23 de setembro de 2025

A cada sete ondas. Beatriz Brajal (Chili Com Carne)

A escritora Ursula K. Le Guin escreveu um importantíssimo e influente ensaio intitulado “The Carrier Bag Theory of Fiction” (facilmente acessível na internet, e publicado em português como A ficção como cesta, pela Dois Dias), que costumo usar e ler em aulas de argumento. É uma espécie de bálsamo e antídoto às inúmeras estruturações narrativas, ou fórmulas, que são empregues em circunstâncias idênticas, que preferem antes apresentar as lições de Joseph Campbell (o “monomito” ou, para quem engole a pílula, “ a jornada do herói”) ou dos inúmeros gurus de Hollywood scriptwriting, como os McKees, Snyders, Syd Fields, Hauges, Chamberlains, etc. Não quer dizer que estes estejam “errados”, de forma alguma, mas tão-somente que, e como escreveu alguém, não fazem mais do que serem notas de rodapé de Aristóteles, o qual, com a Poética, fundou toda a narratologia ocidental, para bem ou para mal. O “mal”, neste caso, está em que a esmagadora maior dos escrevinhadores apenas se preocupam com a inexorável seta da intriga, da resolução do problema, e da centralidade absoluta do herói-função, e menos num moldar de pessoas. (Mais) 

20 de setembro de 2025

Boa Noite, Punpun, Vol. 4. Inio Asano (Devir)

Tendo escrito anteriormente sobre a voz singular de Inio Asano, inclusive quando o primeiro volume desta série foi publicado em português, remeto a essas ideias para a introdução desta obra que se estende numa tensão constante entre o quotidiano e o abismo. Chegamos agora ao volume 4, confirmando e aprofundando essa inclinação deste Bildungsroman, ou” romance de formação”, com a sua inflexão profundamente melancólica, quase espectral, desestabilizadora dos pressupostos mais clássicos desse género literário.

Punpun, o protagonista, é agora um adolescente atravessando os costumeiros ritos esperados da juventude: escola, família, primeiros amores, rivalidades, conflitos ridículos, violências de todo o grau, desilusões. Mas fá-lo como uma figura graficamente reduzida a um pictograma, um rabisco minimalista, quase uma nota de rodapé visual. Esta escolha, longe de facilitar a identificação do leitor, como Scott McCloud sugeria no seu célebre Understanding Comics, e muitos críticos gostam de papaguear, parece-me antes instaurar uma distância, um desconforto. A figura de Punpun não é um avatar neutro, mas um incómodo, uma presença que se recusa a ser plenamente humana, e cuja mudez gráfica-verbal acentua a dissolução da sua personalidade. A sua incapacidade de articular a fala humana pode ser vista, talvez, menos como mero artifício estilístico, do que uma burilada metáfora da sua alienação, da sua falência enquanto sujeito. Há, portanto, uma dimensão ontológica perseguida pelo autor, que parece menos interessado em pura e simplesmente “contar-nos uma história sobre um adolescente” do que demonstrar a dificuldade de nos identificarmos (esta noção, na verdade, é muito problemática, do ponto de vista de exactidão teórica, e é abusado por muitos críticos de forma leviana, mas não teremos aqui, como em outros momentos, de a debater) com uma personagem cuja presença não nos permite qualquer grau de familiaridade, mas antes uma estranheza (ou uncanniness, para nos associarmos ao conceito de Freud, o Unheimlich) que nos interpela e nos obriga a repensar as fantasias que poderemos descrever dos nossos passados em formação. (Mais)

19 de setembro de 2025

Visualising Small Traumas em Open Acess



O meu livro Visualising Small Traumas. Contemporary Portuguese Comics at the Intersection of Everyday Trauma, publicado pela Leuven University Press, e fruto do meu trabalho de doutoramento, encontra-se a partir de hoje totalmente acessível. 

Graças à iniciativa Open Book Collective, em que várias bibliotecas universitárias, e editoras,participam, todos os capítulos estão agora acessíveis de forma livre e directa. 

Todo o mundo da edição académica é um pouco estrambólico, financeiramente pouco justo para com os autores eles mesmos, nem sempre transparente em todas facetas e muito pouco acessível - até pelos preços - a um público interessado (que, necessariamente, já é de nicho).

Valha o que valha, o seu livre acesso é um passo à divulgação e partilha de conhecimentos, desenvolvimentos, ideias e convite, também, a mais pensamento em torno destes objectos.

Desejo-vos boa leitura!

Acesso pela Jstor aqui e pela MUSE aqui.

11 de setembro de 2025

A Floresta. Thomas Ott (Levoir/Público)



O primeiro texto que escrevi, mas último nesta lista, para os volumes da colecção «25 Imagens», é sobre um mestre das novelas sem palavras, Thomas Ott. A Floresta é um livro curto, simples, mas que aponta a todas as intensidades que o autor suíço nos habituou. Acesso aqui.

10 de setembro de 2025

Marguerite. Joe Pinelli (Levoir/Público)



O texto sobre o livro Marguerite, de Joe Pinelli, da colecção «25 Imagens» da Levoir + Público já se encontra disponível no site do jornal. Acedam aqui.

9 de setembro de 2025

Ter 20 anos em Maio de 1871. Jacques Tardi (Levoir/Público)



Em Ter 20 anos em Maio de 1871o mestre Jacques Tardi revisita várias das suas linhas temáticas e obsessões, com humor. O meu texto sobre o livro já está disponível, aqui.

8 de setembro de 2025

Rumo ao Sul. Landis Blair (Levoir/Público)



O texto sobre o livro "sem palavras" de Landis Blair, Rumo ao Sul, para a colecção da Levoir "25 Imagens", e distribuído para o Público, já se encontra disponível no site do jornal, aqui.


7 de setembro de 2025

A Restauração. Nina Bunjevac (Levoir/Público)



O texto sobre o volume A Restauração, da époustouflante Nina Bunjevac, está disponível aqui.

5 de setembro de 2025

Nachave. Lucas Harari (Levoir/Público)




O texto sobre o volume Nachave, de Lucas Harari, está disponível aqui.

O Cabo de 2102400 km. Vasco Colombo (Levoir/Público).

Durante os meses de Junho e Agosto, à medida que a nova colecção da Levoir, 25 Imagens, foi saindo com o Público, era publicado também no jornal um pequeno artigo meu - entre a crítica e a publicidade, encomendada pela própria editora e paga pelo jornal - sobre cada um dos volumes, e ainda um destacável sobre todo o projecto. 


Estes textos estão agora disponíveis no site do Público, acessíveis e gratuitos, mas serão disponibilizados "para trás", começando com o mais recente. Eles fazem sempre algumas referências uns aos outros e ao texto inaugural, mas mais tarde que cedo poderão ler tudo. 


Bom proveito. 


Acedam aqui.