Em termos superficiais,
Demeter coordena-se com os dois outros títulos que a artista
auto-publicou nos últimos anos, a saber, Wolves e The
Mire. Há mesmo quem fale de uma trilogia, apesar de não
existirem elos directos, pelo menos diegéticos, entre estas
narrativas. Existirá, decerto, uma certa ambiência, que bebe de
ideias, sempre vagas e não exploradas em termos de contextualização
histórica específica, de uma Europa do norte medieval, prestes a
sair das “Trevas”, mas onde ainda resistem elementos provindos
dos contos tradicionais, das religiões antigas pagãs, da magia da
terra e de sombras menos benfazejas que habitam a noite. E sempre
para se concentrar em contos curtos centrados em relações amorosas
e destinadas à tragédia, ou pelo menos a estranhas felicidades. A
autora parece interessada em explorar toda uma série de ideias
feitas e imagens pré-fabricadas, não tanto para as subverter, mas
para criar pequenos relatos sobre uma emoção. Nesse sentido, em
nada difere da tradição que parece mimar, precisamente. (mais)
30 de abril de 2014
27 de abril de 2014
Dans ma maison de papier. Pierre Duba e Philippe Dorin (Six pieds sous terre).
Este livro é uma cadeia de diálogos
entre linguagens artísticas, de forma a fazer emergir um objecto tão
heterogéneo nos elementos que o compõem como na coesão que os
unem. O ponto de partida é uma peça teatral para três personagens
escrita por Dorin, cujo título completo é Dans ma maison de
papier, j'ai de poèmes sur le feu. E de facto, há um incêndio
no seu interior. (mais)
26 de abril de 2014
Exposição "Succedâneo" na Moagem (Fundão).
Serve o presente post para divulgar mais alargadamente um texto que escrevemos para a folha de sala referente à exposição "Succedâneo", n'A Moagem - Cidade do Engenho e das Artes. Trata-se de uma mostra das produções fanzinísticas de João Bragança, do famoso Succedâneo e outros fanzines-objecto. Esta exposição estará patente entre 12 de Abril e 18 de Maio, e é merecedora de uma visita, uma vez que estes objectos, apesar de terem já estado expostos noutras ocasiões, como por exemplo no Tinta nos Nervos, encontra-se aqui apresentada não apenas de forma exclusiva, o que permite sublinhar a sua importância, o seu lugar único na produção nacional, mas também internacional, mas além disso abrindo um caminho para, de uma forma especial e exclusiva, pensar estes objectos e território sem pedir favores a outras áreas artísticas de maior consolidação social. O texto procurou responder às várias solicitações necessárias a uma folha de sala para uma exposição desta natureza, de uma forma o mais sucinta possível (o que é uma qualidade, como sabem, desconhecida para este escrevinhador). Ficam aqui os agradecimentos a João Bragança e a Pedro Novo pelo convite, e os parabéns pelos 10 anos de estranhezas.(mais)
23 de abril de 2014
Les Schtroumpfs noirs (version bleu)
Serve o presente para dar conta de um texto que publicámos, em exclusivo, e somente em inglês e tradução francesa, no site du9. Trata-se de mais um exercício de détournement artístico, do mesmo autor de Katz, e sobre o primeiro álbum publicado dos Estrumpfes por Peyo, em 1963, em que aparentemente os fotolitos da quadricromia original passaram todos a cyan, criando assim uma espécie de "pasta" homogénea cromática, mas ao mesmo tempo levantando questões, a nosso ver interessantes, sobre representação, apropriação, transformação, apagamento e acentuação, etc.
Podem encontrar o texto aqui.
Podem encontrar o texto aqui.
22 de abril de 2014
Astronauta. Magnetar. Danilo Beyruth (MSP/Panini)
Tal
como havíamos discutido em relação a Laços, não podemos
tintar, a partir da perspectiva criada pela obra hodierna, a produção
anterior. Por isso discordamos profundamente com a ideia de que as
histórias do Astronauta seriam aquelas mais “adultas” da
produção MSP, mesmo no seio dos gibis. Isto não significa que não
aceitemos existirem, entre as histórias, diferenças que insuflem
vários graus de maturidade, complexidade, continuidade entre as
histórias, camadas de intertextualidade que enriqueçam a
experiência da leitura, etc. E o facto de os adultos poderem tirar
prazer de uma obra infanto-juvenil não é um argumento em si mesmo,
pois tudo depende do tipo de prazer que se retira. Haverá
seguramente uma diferença fundamental entre compreender as camadas
intertextuais “adultas” presentes em Astérix, perceber a
subversão dos propósitos superficiais em The Magic Roundabout
(versão inglesa) ou Ren & Stimpy, ou aproveitar o embalo
de entretenimento e humor simples de uma BD/HQ infantil. Pensamos ser
este último o caso da MSP, e não outra configuração.(mais)
21 de abril de 2014
Piteco, Ingá. Shiko.
Num
quadro de discussão atreito a estes livros produzidos pela MSP, será
algo inevitável criar uma apertada rede de relações, se bem que
nada nos pode impedir de necessariamente fazer outro tipo de
ligações, ora com outras obras dos mesmos autores, ora num plano
nacional, ora de género, etc. Mas se nos ativermos a estes grupos,
diríamos que Ingá está mais próximo de PavorEspaciar,
tal como Laços
cria uma dupla com Magnetar.
A razão destes “pares” deve-se ao facto de que neste livro, tal
como no caso do de Gustavo Duarte, estarmos perante uma história
dinâmica mas de trama necessariamente linear. Quer dizer, não
poderemos olhar para Ingá
na expectativa de vermos um exercício de sofisticação no que diz
respeito a metalinguagens, jogos pós-modernos, reinvenções
“não-naturais” da narrativa e por aí fora... Bem pelo
contrário, a narrativa parece criada precisamente para que se possam
atravessar vários espaços, cada qual revelando mais uma personagem,
sobretudo todas aquelas que compõem a “matéria” da “Turma do
Piteco”, e as quais vão sendo introduzidas à la deus
ex machina.
Mas essa estrutura clássica é perseguida com grande mestria. No
interior dessa circunferência, Shiko assegura-se que os ingredientes
estão nos sítios certos, nos momentos certos e de forma a que a
trama seja necessária em si mesma, jamais parecendo uma lista a ser
garantida.(mais)
20 de abril de 2014
Turma da Mônica. Laços. Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (MSP/Panini).
Das
versões vindas a lume neste projecto, Laços é aquele que
tem angariado mais reacções emocionais da parte dos seus leitores.
De certa forma, a conquista deste livro está menos do lado da sua
estrutura narrativa, ou até mesmo da sua capacidade em reinventar
estas personagens, do que na integração delas num esquema emocional
relativamente diferente, talvez mais complexo, do que o usual, mas
sobretudo importante pela sua relevância histórica, uma vez que se
vem prender a mecanismos nostálgicos da geração dos seus criadores
e leitores “principais”, que serão adultos que leram a Mônica
nas suas infâncias, hoje distantes, mas que ressoam nos filhos, por
exemplo. (mais)
18 de abril de 2014
Chico Bento, Pavor espaciar. Gustavo Duarte.
Dos
quatro primeiros títulos desta série, Pavor
espaciar parece ser aquele que melhor se
coaduna com a típica estrutura narrativa das mais costumeiras
aventuras dos gibis. Seria preciso um estudo mais aturado, mas a
grande esmagadora maioria da produção das narrativas da Mônica
e títulos companheiros são de histórias curtas, que raramente
ultrapassam as dez páginas. É claro que com mais de 6 décadas de
produção, a nova linha Jovem e adaptações de histórias
tradicionais,, literárias ou cinematográficas em monografias
especiais, existem narrativas mais longas, e mesmo no interior dos
gibis será possível descobrir histórias por volta de 20 páginas,
o que é raro mas não inédito: Mas o ponto forte são as curtas.
Fazer histórias curtas, porém, num género como o habitual da MSP,
significa que é necessário encontrar um bom equilíbrio entre
brincar com expectativas e as características típicas das
personagens, assim como com o humor ou a possibilidade de citações
e variações de temas. (mais)
17 de abril de 2014
Antologias MSP.
Em quatro publicações com
centenas de gestos diferentes entre si, é algo difícil fazer um juízo global, e
inevitável que se sintam diferentes intensidades a nível narrativo e/ou visual,
que fazem imaginar a possibilidade de um crivo mais rigoroso. No entanto, o
objectivo de todas as antologias era duplo: por um lado, permitir um novo
“fôlego” a estas personagens através do seu uso por autores alheios à política
de estúdio da MSP, e por outro servirem também de uma espécie de embaixada da
cultura contemporânea dos quadrinhos brasileiros, tudo isto sob o signo, ou
desculpa, de uma homenagem às personagens e ao seu autor, por altura das
comemorações. Estamos a falar aqui dos três títulos MSP por 50 artistas, MSP por
+ 50 artistas e MSP por 50 novos
artistas, já que Ouro da casa trabalha
exclusivamente com os artistas que trabalham no estúdio MSP, mas dando-lhes a
oportunidade de “assumirem” uma linguagem própria, fora do “estilo” oficial (house style). (mais)
15 de abril de 2014
Edições especiais MSP. Introdução 2.
Parte 2. (parte anterior)
É importante recontextualizar os passos de Maurício de Sousa no seu
tempo, na medida em que batalhava num mercado ocupado sobremaneira por publicações
com material estrangeiro, quer para públicos adolescentes (os livros de
super-heróis da DC) quer para os mais jovens (com as revistas da Disney), mas
cuja conjuntura cultural e política era marcada por um rejuvenescimento do
Brasil - a nova capital, Brasília, é fundada em 1960 - e um crescimento económico
e industrial indesmentível. Waldomiro Guerreiro e Nadilson Manoel da Silva, em
dois artigos no primeiríssimo número do IJOCA (o de Guerreiro
precisamente sobre o surgimento da obra de Maurício no contexto dos quadrinhos
infantis do Brasil, o de Silva sobre banda desenhada adulta), colocam o pai da Turma num
palco cultural brasileiro onde se encontra o Cinema Novo de um Glauber Rocha, a
poesia concreta e a bossa nova. (mais)
14 de abril de 2014
Edições especiais MSP. Introdução.
Parte 1.
Nos próximos dias, deixaremos alguns apontamentos sobre toda uma série
de livros produzidos pelos estúdios da Maurício de Sousa Produções, nos últimos
anos, no quadro das comemorações sucessivas dos aniversários das várias
personagens criadas por Maurício de Sousa, e as publicações - tiras, revistas,
etc. - que lhes estão associadas. Começando por Bidu, rapidamente se chegaria a
Cebolinha, Chico Bento e depois a Mônica, que acabaria por se tornar a
personagem principal, ou eixo representativo, desse universo de referências. Os
50 anos da Mônica levaram a toda uma série de publicações comemorativas, num
ritmo de produção pujante, desde a reedição das tiras “clássicas”, ao relançamento
dos números de todas as revistas principais em caixas coordenadas, já para não
falar de edições especiais, como aquela “de luxo” produzida pela Levoir e
distribuída por dois diários portugueses. (Mais)11 de abril de 2014
The Visual Language of Comics. Neil Cohn (Bloomsbury)
À medida
que se publicam cada vez mais livros, e decisivos, de estudos dedicados à banda
desenhada, não é de surpreender que surjam gestos que tentam, de uma forma ou
outra, criar um edifício teórico que pretende ser algo "universal"
ou, se não isso, pelo menos de grande "aplicabilidade". O livro de
Cohn integra-se nessa categoria, se bem que tenhamos de distinguir intenções de
conquistas efectivas. O sub-título, Introduction to the Structure and
Cognition of Sequential Images, é bastante explícito sobre o seu propósito,
se bem que Cohn apresenta aqui uma teoria de grande sofisticação que vai bem
para além de um nível “introdutório”, e, de uma forma sumária, podemos dizer
que procura ancorar-se em lições advindas de vários campos específicos da
linguísticas com contributos de outros campos, inclusive a psicologia cognitiva
e algum grau da semiótica social. (Mais)
7 de abril de 2014
"Articulações" 1, no Bandas # 3.
Ainda para falar de colaborações, poderão encontrar um podcast do programa "Bandas", no blog de Nuno Pereira de Sousa, onde dei início a uma espécie de crónica ensaística, que será algo irregular, e que terá por nome Articulações.
Procurem aqui.
Procurem aqui.
Colaboração no aCalopsia. "Vida de Zíngaro".
Dando continuidade às colaborações com outros espaços, aponto aqui uma conversa (não entrevista) com Carlos Zíngaro, algo datada, mas sempre merecedora de alguma atenção, sobretudo o trabalho daquele autor.
Aqui.
Aqui.
4 de abril de 2014
Colaboração no du9. 978, de Pascal Matthey.
Serve o presente post para indicar que demos início a uma colaboração que esperamos regular com o site francófono du9, um dos sites com alguns dos melhores textos críticos sobre banda desenhada em língua francesa que conhecemos, e onde se procura de facto pensar os textos.
Esta primeira colaboração - acessível aqui - não é senão a tradução (eventualmente com algumas adaptações) do texto sobre 978 de Pascal Matthey, de que falámos aqui. Porém, podemos desde já indicar que as próximas colaborações serão exclusivas, "transitando" alguns dos livros de que falaríamos aqui, sobretudo internacionais, para o du9.
Esta primeira colaboração - acessível aqui - não é senão a tradução (eventualmente com algumas adaptações) do texto sobre 978 de Pascal Matthey, de que falámos aqui. Porém, podemos desde já indicar que as próximas colaborações serão exclusivas, "transitando" alguns dos livros de que falaríamos aqui, sobretudo internacionais, para o du9.
Uma história no The Lisbon Studio Mag # 6
Mais uma vez, colaborámos na The Lisbon Studio Mag, desta feita com uma história curta co-criada e desenhada por Amanda Baeza. Além disso, naturalmente, encontrarão muitas outras coisas excelentes, desde uma história com alguns anos do Pedro Brito e que é óptimo revisitar, uma estranha paródia mas ainda assim algo emotiva do Capitão Saraiva, uma intrigante galeria de retratos de Ricardo Cabral, e muitas outras descobertas dos suspeitos do costume.
Acesso directo aqui.
Mais uma vez agradecemos aos editores do TLSMag, e a Amanda Baeza, por tudo.
Acesso directo aqui.
Mais uma vez agradecemos aos editores do TLSMag, e a Amanda Baeza, por tudo.