Apesar
deste livro, como aquele sobre Saint Phalle, se tratar de uma
encomenda, neste caso do Rijksmuseum Amsterdam, com o intuito de
celebrar a vida do grande pintor holandês, Typex evita todas e
quaisquer armadilhas de um discurso didáctico ou simplificador quer
da vida quer da obra de Rembrandt. Estamos, portanto, num diálogo
que, se mais próximo dos intentos de Ruitjers em relação a Bosch,
acaba por se tornar mais feliz no seu resultado. Não há grandes
hipóteses deste livro ser recuperado por programas escolares. (Mais)
26 de fevereiro de 2016
24 de fevereiro de 2016
Hieronymus. Marcel Ruijters (Knockabout)
Neste
breve corpo de três biografias em
banda desenhada de
artistas visuais
ou plásticos,
entramos
em território holandês, com um pintor de uma época mais recuada, e
com um autor que, contemporâneo, já revelou o seu contínuo
interesse por uma “língua antiga”.
Espécie
de biografia inventada – dada a ausência de dados biográficos
sólidos,
com
poucas excepções pontuais e em segunda mão, sobre o pintor
Jeroen
van Aeken
de ‘s-Hertogenbosch,
mais
conhecido por Jerónimo
ou Hieronymus
Bosch
-, Marcel Ruijters opta por subsumir toda e qualquer pesquisa
inerente ao título à ideia de perseguirmos o trajecto de um pintor
na sua ascensão e conquista de algum nome. Hieronymus
não reconta toda a sua vida de fio a pavio, mas inicia-se na vida
adulta do pintor. E não procura criar nenhum mecanismo de explicação
definitiva dos seus mais famosos quadros, os quais não perfazem, na
verdade, a maioria do que se lhe pode atribuir com segurança: a
esmagadora dos quadros que sobreviveram de Bosch são na verdade de
matérias convencionais religiosas. Nesse sentido, e até pelo uso
“mágico” que o autor da banda desenhada faz dos seus quadros,
aqui e ali mostrando a sua feitura, mas obliquamente, e incorporando
nas ideias internas de muitas personagens as estranhas e distorcidas
criaturas que parecem criar um imaginário “Boschiano”,
Hieronymus
contribui sobremaneira para a manutenção de um certo mito. (Mais)
23 de fevereiro de 2016
Vídeo de promoção da "SemConsenso".
Ainda a propósito da exposição SemConsenso, que poderão visitar até dia 20 de Março, um vídeo de promoção, com algumas imagens e uma declaração.
Obrigado a Fernando Marques.
(tom monocórdico e falta de dicção inescapável)
Obrigado a Fernando Marques.
(tom monocórdico e falta de dicção inescapável)
22 de fevereiro de 2016
Niki de Saint Phalle. Le jardin des secrets. Dominique Osuch e Sandrine Martin (Casterman)
A
propósito de Las Meninas, de Santiago García e Javier Olivares, havíamos dado conta de uma
tendência contemporânea, variada, de livros que, partindo de uma
qualquer ideia de biografar a vida de artistas criavam discursos
interpelantes sobre essas mesmas artes e carreiras, assim como
asseguravam uma qualquer reflexão interessante sobre a própria
banda desenhada, nascida desse embate ou diálogo. Por outro lado,
quer com Bob Deler
quer com Modern Arf (e
tantas outras ocasiões), tínhamos tecido algumas considerações
sobre a relação que a própria banda desenhada estabelece com o
dito “mundo da arte”... Ora seguiremos nos três próximos posts
três livros que, mantendo-se de maneira absolutamente central
naquela tendência – livros de banda desenhada falando de pintores
históricos -, vêm criar discursos bem distintos. Começaremos com a
biografia que é dedicada a Catherine Marie-Agnès de Saint-Phalle,
mais conhecida por Niki de Saint Phalle, morta em 2002. (Mais)
20 de fevereiro de 2016
Zero. Ales Kot et al. (Image)
Como havíamos indicado de forma superficial a propósito de
alguns títulos escritos por Nathan Edmondson, o jovem escritor Ales Kot parece
ser uma antítese do posicionamento conservador dessoutro escritor dessa mesma indústria
de entretenimento. Seria um erro fazer um juízo de valor global sobre toda a
indústria em relação a todos e quaisquer assuntos de cariz político, dada a sua
diversidade e história, mesmo que à partida, sendo parte da indústria cultural,
possa parecer apenas ser capaz de sustentar as ideias já vigentes (as
estratégias meramente comerciais são sintoma claro). Kot trabalha no interior
desse mesmo campo, tendo escrito títulos para a Marvel e a DC, e agora
perseguindo vários títulos na Image, que lhe permite reservar os direitos de
autor, mas não abandonando uma noção de mainstream.
Só que através das suas narrativas convolutas e estratificadas, amalgamando
elementos genéricos e laivos ensaísticos, cria estruturas electrificantes e
estimulantes que não servem a ideologia supostamente central da própria
indústria para que a sua existência contribui. (Mais)
16 de fevereiro de 2016
Os doze de Inglaterra. Eduardo Teixeira Coelho (Gradiva)
O
seguinte texto deve ser lido de duas formas complementares. Não
sendo nossa função fazer um site de notícias ou comentários sobre
certames e efemérides, com algumas excepções, mas sim a de
apresentar textos sobre leituras efectuadas de livros ou projectos, a
abordagem ao novo Os
doze de Inglaterra,
de Eduardo Teixeira Coelho, é informado, porém, pelo trabalho
desenvolvido com vista ao seu lançamento, acompanhado de exposição
e uma apresentação, na Bedeteca da Amadora, no próximo dia 18, às
21h30. Assim, fazendo sobretudo uma leitura deste livro que temos a
certeza de vir a tornar-se significativo por várias ordens, será
acompanhado de algumas notas em torno de assuntos em torno desse
encontro. (Mais)
15 de fevereiro de 2016
Creating Comics as Journalism, Memoir, and Nonfiction. Randy Duncan, Michael Ray Taylor e David Stoddard (Routledge)
Na
sua complexa história, impossível de resolver de modo absoluto, a
banda desenhada não nasceu de forma alguma no campo da ficção,
abrindo-se depois, paulatina, à não-ficção. Sempre houve um
convívio entre um e outro, não estivesse a banda desenhada, nos
seus primeiros passos mediáticos e sociais, ali para os lados do
século XVIII e XIX, associada ao desenho e caricatura de imprensa, e
a imprensa a toda a sorte de fins, e não houvesse coincidência de
desenvolvimentos técnicos, criação de públicos e cultura,
partilha de autores. O que hoje tem nomes e cultivos distintos não
foram nunca rios totalmente separados, mas redes de canais que se
entrosavam uns nos outros. Contudo, como se sabe, há toda uma
percepção social que foi alimentada por práticas efectivas que
afastariam a banda desenhada, na sua maioria de produção, assim
como canais de circulação, de fins que não o do entretenimento ou
de uma pedagogia mais ou menos controlada. É a contemporaneidade que
tem trazido uma multiplicação de estratégias que, por seu lado,
permite que se façam novos gestos de balanço e reconsideração da
história e prática. (Mais)
13 de fevereiro de 2016
It Shouldn't Happen (To a Dog). Don Freeman (Dover)
A primeira vez que
nos cruzámos com uma referência a este título foi no pequeníssimo mas delicioso
guia Forty Cartoon Books of Interest, de Seth, o qual mencionáramos aqui.
Desde então temos procurado obviar alguns dos títulos que nos eram
desconhecidos, obtendo cópias dos livros ali indicados. O volume de Freeman,
publicado originalmente em 1945, foi um deles, e a sua reedição pela Dover é
sinal de que poderá integrar as discussões sobre a história da banda desenhada
e do cartoonismo de uma maneira mais imediata. (Mais)
12 de fevereiro de 2016
Colaboração no The Comics Alternative: The Abbadon, de Koren Shadmi.
Este livro é, de certo modo, baseado na peça Huit Clos, de Jean-Paul Sartre, particularmente (des)conhecida por ser aquela onde encontraremos a frase "O inferno são os outros". O autor de origem israelita Koren Shadmi transforma essa peça existencialista, concentrada e sombriamente cómica numa intriga mais convencional, naturalizada, mas não por isso menos angustiante, numa espécie de loop num circuito espacial sem escapatória.
O texto sobre este livro, em inglês, encontra-se aqui.
O texto sobre este livro, em inglês, encontra-se aqui.
11 de fevereiro de 2016
Yon & Mu. Junji Ito (Kodansha)
E agora, para algo completamente
diferente.
Junji Ito é um autor que tentamos
seguir com interesse, por criar das poucas bandas desenhadas de
horror que no é de facto perturbante a um nível fisiológico. O
modo como ele transforma os corpos humanos em palcos de
transformações plásticas, sem jamais perder o fio à meada
naturalista torna-o perfeito para certas emoções (como discutimos há pouco). Não foi sem
alguma surpresa, portanto, que nos deparámos com um livro que parece
dedicar-se a territórios totalmente distintos, e que pensávamos
afastados do autor. (Mais)
10 de fevereiro de 2016
Best of 2015: para Paul Gravett.
Pelo quarto ano consecutivo, abstendo-nos de criar "top tens" no nosso burgo, uma vez que há para todos os gostos, voltamos porém a corresponder ao pedido de Paul Gravett com a esperança de contribuir para algum diálogo e circulação internacional de produções portuguesas.
Lista portuguesa directamente acessível aqui.
Lista portuguesa directamente acessível aqui.
6 de fevereiro de 2016
La maison aux insectes. Kazuo Umezu (Le Lézard Noir)
É uma verdade de La Palisse que a banda desenhada japonesa se
apresenta de uma forma mais estratificada do que outras, no que diz respeito a
géneros, públicos e circulações, até pela sua produção massiva, o que torna
mais fácil, até certo ponto, análises por atacado. O que não invalidade a
existência de cruzamentos, contaminações e problemas de generalização com essas
mesmas leituras. Contudo, elas ajudam, numa primeira instância, a uma primeira
abordagem. Ora, é nesse sentido que podemos afirmar que se existe uma grande
oferta de títulos de horror, é Kazuo Umezu, famosamente conhecido como “Kazz”,
o seu grande primeiro cultor e figura. (Mais)
4 de fevereiro de 2016
Colaboração no The Comics Alternative: Disposession & Transforming Anthony Trollope, de Simon Grennan et al
De quando em quando, surgem livros que se tornam enormes desafios a muitas das categorias que alimentamos numa visão tradicional da banda desenhada. Dispossession é um desses livros, o qual levanta questões profundas em torno de expectativas relativas a adaptações literárias, o agenciamento das acções das personagens, e a possibilidade de criar um genuíno diálogo cultural que ilumina ou questiona o tecido original com questões contemporâneas. É como se Simon Grennan, um autor e académico de grande rigor desta arte, fosse capaz de colocar de lado a "tradição" (sem a esquecer, e citando-a mesmo na tessitura do seu projecto), para empregar um método de grande razão. No enquadramento do bicentenário em torno do escritor inglês, ao mesmo tempo que Dispossession foi lançado, foi também publicado um volume académico, Transforming Anthony Trollope, com ensaios, relacionado com o projecto em termos latos. No site The Comics Alternative, tivemos a oportunidade de analisar ambos os livros, procurando que se informasse mutuamente, e ainda tivemos o privilégio de entrevistar Grennan.
Podem aceder ao artigo aqui. E à entrevista aqui.
Nota final: agradecimentos a ambas as editoras, pelas ofertas dos livros, e a Simon Grennan, pela contínua amizade e simpatia.
Podem aceder ao artigo aqui. E à entrevista aqui.
Nota final: agradecimentos a ambas as editoras, pelas ofertas dos livros, e a Simon Grennan, pela contínua amizade e simpatia.
2 de fevereiro de 2016
Norak e outros títulos. J.-M. Bertoyas (Kobé/auto-edição)
O texto presente
não se focará somente em Norak, le fils de Parzan, o último número da
série de fanzines Kobé do autor
francês Bertoyas, mas antes é um comentário sobre a obra deste autor.
Relativamente obscuro fora dos circuitos da edição independente francófona
europeia, mas neles uma referência apolínea, temos tido a fortuna de trocar
alguma correspondência que leva ao acesso às suas publicações caseiras. É com Norak,
que na verdade não se distingue em termos de grau de trabalho das anteriores,
que finalmente conseguimos tecer estas ideias soltas que se seguem. (Mais)
1 de fevereiro de 2016
6 de Fevereiro: Mesa-redonda no Museu do Neo-Realismo
Serve o presente post para indicar que integrada na programação complementar da exposição SemConsenso - Banda Desenhada, Ilustração e Política, ainda patente no Museu do Neo-Realismo (até 20 de Março de 2016), terá lugar uma mesa-redonda, no próximo dia 6 de Fevereiro, pelas 16h00, sob o título “Desenho e jornalismo, o senso da esfera pública”.
Para além deste vosso criado, enquanto comissário da exposição, a convidada para esta intervenção é a jornalista Ana Luísa Rodrigues, em representação do Sindicato dos Jornalistas.
Apareçam.