7 de julho de 2005

Super Fuckers. James Kochalka (Top Shelf)


Há um livro intitulado How to Read Superheros and Why, de Geoff Lock (Continuum: 2002), que não é mais do que uma tentativa (pouco convincente, por linear demais, por mergulhar em demasia num apoio aos psicologismos freudianos e, gasp!, de Joseph Campbell) de aplicar as teorias de influência literária de Harold Bloom (a trilogia A Map of Misreading, Agon, e The Anxiety of Influence, somente este último disponível numa tradução portuguesa, na Cortovia.....) na produção contemporânea norte-americana de banda desenhada de super-heróis (Frank Miller, Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison, Mark Millar, Warren Ellis e afins, etc; olha, afinal a maior parte são ingleses).
Seja como for, é de facto possível ver-se uma clara estrutura em árvore, com ramificações mais ou menos organizadas e que mais não farão do que “seguir linhas” (já o dissera no texto sobre Marko Turunen). Ora, Kochaka pare ter agarrado precisamente num ramo específico de exploração de super-heróis da Marvel, que passou pelo arco Poptopia dos X-Men, de Mark Millar et al. (editado cá pela Devir), pelos The Ultimates, mas sobretudo a série X-Statix, de Peter Milligan e Mike Allred, sobre um grupo que é mais uma protrusão dos X-Men e que apenas se preocupam com contratos cinematográficos, relações fugazes para publicidade, royalties, etc. Imaginem X-Mtv-men.
A pequena torcidinha de Kochalka é colocar à nossa disposição um grupo de super-heróis que recordaria a Legião dos Super-Heróis do século XXX, mas panadinho nos interesses mais mordazes do autor: drogas químicas que metem o Prozac à esquina, criaturas simplesmente abjectas do ponto de vista físico (e até moral?), adolescentes idiotas e egoístas, Playstation XXX, o pior da cultura rosa-choque pop. Enfim: um olhar macaqueante do mais abstruso mundo do entretenimento norte-americano (e não só).
O desenho de Kochalka mantém-se na sua maior simplicidade de linhas, apesar de aqui estar mais dinâmico do que o costume (em relação às suas séries “de acção”, como Monkey vs. Robot, p. ex.), as soberbas e vivas cores garantirem uma maior plasticidade às personagens que parece terem sido pensadas sob os efeitos de metanfetaminas, tudo ajudado por um design livre, que ocupa todos os espaços possíveis, com páginas acetinadas.
No geral, tudo neste primeiro livro – pois a editora diz ser uma série - é como se fossem camadas de açúcar sobrepostas, para esconder as cáries que Kochalka parece querer detectar neste tipo de cultura, mas ainda assim divertir-se com isso. Afinal de contas, isto só pode ser um exercício de irritação e ironia em relação aos super-heróis da parte do autor de livros tão díspares mas tão delicodoces como Peanutbutter & Jeremy, tão dramaticamente quotidianos como Quit your Job ou pundonoroso como Perfect Planet. Posted by Picasa

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