessoas desconfiando da sua tez escura e desviando-se. Há mesmo um episódio em que não foi a uma discoteca que seria bombardeada (e aqui ele recusa-se a aceitar tal barbaridade). Mas de resto parece jamais querer falar-se directamente de questões históricas, políticas, de irresoluções sempiternas criadas por interesses que ultrapassam, claro está, as meras fronteiras daquelas mesmas terras.
Le parfum tem, porém, momentos belíssimos, do diálogo entre pai e filho, o pai comentando algumas das informações dadas pelo filho, batalhando com a representação dos rostos de qem não conheceu mas ouviu falar pelos lábios de Hughes, o filho corrigindo o punho ao pai num ou noutro momento… E é curioso verificar os pontos em comum, não apenas físicos, mas o próprio desenho, as letras, as preocupações e fraseologias idênticas… Só nessa dimensão, este é já uma outra peça fundamental para a elaboração do complexo que é a obra de Edmond Baudoin.
E afinal, em que continuam a batalhar os livros de Baudoin, criados a solo ou em companhia, sobre actos íntimos ou encontros públicos, nos palcos domésticos ou internacionais, fictícios ou jornalísticos? Como sempre, o que Baudoin faz é demonstrar, de forma acabada, belíssima, poética, o papel privilegiado da cultura nas nossas sociedades, que não podemos permitir que se torne “suciedade” (este trocadilho é de alguém, não nos recordamos da sua origem), a cultura entendida, nas palavras de João Barrento (colhidas de uma conferência em O Estado do Mundo e reeditada em O mundo está cheio de deuses), como o que deve promover “estimular a memória, cultivar a denúncia, arriscar a provocação do mundo acomodado”.
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