29 de dezembro de 2005

Conversation#1 + #2. James Kochalka, Craig Thompson e Jeffrey Brown (Top Shelf)


Há várias formas de pensar. Pensar nem sempre pertence à esfera do intelecto, da distância, do conceito, podendo ser expresso através de actos, sendo o criativo aquele que nos parece ser o mais iluminado e mais iluminador a um só tempo. O artista, portanto, através do seu próprio trabalho - ainda que superficialmente surja enquanto produção ficcional, de entretenimento, seja de que resolução for -, é também crítico sobre o modo como o seu trabalho, a sua linguagem de partida e a que está criando, a sua arte, pode ser feito. Por vezes é até específico nessa pesquisa e crítica.
Os casos aqui indicados são não só específicos, como directos. Isto é, não é essa pesquisa velada, mas claríssima em termos de propósitos e formas de expressão. James Kochalka é conhecido de, para além das pequenas aventuras de episódios delicodoces que apresenta (Peanutbutter & Jeremy, Moneky & Robot, Magic Boy, editado entre nós na Polvo), dos seus Sketchbook Diaries (parte pequena já editada na Quadrado # 2, da Bedeteca), e de outros objectos estranhos (Superfuckers), dedicar-se a outros títulos onde explora directamente as possibilidades de expressão com a banda desenhada, como com The Horrible Truth About Comics (Alternative, 2000). Conversations não é um livro de entrevistas, não se trata de um livro de ensinamentos técnico-profissionais (como os de Eisner, por exemplo), nem um ensaio multi-disciplinar (leia-se, "salada epistemológica") como os volumes de McCloud, nem um livro de ensaios livres (como o título de David Soares), nem um volume de sistematização intelectual (à la Groensteen) nem um desafio disciplinar (à la Baetens), tampouco uma apresentação de experiências pessoais no campo (Levin). São tão-simplesmente um diálogo, desenhado "a quatro mãos" (na verdade, a duas, certo?), criando uma troca de impressões, pesando toda a significação detsa última palavra, entre dois interlocutores que criam banda desenhada. Um exercício apenas formalmente próximo doutros, mas que aqui se reveste de uma mais substancial preocupação. Questões gerais como "o que significa o acto criativo?", "que forças de pensamento quase-inconsciente se instituem com o desenho?", "que tipo de representação do mundo se atinge com a banda desenhada?", "que relação pretende um autor estabelecer com os sus leitores, empíricos, reais e internos à obra?", entre outras... Não se espere estar perante respostas últimas, riscos insuspeitados, fórmulas a citar mais tarde, rasgos de profundidade. Estamos perante buscas. Mas isso é extremamente importante, honesto, belo... É já um grande risco um autor deixar-se transparente perante as suas buscas. Kochalka, falando com Craig Thompson e depois Jeffrey Brown - certamente companheiros de um certo modo de criação de banda desenhada com elementos em comum, que terão a ver com uma certa afinidade da criação do mundo possível nesta arte - mostram alguns dos puros prazeres ensimesmados que a criação da banda desenhada pode representar, do qual estes livrinhos são o mais recente acto consumado, como também desafio "perante Deus" que se pode aventar a partir desse mesmo acto.
Quando se fala em "pequenos grandes livros" pode-se a maior parte das vezes incorrer numa péssima e formulaica expressão. Não é o caso. Posted by Picasa

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