28 de agosto de 2013
Building Stories. Chris Ware (Pantheon)
Tal como ocorrera com Jimmy Corrigan ou Quimby the Mouse, Ware reuniu todo o material pertencente à série Building Stories para publicar um só volume, onde surge o texto na sua completude. No entanto, esta afirmação levanta um problema duplo.
Por um lado, apesar da suposta prática “alternativa” de Ware, não deixa de causar alguma surpresa que ele respeite a lógica do coleccionador de banda desenhada ou as mais normalizadas estratégicas comerciais (possivelmente necessárias para a sua sobrevivência económica enquanto autor). Muitos dos episódios que compõem este “texto” foram publicados nas mais diversas plataformas, desde jornais (The New York Times, The Manchester Guardian) a revistas (The New Yorker, nest) a objectos fora de categorias (McSweeney’s); alguns dos quais difíceis de obter fora das suas cidades respectivas, e seja como for, passíveis de recuperação num objecto mais perene (o livro). Partes substanciais já haviam surgido em livro, caso do The Acme Novelty Library # 18, que é retomado agora tal qual, ainda que num formato ligeiramente maior e com pequenas diferenças de design da capa. Em suma, o surgimento de um “volume” satisfaz o leitor que deseja ter acesso a “toda” a história mas também ao completista que encontra mais um objecto diferenciado para a colecção.
Por outro lado, está a questão física do “volume”. Como se sabe, este Building Stories é na verdade uma caixa de cartão, no interior do qual se encontram vários objectos: dois livros encadernados (um dos quais correspondente a TANL 18), três fascículos sem capa, uma espécie de pequeno comic book, um livro ao comprido “de tiras”, dois pequenos desdobráveis, um outro enorme, e dois outros que imitariam dois formatos de jornal (um broadsheet e um tablóide), e ainda uma espécie de biombo. Apesar de existir uma certa “coesão textual” ela expressa-se em vários pontos de fuga, materializados nesses objectos. Pertencerão todos os textos individuais a um único universo de referência diegética, que tem por centro nevrálgico uma personagem sem nome, e de quem aprendemos momentos da infância à idade madura, e havendo uma particular concentração na sua vida de jovem mulher, ora vivendo só num antigo edifício no cento histórico de Chicago, ora como mãe, nos subúrbios da mesma cidade. Da vida de solteira soltam-se três eixos narrativos complementares com outras personagens: a vida da proprietária do edifício, que se abre a uma história parcelar da cidade e também à própria assunção a personagem do edifício em si, a vida do casal vizinho, que leva a considerações de outras esferas sociais, e ainda a vida de uma abelha, que surge como uma espécie de intervalo pela banda desenhada infantil, escapismo do realismo da restante matéria.
Cada objecto, tendo surgido em locais ou compilado de formas diferentes, permite até certo ponto uma leitura autónoma, mas a sua (nova) leitura conjunta fará com que as forças e especificidades de uma parte se espelhem nas e intensifiquem as outras. É como que uma espécie de cristal que obriga a serem ponderadas todas as facetas para se compreender a sua composição figural.
Dito isto, esta estruturação do livro-todo em vários objectos não é somente uma possibilidade de aglomeração de materiais diversos previamente publicados, uma espécie de trabalho de recuperação palimpsética, de conjunção dos textos num só texto contínuo, nem uma reelectrificação dos elementos anteriores num corpo maior articulado. Trata-se de uma estruturação activa de um objecto multifacetado que permite (ainda? como sempre?) entradas várias. Como escreveu Steven Walsh na sua curta resenha em Yours Days are Numbered, num trocadilho intraduzível, “Poderemos descrever este como um livro sem limites [unbound = sem capa] mas não desestruturado [spineless = sem espinha, sem lombada, fig. sem carácter]”.
É o próprio corpo físico e gráfico dos livros que se torna significativo. Se quase sempre Chris Ware explorou aquilo que seriam as margens paratextuais e de veículo físico dos seus livros enquanto espaços passíveis de inscrição de sentido textual, com Building Stories essa diluição, ou melhor, essa assunção de todo e qualquer elemento em texto, é por demais acabada.
Que sentido assumirão, então, os objectos físicos separados, que rede de sentido criam eles em relação às pequenas unidades narrativas que encerram? Procuram sublinhar sentidos, isolando-os de um corpo mais contínuo? Pretendem que o manuseamento separado lhes incuta uma importância diferenciada? Essa importância estrutura-se nalguma hierarquia conforme tamanho ou dimensões? Numa das sequências, a protagonista, já mais madura (num dos futuros isolados que Ware mostra), revela ter sonhado que encontrara numa livraria um volume onde se reuniam todos os seus exercícios de escrita, mesmo aqueles que ela já esquecera ou que pensava que ninguém deles sabia. Esse volume é descrito não como um livro, mas algo que vem “aos bocados [pieces], como, livros a caírem de uma caixa”. Além disso, ela descreve as ilustrações, muitas, acrescenta, como precisas e claras, coloridas e intricadas, como se tivessem sido feitas por um arquitecto. Esta última informação é interpretada pela filha como uma óbvia referência ao marido da protagonista (que é arquitecto), mas o leitor tem acesso assim ao complicado mecanismo em que o que é revelado no interior do interior da diegese (o sonho da protagonista) acaba por servir de metareferência ao próprio texto, e os seus mecanismos materiais, que se está a ler. É raro que Ware procure “elogiar-se” a si mesmo, mas neste momento de fraqueza da mulher, há aqui de certa forma esse jogo. E não poderíamos entender essa imagem como uma complexa metáfora das nossas vidas? A vida como um semanário (à la Expresso ou San Francisco Panorama): um invólucro plástico e frágil (saco ou caixa, análogo ao “saco de vento” das expressões medievais), cheio de vários e diversos objectos, cada qual com o seu timbre: as parangonas mais marcantes em termos oficiais, a revista colorida de Domingo, o fino suplemento de obituários e o caderno infantil, a secção de economia que não se lê e as palavras cruzadas que só se preenchem por metade…Talvez aí residam pistas do entendimento desta estratégia material.
Seria igualmente possível mesmo identificar “tropos” estruturais. Um tropo é uma figura de estilo, isto é, um emprego figurado da linguagem que, superficialmente, serve para embelezar o discurso, ou, mais profundamente, pretende que se saliente uma característica específica daquilo que se indicou. Etimologicamente, a palavra deriva do verbo grego trepein que se relaciona com um “desvio” ou “viragem” no discurso. Há, então, um desvio de um uso habitual da palavra para uma outra direcção. Elevando cada formato diferente a uma ideia, ela deveria presidir ao que está no seu interior, explicando porque é que o livro de tiras se concentre na relação entre a protagonista e a filha, sem recurso a matéria verbal, o “biombo” demonstre estruturalmente as quatro estações em torno da vida no velho prédio, a folha solta grande se prenda somente ao reencontro com o primeiro namorado através do Facebook e as memórias dessa relação, o jornal imenso se foque na sua vida de subúrbio, tocando a relação com o marido, a sua vida profissional reduzida, a morte de uma amiga de que se afastara, etc.
Repare-se como o título original tanto poderá ser lido enquanto formado por um gerúndio e um substantivo, traduzível em português por “construindo histórias”, ou então compreendê-lo enquanto forma nominal, em que “building” serviria de forma adjectival, chegando assim à ideia de “histórias de edifício(s)” (neste caso, a forma singular building pode ser vista como dizendo respeito a vários objectos), ou então até mesmo como uma outra estranha forma adjectival levando a uma ideia de “histórias edificadas”, ou algo assim. O verbo também pode implicar o leitor no seu acto físico de leitura e manipulação destes objectos, como se brincasse com um dos tantos modelos de papel que Ware oferecia noutros projectos, ou como se, como Seth, se procurasse criar uma cidade de papel. O leitor estaria a construir as histórias com esses actos.
Tal como discutido pelos discursos académicos e críticos em torno do autor, Ware cria novos protocolos de leitura quer através dos seus organigramas, mapas, cartografias inusitadas e formatos flutuantes. Building Stories intensifica esses protocolos, e eleva o acto de construção textual a outros níveis, inclusive o material. Quer dizer, a materialidade dos livros tem de ser entendida como um recurso semiótico que pode ter um impacto significativo na percepção do leitor, sobretudo por duas dimensões identificadas por outros analistas. Por um lado, a relação física, incorporada entre o leitor e o livro enquanto objecto, por outro, a consciência que este terá do processo de produção. Se existem artes, nomeadamente o teatro, a dança e a performance, e até a música (ao vivo) na qual o corpo do artista entra numa presença com o espectador, no caso das artes do livro o ritmo de leitura é dado pelo corpo do leitor. A performance de leitura destes objectos – os pequenos livros nas mãos, perto do corpo, o jornal agarrado com outro tipo de equilíbrio, o “biombo” manuseado de uma forma mais complexa – instilará, cada qual a seu modo, um sentido diferente. “Vislumbraremos” de uma forma mais célere o episódio do reencontro e rememoração do antigo namorado da protagonista, leremos num ritmo rápido e em staccato a emergência da filha na sua vida, teremos uma experiência mais “redonda” na leitura do livro da sua “fase madura”, “descartaremos” rapidamente outros episódios, etc.
O fascínio de Ware pela arquitectura não é de forma alguma novo. Uma citação preferida do autor, pois repetida em várias ocasiões, é aquela em que Goethe declara a arquitectura como sendo “música gelada” (Lloyd Wright também equiparou a arquitectura à música). No pensamento morfológico de Goethe, encerra-se aí desde logo uma promessa de movimento permanente apenas ali, naquele momento, captado numa forma somente em aparência perene, um estado momentâneo de desdobramento interno que faz imaginar outras possíveis formas. Através das “imitações” – no sentido que se emprega em “epopeia de imitação”, no sentido de modelo, caminho trilhado, etc. – das composições em vários eixos de Frank King ou outros, e da sua invenção diagramática, Ware já mostrara muitas pranchas nas quais a leitura permitia vários caminhos, direcções e estruturações, tornando a sua “arquitectura” o mais viva possível. Já para não falar dos vários sketches de paisagens urbanas dos dois volumes do Datebook, e a forma como essa mesma paisagem, quer a histórica quer a contemporânea de Chicago, se assume como personagem “secundária” nos seus livros; agora é mesmo tempo dela se tornar quase personagem principal ou matéria na qual a diegese está embebida de forma mais sublinhada. São inúmeras as referências à paisagem urbana e arquitectónica de Chicago, o marido da protagonista é arquitecto, as repercussões sociais da gentrificação e as tensões entre cidade e subúrbio são discutidas, etc. E, finalmente, temos de citar de forma vincada o projecto Lost Buildings, com Ira Glass, que veio a conhecer uma versão em livro e DVD em 2004. Trata-se originalmente de um programa de rádio ao vivo, com um slide show de Ware, com escolha de música, manipulação de som e leitura de Glass, em torno de alguns edifícios de Chicago. Na verdade, trata-se de um projecto similar a uma estrutura de matrioskas de vidro, uma englobando outra, mas transparentes, deixando as várias linhas de luz atravessarem-se em todas as direcções. Esse projecto engloba o arquitecto da passagem do século XIX para o XXº Louis Sullivan (e suas colaborações com um jovem Frank Lloyd Wright), pai do modernismo na arquitectura, e os “salvadores” da memória urbanística da cidade, Richard Nickel e o seu herdeiro espiritual Tim Samuelson (que participa activamente, com textos e testemunhos). Se este projecto se tratava de uma obra fantasmática sobre edifícios desaparecidos mas que constituem um rosto oculto da histórica da cidade, Building Stories não é menos fantasmático, criando um fantasma ficcional que ergue à sua maneira uma imagem etérea da mesma Chicago. Além de que, apesar de tudo, serve de “ground”para as histórias humanas que encerra (e a da abelha).
Diferentemente dos outros trabalhos de Ware, há nestas histórias uma maior presença de rostos mais detalhados, longe da redução infográfica ou da ultra-estilização costumeira do autor. Continuam a estar presentes os diagramas, é certo, tais como as perspectivas isométricas, a complexa planificação de “dual” entre uma faixa ou frisos laterais e a mancha central, as divisões semi-regulares de um número de vinhetas, os jogos entre desfasamentos de texto e imagem, etc. Mas essa presença de rostos mais próximos - que recordam talvez algumas abordagens de Clowes (Ware é um desenhador exímio e variado, como se pode comprovar pelos sketchbooks, logo estas escolhas têm de ser entendidas como voluntárias) - poderão querer trazer à tona, literalmente, uma outra vivência e entrega empática da parte dos leitores para com as personagens.
Num estudo sobre Ware, Anthony Baker explicita como o autor torna os leitores conscientes do seu próprio processo de leitura através da inclusão dos brinquedos de papel para montar, ou das cartas de jogar ou outros “objectos de papel” que não correspondem propriamente a superfícies legíveis ou subsumíveis ao projecto de representação e diegético. A um só tempo, acrescenta Baker, “os elementos da história podem transbordar para além da experiência tradicional de leitura”, ao mesmo que tempo que se parodia “a mercadoria associada”, tão típica das indústrias mercantis da banda desenhada, animação, etc. Noutro texto, de Edward Brunner, essa dimensão de aparente descartabilidade é directamente citada para recordar o projecto de Ware com Ira Glass. Apesar de ter nascido na rádio, o texto final de Lost Buildings é um CD com uma faixa sonora de 20 minutos, sobre o desaparecimento de toda uma série de edifícios modernistas de Chicago, sacrificados em nome de um desenvolvimento que nega a história local ou a possibilidade de um património, até mesmo daquilo que se julgaria mais perene e contrário às linguagens que a recuperam e salvaguardam (som, banda desenhada). É apenas uma outra maneira de entender essa patina fantasmática presente na leitura.
Tal como sucedera com Lint, e apenas até certo ponto em Jimmy Corrigan, Ware tenta recriar vidas inteiras. Mas se a(s) de Jimmy se estruturavam em torno de sucessivos traumas e desilusões terríveis, e a de Lint se estendia na sua completude mas num conjunto restrito de episódios quase desconexos, Building Stories tenta apresentar troços mais consequentes, organizados, narrativos da protagonista. Que jamais é nomeada, como vimos, e esta ausência de nome deve-nos fazer pensar mais uma vez “o que há num nome?” Apesar dos pequenos desvios pela vida da velha proprietária do edifício onde ela viveu sozinha durante algum tempo, ou da vida do casal vizinho ou ainda o de Brandford Bee, a abelha ficcional antropomorfizada (fantasia infantil, não é por acaso que surja no que chamámos de formatos comic book e tablóide), a parte de leão de Building Stories tem como centro esta mulher. Temos acesso, como dissemos, a episódios desde a sua infância à sua idade madura, testemunhamos episódios da vida dela enquanto estudante na preparatória, a escola de artes, algumas das profissões, o primeiro namorado, o marido, a mudança para os subúrbios, os conflitos com colegas e amigas, o reencontro aos 40 com amigos do tempo da faculdade, etc. Alguns destes troços são curtos, apenas uma menção, uma vinheta que irrompe o tecido do resto, como uma rememoração súbita, outros têm uma maior densidade, porque apresentados em mais páginas de formas mais ou menos continuadas – mas segundo aquela estratégia que o autor começou a explorar já em 1991 com “I guess”, em que um texto corrido, narrado externamente por um protagonista, na primeira pessoa, se sobrepõem a uma matéria visual algo desfasada, que aponta para um “passado” em relação ao texto, mas um “presente” na acção; nesse sentido, Ware parece ter descoberto como expressar o modelo de Henri Bergson da memória em banda desenhada.
De uma forma muito distinta da esmagadora maioria (todos?) os trabalhos de Ware, este é aquele que tem o maior número de referências ao mundo actual e real, referindo-se à (primeira) Guerra do Iraque, discutindo a crise imobiliária, nomeando Barack Obama, a Onion, o Facebook, etc., sem quaisquer desvios ou aliases humorísticos. Tudo corresponde à nossa (norte-americana, ocidental, etc.) realidade social e cultural. Poderíamos dizer que Ware utiliza a sua protagonista como “porta-voz” do seu conhecido desencantamento com a contemporaneidade, sobretudo o egoísmo das pessoas substituindo uma ideia mais sadia de comunidade, a falência mesmo dos princípios da convivência social, a fé na democracia e no progresso material do mundo ocidental, a forma como a tecnologia apaga certos elos de empatia, etc., mas sem deixar de criar, nessas mesmas pontificações, algum sinal de distância crítica, de humor, de discordância, colocando sempre no “tom” das personagens um azedume para com os outros que torna essas ideias discutidas como vácuas e sofrendo também elas das fraquezas acusadas.
Em algumas entrevistas, Ware revelou que uma sua ideia primeira era estruturar as histórias no interior do prédio, pelas perspectivas e experiências de cada habitante, referindo o Decálogo de Kieslowski como influência ou modelo directo (mas possivelmente Pérec, com A vida, modo de usar, também surgiria como referência central). No entanto, a perspectiva da rapariga acabou por “tomar conta” do projecto e acabou por se tornar uma focalização mais centralizada. Esses “ditames” da própria história, porém, não mais fazem do que mistificar aquele controle que a obra tem sobre o autor, e custa-nos crer que um autor como Ware, cuja minúcia é patente, se abandone a esse tipo de poesia. A título de exemplo, que poderá parecer obsessional da nossa parte, mas que cremos encontrar concordância juntos aos leitores atentos a todos os níveis materiais de Ware, repare-se como na história sobre o tal casal vizinho, ao observarmos a vida da mulher, que se encontra “presa” a uma relação difícil com o seu namorado, de quem não se consegue libertar, o seu corpo surge duas vezes no preciso centro dos cadernos, onde costuma apenas haver espaços brancos ou imagens ininterruptas e centralizadas. O corpo dela, ou o desenho que o representa, está no preciso local em que o agrafo prende as folhas do caderno. Coincidência? Duvidamos.
Este livro, tal como as grandes obras de qualquer arte, será pasto seguro para investigações das mais variadas dimensões sociais (relações entre géneros, estratos sociais, etnias, deficiências físicas, memória cultural, etc.) e formais. Será quase um desses textos infinitos. É possível que não tenha o mesmo impacto emocional de Jimmy Corrigan, que se revela relativamente mais conservador em termos de estrutura, mas encerra seguramente estruturas volantes que permitirão várias leituras cambiantes. Tim Samuelson, no projecto citado com Glass, escreve o seguinte sobre o Garrick Theater, mas que pode ser aplicado a outras estruturas, inclusive a deste “livro” Building Stories: “Edifícios como esse estavam destinados a serem experienciados a três dimensões, e ainda mais importante, em movimento no decurso da vida quotidiana. Sob muitos aspectos, experienciar um edifício com a [minha] sensibilidade de então, de criança de 9 anos, ainda imaculada de fórmulas e juízos académicos, era muito provavelmente a melhor forma de todas de o fazer”. Até certo ponto, mas provavelmente incorrendo em metáforas incompletas, todo este complexo processo de leitura é o mais acertado para desfrutar da vida que o edifício oferece em si mesmo; e aquilo que equivaleria à sensibilidade imaculada do jovem Samuelson seria essa mesma leitura tornada simples no seu próprio acto, sem a canga da sua apreciação crítica, que é o que este nosso texto tece.
amo seu blog. por favor, nunca pare!
ResponderEliminarUh...obrigado!
ResponderEliminarPedro
Mais do que um livro-objecto (ou caixa-objecto), Ware propõe-nos que abramos um pequeno baú, no qual vamos encontrar material já conhecido e desconhecido. Acredito que não haja leitor a quem os olhos não brilhem, enquanto se vai deparando com os diferentes tesouros. E, perante um material tão rico, apetece-nos perder por lá horas e dias e meses...
ResponderEliminarTenho este livro há cerca de 3 meses, quero desembrulhá-lo, mas estou a resistir para uma ocasião especial, como fiz com o miúdo mais inteligente do mundo. Quando li o Jimmy Corrigan, senti-me como a acabar de ler a primeira parte de "O som e a fúria". Nunca senti, nem voltei a sentir em BD, esse som e essa fúria que encontrei naquele livro. Já nele podíamos apreciar a influência que a arquitectura dos edifícios e a concepção das cidades reclamavam nas acções do protagonista, quer através da sua herança geracional, quer através da (des)construção da sua personalidade durante infância, a ontogénese como reprodução da filogénese. O teu artigo é fabuloso no detalhe e tem um final muito preciso: apesar do talento e da cuidada elaboração com que se produzem estas obras de arte, é através da leitura solitária, abandonada, que encontremos o fractal simples, original, que se repete perpetuamente nos universos de Chris Ware e que nos ajuda a perceber a dele/nossa natural complexidade . Portanto, vou tentar esquecer tudo o que li durante mais 3 meses.
ResponderEliminarObrigado, um abraço.
Caro José Sá,
ResponderEliminarAcho que 3 meses é pouco para marinar. Se não estou em erro, recebi o livro pouco depois da "pre-order", logo ficou quase meio-ano fechado no plástico, ao lado do "Unearthing" do Moore. Duas estelas lado alado à espera das melhores condições. Por um lado, é incrivelmente pateta fazermos isso. Por outro, é a criação de uma predisposição a lermos estes livros com a máxima atenção possível.
E faz muito bem em esquecer tudo (o nada) que se disse aqui. A leitura tem de ser sua, solitária e de entrega total. Seja como for, o Lerbd é de leituras feitas, e não de promessas nem de teasers a leitores.
Voltaremos a falar, espero. Daqui a 3 meses.
Coragem!
Pedro Moura