14 de novembro de 2013

The Deal. Gerardo Preciado e Daniel Bayliss.

Sendo raro fazermos trabalho de mera divulgação, não queríamos porém deixar passar esta pequena oportunidade, e remeter-vos a uma curta peça de fan fiction com o Batman e Joker. Feito com admiração patente pelas histórias destas ersonagens, mas ao mesmo tempo com impaciência à repetição dos mesmos mecanismos de sempre, e com um claríssimo desejo em que uma forma "adulta" tomasse de facto conta destas criaturas (mesmo com os incómodos momentos à la Al Columbia), The Deal parece-nos ser uma história excelente (pelo menos, vários furos acima das platitudes e patetices que têm saído no novo Batman Black & White, por exemplo). A citação do discurso com que o Bill Hicks fechava as suas performances é muito bem integrado, parece-nos.
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5 comentários:

  1. José Sá7:44 da tarde

    Caro Pedro,

    Pela terceira vez assistimos à morte do Joker às mãos do Batman, depois do Miller (autoinfligida), depois do Moore (homicídio), sendo desta vez um homicídio por suicídio (?) uma belíssima (a única) solução para desatar este nó górdio de uma forma adulta, coerente e honrosa para um super-herói e consentânea com as responsabilidades subsequentes àquela decisão. Não há piada mortal, não há facho de luz dos faróis das viaturas que se aproximam a apagarem-se para comparar com a punch line da anedota. Desta vez os carros da polícia e a justiça não terão que dar meia volta.
    Um aparte: nas homenagens revivalistas do grafismo e nas chamadas ao criador e aos grandes autores da personagem será que também consegues ver no dirigível um Archie a voar sobre os céus de Manhattan?
    O amor platónico, aquele que Platão descreve no "Banquete", entre o Joker e o Batman já foi, com mais ou menos propriedade, avaliado noutros momentos das histórias do Batman, quer no pequeno ou grande ecrã, quer nos livros, quer nas análises dos críticos. Por algum irónico sentimento de "closure", se a nossa metade tem de morrer, a nossa vida só estará completa se morrermos com ela?
    "If it's not love then is the bomb that will bring us together." Metade da riqueza mundial é gasta em armamento e defesa. Na terra dos comics, durante este último "shut down orçamental" ficou mais uma vez evidente essa máxima: quase metade dos funcionários públicos afectados com a paragem da administração pública norte-americana pertenciam ao departamento de defesa. Se a situação geográfica daquele país, sem inimigos a norte ou a sul, e a originalidade da sua democracia fizeram prever condições à prosperidade para o seu povo incomparáveis a outras nações democráticas, mormente as europeias, para citar livremente o (grande) Alexis de Tocqueville, então por que apontaram metade dos seus esforços para a iniciativa de guerra? Um político português pertencente ao nosso executivo comparava o estado social europeu ao do resto do mundo, dizendo que apesar da Europa produzir somente(?) 20% da riqueza mundial, consumia(?) 50% do total das despesas efectuadas mundialmente em solidariedade social. Quando se esperava que os políticos europeus revelassem preocupação com o resto do mundo, os discursos mais lúcidos vêm dos comediantes.

    Obrigado pela belíssima história, cá em casa toda a gente adorou.
    José

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  2. Esperando que isto não soe mal, e não tendo nada que agradecer de uma história que não é minha (apenas a estou a divulgar, o que é rara coisa), acho que deverias levar alguns destes comentários também aos autores originais.
    A ideia de transformar os ódios entre Némesises em amores assolapados mas ocultos, e sobretudo homossexuais, é algo bem corrente, sobretudo na fan-fiction. Também tem o seu lado negativo... Mas de facto se quiséssemos considerar estas fantasias sob a óptica do "realismo", que outro fim haveria?
    Só uma pergunta, ignorante, em que história do Moore é que o Joker morre às mãos do Batman? É por causa do que o Morrison disse sobre "The Killing Joke"? meh...

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  3. O Morrison anda a dizer que eu lhe copiei a interpretação do final do The Killing Joke??? É típico dele, também costuma dizer que a piada do final do livro do Moore vem de uma situação verídica vivida por dois hóspedes do Arkham Asylum :-))))))).
    Vá lá, é natural que eu tenha a minha interpretação do final da piada mortal e que sempre me pareceu óbvia desde a primeira leitura (a Graphic Novel da Abril do final dos anos 80). Aquela anedota já a conhecia alguns anos antes de ler o livro, não era original, não era genial, ocupava uma página, logo, vindo do Moore dos Watchmen, que tinha acabado (penso) de ler pouco tempo antes (eu estaria entre os 18/19 anos), teria de cumprir uma função dentro da história para além do que saltava à frente dos olhos. Naquele momento, coloquei a minha assinatura no livro junto ao Moore e ao Bolland. (alerta chavão) Qualquer leitor transforma a obra, o que eu estou a escrever agora não é o mesmo que tu vais ler daqui a pouco. Penso que já te disse que trabalhei no ramo da exibição de cinema. Dos momentos que eu guardo com mais saudade, os favoritos eram colocar-me à saída dos filmes do Lynch e ouvir a interpretação dos espectadores à saída da sala. Nesse capítulo, guardo as melhores memórias do "Lost Highway".
    Deixando o Morrison de lado, eu penso que o Gerardo Preciado tem exactamente a mesma opinião que eu sobre o final do "The killing joke". Recapitulando as últimas três páginas do livro o Batman encara aquele momento como decisivo: "If you don't take it then we're locked onto a suicide course. Both of us to the death". É a pista óbvia à construção do "The Deal". No entanto o Joker não aceita a hipótese proposta do Batman: "No. It's too late for that. Far too late". Só resta ao Batman a alternativa que propôs. Ambos o sabem. O Joker toma a iniciativa e conta a piada, é um indício ao que vem a seguir, o toque do grande escritor. Os dois riem como loucos, as onomatopeias das gargalhadas e das sirenes que os vêm buscar entrecruzam-se, um facho de luz dos faróis das viaturas que se aproximam marca/divide a distância entre os dois, o abismo. As gargalhadas cessam e em seguida as sirenes. O farol apaga-se e é o final da piada: "You'd turn it off when I was half way across!". A cortina desce. E assim aconteceu, parece-me. A genialidade da construção provoca a rejeição da conclusão óbvia? Não a queremos, não é permitida.
    Abraços
    José

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  4. É possível que o Morrison tenha roubado a interpretação, de facto. Mas a verdade é que apenas comecei a ouvir, um pouco por todo o lado, que nem fogo em caruma seca, essa interpretação absoluta depois da discussão dele como Kevin Smith... Acima de tudo, acho que o Moore é inteligente o suficiente para ter construído uma obra ambivalente (inclusive no que diz respeito às analepses do Joker - aconteceu mesmo assim?, será ilusão?, etc.), que poderá encaixar múltiplas interpretações, sem que estas se anulem mutuamente. Sei que soarei a um nerd, mas essa interpretação não se coaduna com a personalidade daquele Batman, ou pelo menos da forma como ele se comporta naquele livro. Até para respeitar o Gordon. Seja como for, não há maneira nenhuma de termos a certeza. A ambivalência é isso mesmo. Quanto à anedota, sim, ela era já conhecida, mas é isso o que lhe dá ainda mais força, é o facto de ser quase banal, idiota, conhecida... Sinceramente, acho que é um livro tocante, ainda que no interior de toda aquela fantasia de gente mascarada à porrada.
    Inté,
    Pedro

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  5. José Sá3:48 da tarde

    Mas esta discussão já é muito antiga... permite-me o seguinte exercício (original:-): proponho uma alteração à anedota do livro que se coadune (na minha cabeça ;-) com um final em que tudo fica na mesma e o Joker é entregue à polícia. A piada também é velha, banal, conhecida, muito usada em stand up comedy. A história é exactamente igual até ao momento que em que o Joker começa a contar a anedota:
    "- É engraçado... esta situação recorda-me uma anedota... olha, dois tipos que trabalhavam numa grande empresa... e um dia, um dia, fartos de almoçar sempre no mesmo refeitório... enquanto lhes serviam a comida ... dizia um para o outro: - A comida daqui é todos os dias a mesma porcaria! - responde o outro - É, é de morrer, e ainda por cima servem pouco!"
    Depois a história continua igual e ficamos a perceber que o propósito desta piada, também mortal (mata tanto como a outra), era o de retratar duas personalidades obcecadas com a coerência interna das suas personagens e que qualquer alternativa que resulte em tentativa de fuga ao status quo será respondida com irracionalidade lógica. Os desenhos continuariam os mesmos, as gargalhadas, as sirenes, as luzes e não procuraríamos qualquer significado neles.
    Se não te fiz rir, terei que chamar a polícia... HEH.
    The End.

    Abraços,
    José

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