O
acesso à banda desenhada que não naquelas línguas que mais
usualmente nos estão próximas (português, espanhol, cada vez menos
o francês, inglês) não pode ser desculpa para uma distracção
dessas mesmas produções. As dificuldades em acompanhar essas
tendências é tremenda, obviamente, e nem sequer a barreira da
língua, se ela existir, é a mais significativa. É mesmo o acesso,
seja este entendido de modo económico, físico ou de percepção. É
também uma fonte permanente de angústia não se poder ler tudo,
como qualquer bibliófilo saberá, mas procura-se corrigir, ou
contrabalançar, esse sentimento, na medida que se estende a mão a
algo que alargue o círculo dessa atenção. (Mais)
31 de agosto de 2015
30 de agosto de 2015
VERBD. Episódio 3.
Com algum atraso em relação ao que prevíramos, eis o terceiro episódio do Verbd. Este episódio é uma espécie de meio do caminho. Há uma total concentração nos onze autores que então escolhêramos para debater a banda desenhada, dando um tempo determinado a todos para discorrerem, à sua maneira, sobre os seus modos de trabalhar, observando-os, ao mesmo tempo, a lavrarem a um desenho, ainda assim coração desta arte. Ainda estou particularmente orgulhoso dos "pequenos vídeos" que fizemos no fim de cada entrevista, e a suas montagens sonoras...
Depois termina com o mais glorioso conselho que se pode dar a quem quer fazer banda desenhada (ou outra coisa qualquer) pelo João Paulo Cotrim: "Faz!"
Episódio 1.
Episódio 2.
Episódio 4.
Episódio 5.
28 de agosto de 2015
Opus. Satoshi Kon (Dark Horse)
A palavra opus,
latim para “obra” ou “trabalho”, num sentido singular, tem uma raiz no
Indo-europeu *op-, que poderá dar a ideia de um excesso de esforço.
Se se aplicar demasiada força física ao se desenhar, o papel rasgar-se-á,
seguramente. Mas o que sucede quando esse esforço se encontra num outro plano
em relação à obra, e se rasgam antes as fronteiras ontológicas entre a
realidade e a criação, entre a vida na vigília e o devaneio da fantasia? (Mais)
27 de agosto de 2015
Uninforme. Exposição de Mao.
Serve o presente post para informar todos os interessados que na próxima Quinta-feira, dia 3 de Setembro, inaugurará às 18h (até às 19h) uma pequena exposição dos trabalhos mais recentes de Mao, autor de banda desenhada, membro do Clube do Inferno, intitulada Uninforme.
Tal como a exposição de Francisco Sousa Lobo ainda em curso, esta estará integrada na programação Os 5 sentidos da banda desenhada da Bedeteca da Amadora (Biblioteca Municipal Piteira Santos), assinada por nós.
Uninforme conterá pranchas originais de trabalhos criados entre 2013 e 2015, quer bandas desenhadas publicadas quer inéditas (ou no prelo, como soe dizer-se).
Apareçam!
Tal como a exposição de Francisco Sousa Lobo ainda em curso, esta estará integrada na programação Os 5 sentidos da banda desenhada da Bedeteca da Amadora (Biblioteca Municipal Piteira Santos), assinada por nós.
Uninforme conterá pranchas originais de trabalhos criados entre 2013 e 2015, quer bandas desenhadas publicadas quer inéditas (ou no prelo, como soe dizer-se).
Apareçam!
25 de agosto de 2015
RecidIVist. Zak Sally (auto-edição)
É algo difícil ler um
livro que cria obstáculos à sua própria leitura. Um livro que,
descaradamente, nos apresenta matéria verbal para ser lido e depois
nos nega essa possibilidade dadas as formas e estratégias de
impressão. Algo que, para todos os efeitos, é uma banda desenhada,
e pretende que se institua um diálogo permanente entre as imagens,
aparentemente narrativas, e um texto, aparentemente complementar. E
depois se nega a completar essa união. Recidivist é um livro
que não pode, pelo menos de forma fácil, ou ininterrupta, ou
rápida, ou cabal, ser lido. E se for esse o propósito? (Mais)
21 de agosto de 2015
Trama. João Fazenda (Abysmo)
Um sketchbook é
sempre um objecto bizarro, pois ele concatena em si mesmo muitas
linhas de fuga de sentido que provêm de outros objectos ou
categorias, como se se tratasse de um cadinho onde essas
características aproveitadas fossem destiladas. Uma galeria, um
diário, um estaleiro de trabalho, ou outras configurações, como já
havíamos aprendido e debatido com Drawing From Life. Trama,
de João Fazenda, não escapa dessas noções. (Mais)
19 de agosto de 2015
O árabe do futuro. Riad Sattouf (Teorema)
O
projecto autobiográfico de Riad Sattouf tem sido construído de um
modo pouco consistente, no sentido em não ter arvorado nenhuma linha
programática que se fosse construindo de forma nítida. Contudo,
isso apenas reflecte também a forma viva como a vida é levada. Não
há regra nenhuma para se construir a autobiografia, podendo ser
perseguida de forma poética e fragmentária à Marco Mendes e
Baudoin, desdobrando-se as várias facetas à la Francisco Sousa
Lobo, procurando caminhos auto-ficcionais à la Justin Green, ou
então indo ao sabor dos dias. Sattouf tem alguns interesses
secundários que têm informado este seu projecto, nomeadamente as
comunidades árabes e franco-árabes na França contemporânea (ele
próprio é filho de mãe francesa e de pai sírio) e ainda a
experiência da adolescência com todas as suas tensões com o mundo.
O corolário destes dois interesses, fora do projecto autobiográfico,
já havia sido aqui abordado, com La vie secréte des jeunes/Les beaux gosses. (Mais)
18 de agosto de 2015
O tempo do gigante. Carmen Chica e Manuel Marisol (Orfeu Negro)
Se a natureza do tempo é incompreensível para os seres
humanos, por estarmos nele imbuídos ou por ele sermos constituídos, tal não
significa que esse seja um enigma o qual devamos desistir perseguir. E não há
melhor momento de nos começarmos a interrogar sobre ele do que no momento em
que passamos a existir, que é sempre, a cada momento afinal. Os livros ditos
infantis, mormente os ilustrados, os livros de histórias com ou por imagens,
são um instrumento incontornável nessa aprendizagem permanente, e se colocamos
aquela ressalva quanto ao seu público-alvo é porque, de quando a quando, haverá
livros que poderão ou deverão mesmo ser lidos pelos adultos não tanto com olhos
de “nostalgia” ou “maravilha ingénua”, mas genuína entrega. Este é um desses
objectos. (Mais)
17 de agosto de 2015
Chico-Chorão. Maurice Sendak (Kalandraka)
Em 1970, Sendak criou duas pequenas animações que integraram
a versão norte-americana (e original) do programa televisivo e pedagógico Rua Sésamo. Ambos eram dedicados a dois
algarismos, o 7 e o 9. Se a primeira, “Seven Little Monsters”, daria origem a
uma série de livros explorados por outros autores, o segundo, “Bumble-Ardy”
daria origem a este mesmo picture book, agora publicado em português, no
seguimento da publicação da obra deste autor maior desta área, como já havíamos discutido. (Mais)
16 de agosto de 2015
Colaboração no RIDBA: La Malédiction de Rascar Capac, de Hergé, ed. por Philippe Goddin.
Numa outra colaboração, que tardou a parir mas é mais que bem-vinda, Nuno Pereira de Sousa, que tem no seu site bandasdesenhadas.com um dos mais informativos e polivalentes espaços dedicados a este disciplina no nosso país, aceitou um texto nosso para uma nova secção, mais académica ou ensaística, chamada RIBDA. Como o próprio administrador diz, seria tentativamente uma Revista Internacional de Banda Desenhada, Ilustração e Afins, mas neste momento manter-se-á como Rubrica.
Nesta primeira colaboração, analisamos o primeiro volume da edição "semi-crítica" do texto original d'As sete bolas de cristal, de Hergé. Escrito há um ano, entretanto já foi lançado o segundo volume, e que corrigiria um ponto ou dois, ou sobretudo ancoraria o propósito do projecto de Ph. Goddin. Estamos em crer que ainda farão sentido estas palavras, e que a leitura daquele livro recontextualiza a produção de um autor decisivo na construção da banda desenhada tal como a entendemos hoje em dia, para bem ou para mal.
Link directo, aqui. E agradecimentos a Nuno Pereira de Sousa, por tudo.
Nesta primeira colaboração, analisamos o primeiro volume da edição "semi-crítica" do texto original d'As sete bolas de cristal, de Hergé. Escrito há um ano, entretanto já foi lançado o segundo volume, e que corrigiria um ponto ou dois, ou sobretudo ancoraria o propósito do projecto de Ph. Goddin. Estamos em crer que ainda farão sentido estas palavras, e que a leitura daquele livro recontextualiza a produção de um autor decisivo na construção da banda desenhada tal como a entendemos hoje em dia, para bem ou para mal.
Link directo, aqui. E agradecimentos a Nuno Pereira de Sousa, por tudo.
15 de agosto de 2015
Comics as History, Comics as Literature. Annessa Ann Babic, ed. (Farleigh Dickinson University Press), por Sara Joana Silva.
Nota inicial: conforme experiências anteriores, e após uma primeira abordagem sumária deste mesmo título, damos lugar a uma leitura mais aprofundada a um outro investigador. Desta feita, é a Sara Joana Silva que cabem as palavras sobre Comics as History, Comics as Literature, e a quem agradecemos profundamente a paciência e tempo.
Este livro é uma antologia de artigos académicos que procuram justificar o estatuto da banda desenhada em relação aos outros campos de estudo, nomeadamente em relação à Literatura e à História, tal como indica o título, demonstrando a importância da banda desenhada na construção da sociedade atual, sendo um meio usado para problematizar questões sociais mais ou menos em voga, dependendo da altura de publicação de cada obra, e podendo ser utilizado para fins culturais e pedagógicos.
Este livro é uma antologia de artigos académicos que procuram justificar o estatuto da banda desenhada em relação aos outros campos de estudo, nomeadamente em relação à Literatura e à História, tal como indica o título, demonstrando a importância da banda desenhada na construção da sociedade atual, sendo um meio usado para problematizar questões sociais mais ou menos em voga, dependendo da altura de publicação de cada obra, e podendo ser utilizado para fins culturais e pedagógicos.
Logo no texto introdutório, Babic lista pontos
importantes na história da banda desenhada e do debate interdisciplinar desta
área, onde teóricos de um lado defendem a legitimidade da banda desenhada como
forma de literatura, enquanto outros consideram esta forma de arte como algo
inferior. (Mais)
14 de agosto de 2015
Colaboração no Arte Photographica: Photobooth. A Biography, de Meags Fitzgerald.
Numa nova perna em território alheio, entregámos a leitura crítica a este projecto de uma jovem autora norte-americana ao blog Arte Photographica, de Sérgio Gomes, um espaço onde a fotografia é a privilegiada tal como a banda desenhada o é neste cantinho.
Um livro que complica a questão da auto- e da biografia industrial de forma decisiva. E que explora as relações possíveis entre a tecnologia e a cultura, a memória pessoal, colectiva e maquínica. Que ele um objecto e o transforma numa espécie de espelho psicológico. E, claro, que também pensa a relação entre as formas da banda desenhada e da (ou de uma forma da) fotografia.
Para além da recensão, fazemos ainda uma pequena entrevista à autora, imitando a fórmula daquele outro espaço.
Ficam os agradecimentos a Sérgio Gomes, por abrir a porta e deixar-nos ali pernoitar, e à autora Meags Fitzgerald, pela simpatia.
Acedam ao texto aqui.
Um livro que complica a questão da auto- e da biografia industrial de forma decisiva. E que explora as relações possíveis entre a tecnologia e a cultura, a memória pessoal, colectiva e maquínica. Que ele um objecto e o transforma numa espécie de espelho psicológico. E, claro, que também pensa a relação entre as formas da banda desenhada e da (ou de uma forma da) fotografia.
Para além da recensão, fazemos ainda uma pequena entrevista à autora, imitando a fórmula daquele outro espaço.
Ficam os agradecimentos a Sérgio Gomes, por abrir a porta e deixar-nos ali pernoitar, e à autora Meags Fitzgerald, pela simpatia.
Acedam ao texto aqui.
13 de agosto de 2015
All you need is kill. Takeshi Obata et al. (Devir)
Faz muito sentido da parte
da editora em lançar os dois volume de All you need is kill
ao mesmo tempo, uma vez que a economia e concentração desta
narrativa, assim como a velocidade da sua complexificação e
resolução, convida a uma leitura rápida. Se a divisão por
capítulos se justificava na sua serialização em revista, na sua
ausência no nosso mercado, a sua (re)leitura em livro é a opção
certa. (Mais)
11 de agosto de 2015
Vários títulos. AAVV (Studio Pilar)
Conforme indicado ontem,
gostaríamos de fazer uma breve apresentação de alguns dos objectos
mais próximos ao livresco produzidos pela plataforma Studio Pilar,
da Itália. Apesar de existirem outros produtos, como colecções de
desenhos, calendários, sacos de pano impressos, marcadores, etc.
focámos a nossa atenção nos livros que mais próximos estariam de
uma ideia tradicional de banda desenhada (ou territórios contíguos).
10 de agosto de 2015
Kovra no. 6. AAVV (Ediciones Valientes)
Ao contrário de uma ideia
sobretudo alimentada pela edição mainstream, ou pelo menos
convencional, a circulação de autores em palcos internacionais não
tem necessariamente de passar pela edição de um livro inteiro numa
língua estrangeira. É óbvio que esse tipo de circulação leva
imediatamente a uma maior exposição e recepção, resultado natural
do volume de impressão, os pontos de venda e a atenção mais
categorizada da esmagadora maioria dos canais de divulgação, também
eles necessariamente balizados por princípios de normalização.
Todavia, se a atenção abarcar outro tipo de objectos, descobriremos
formas alternativas de diálogo e de presença em palcos
internacionais. (Mais)
7 de agosto de 2015
Un cadeau/Le royaume. Ruppert et Mulot (L'Association)
Desde os seus primeirospassos, integrando aspectos que tinham a ver com a performance
e a integração das intervenções verbais ou interacção com os
leitores/espectadores, que a dupla Ruppert e Mulot trouxeram novas
realidades para o campo social, pragmático, editorial e estético
para a banda desenhada. Existindo muitos autores de grande qualidade
e até mesmo capazes de criar “obras-primas” do ponto de vista
literário, visual, estrutural, holístico, são poucos aqueles que
têm trazido novos protocolos de leituras, estruturação ou relação
física. Chris Ware é um desses nomes, Ruppert e Mulot são outros. (Mais)
6 de agosto de 2015
Ai Ai no. 1. AAVV (auto-edição)
Em 1995, já na sombra (ou
luz?) da grande transformação da oferta cultural na cidade de
Lisboa depois desta ter sido Capital da Cultura em 94, e numa escala
mais pequena então mas que se revelaria significativa, a fundação
da pequena associação de artistas zé dos bois, que organizaria o
Festival Atlântico nesse ano, existia pela capital do país uma
corrente eléctrica de desejos que finalmente encontravam espaços e
caminhos certos para a sua realização. Público, pontos de
encontro, copos, e algum financiamento promissor. Na banda desenhada,
isso não era de forma alguma uma excepção, até porque a década
havia começado auspiciosamente, na ressaca da revista LX Comics,
dirigida por Renato Abreu, que reunia a coqueluche da “nova banda
desenhada portuguesa”, a surfar na mesma onda que tinha dado origem
à madrilena Madriz, na sua movida... e uma série de
outros projectos em formato de livro com essa geração (Noites de
Vidro sendo o título mais bombástico). A banda desenhada
parecia estar integrada nos novos movimentos da arte portuguesa, da
dança, do cinema, da música, da literatura... Surgia assim uma nova
revista que desejava ser um título corrente, regular, com autores
jovens e com desejo de fazer uma banda desenhada que não pedia
licença para seguir as tendências do melhor que a disciplina tinha
para oferecer à escala internacional. Até a capa interior, com um
anúncio do Tintim no Independente dava a entender que
haveria apoio de camadas informadas e sofisticadas da sociedade.
Lia-se no editorial que “Acreditamos que sim, que vai valer a
pena”. Valer a pena, valeu, sem dúvida, mas não se regressaria
tão cedo ao mesmo projecto. (Mais)
4 de agosto de 2015
Saint Cole. Noah Sciver (Fantagraphics)
É com alguma dificuldade que tentamos compreender este livro. Tratar-se-á
de uma espécie de abordagem irónica e pós-sclacker,
miserabilista, do Bildungsroman? Será
antes um retrato desencantado e feroz da América branca sub-urbana contemporânea?
Será a tentativa de criar uma anedota de humor negro e que funciona como
espelho de uma geração ou esfera social? Ou será apenas uma ficção lúgubre? (Mais)
2 de agosto de 2015
VERBD. Episódio 2.
Conforme indicado anteriormente, aqui temos o segundo episódio do Verbd. Continuamos a história da banda desenhada portuguesa, desde 1968 com a viragem (para os autores do documentário, própria de uma geração, decisiva) da revista Tintim, até à contemporaneidade (de então, algo alterada no panorama mais rico dos nossos dias, felizmente). E depois voltamos a falar com os onze autores escolhidos para abordar, e alguns demais temas sobre a percepção social da banda desenhada.
Episódio 1.
Episódio 3.
Episódio 4.
Episódio 5.
Episódio 1.
Episódio 3.
Episódio 4.
Episódio 5.