26 de março de 2018

Master Song. Francisco Sousa Lobo (Kuš)


Este é o último livrinho do autor, e apesar de textualmente estar muito distante do que fez até à data, não deixa de ser surpreendente a maneira como se encaixa perfeitamente no seu programa a longo prazo. Ainda que não haja qualquer elemento que permita uma leitura auto-ficcional, e muito menos autobiográfica, não deixa de ser possível criar uma redoma que, unindo toda a obra, nos faça pensar na continuação e uma pesquisa muito pessoal de uma expressão da própria intimidade. Contado na primeira pessoa, e em verso, podendo falar-se de dísticos rimados, a parte textual transforma-se, como o título indica, numa canção. E como uma canção, ouvi-la várias vezes vai despertando novas ideias. (Mais)

25 de março de 2018

Nonnonba. Shigeru Mizuki (Devir)

Uma vez que havíamos escrito um longo texto sobre esta obra quando de uma sua edição em francês, há uma década, remetemos a esse texto para a análise das suas conquistas temáticas, formais, parte do contexto de produção e a sua desenvoltura diegética e simbólica. É, portanto, um momento feliz ao termos acesso, no nosso idioma, a uma das obras mais amadas de um grande público japonês, e uma das obras que mais contribuiria (e no seio da própria obra do autor) para a divulgação popular das figuras fantásticas folclóricas daquele país, conhecidas como yokai, e que hoje têm uma circulação mais comum pela cultura popular. (Mais) 

23 de março de 2018

Duplo Vê/O Tautólogo. Mattia Denisse (dois dias)


Por esta altura, começa a construir-se um edifício feito de elementos singulares, e a que se poderá vir a dar o nome de “obra gráfica”, de Mattia Denisse, designação que tanto terá a felicidade de agrupar essa sua produção por um traço material, permitindo uma visão de conjunto e uma consideração das constantes, como poderá incorrer em distrações relativas a especificidades de cada um desses mesmos elementos. (Mais) 

15 de março de 2018

Livro das imagens. Sei Miguel (O Homem do Saco/Marmita de Gigante)


É por vezes difícil, se não impossível, lermos, vermos, interpretarmos e pronunciar um juízo de valor sobre uma determinada obra nova sem recorrermos a elementos que lhe são extrínsecos. As mais das vezes, isso prende-se a questões de biografia, círculo social ou outra actividade profissional, pública ou artística que o autor ou autora exerçam e que parecem fazer pressão sobre aquelas que se nos apresentam no momento. É isso o que sucede quando se procuram “traços” de arquitectura em desenhistas que têm formação de arquitecto (e tão distintos como Richard Câmara, Francisco Sousa Lobo, Pedro Burgos, Ana Cortesão, André Pereira), ou se pretendem compreender como actividades musicais podem informar a prática da banda desenhada (Carlos Zíngaro, Ilan Manouach, Brian Chippendale, André Coelho). Quase sempre esse exercício é supérfluo e inválido, uma vez que providencia mais com elementos de cegueira e limitação do que um caminho para cumprir uma melhor leitura crítica. (Mais)

14 de março de 2018

Fearless Colors. Samplerman (Mmmnnnrrrg et al.)


Na contracapa deste volume antológico, que colecciona grande parte da produção do autor francês nesta sua vertente de bandas não desenhadas mas coladas, encontramos uma mulher, numa espécie de função de Atlas, a segurar um globo terrestre. Calcorreando a sua circunferência, encontramos várias personagens retiradas de variados territórios da banda desenhada, que apesar de se encontrarem num putativo intervalo limitado – diríamos a banda desenhada de género(s) e comercial das décadas de 1930 a 1950, sobretudo americana –, representariam vários registos: a aventura, o policial, a comédia, o biográfico-histórico, o fantástico, etc. Há femme fatales, um vilão, um hillbilly, um cientista ao microscópio, bebés nadadores, uma tribo de mulheres-gato, a mão de um pescador, uma pomba e uma manivela. Talvez estas personagens avulsas e diversas não tenham aqui um valor narrativo propriamente dito, mas em relação à expressão feliz e celebratória da cariátide do mundo poderão cumprir o papel de signos de um arquivo maior: aquele que está disponível e é empregue pelo artista, para a sua prática transformativa e criativa. (Mais)

2 de março de 2018

Pentângulo 01. AAVV (Ar.Co/Chili Com Carne)

Serve o presente post para indicar que já está em circulação e venda o primeiro volume da Pentângulo. Trata-se de um projecto nascido no seio dos cursos de banda desenhada e ilustração (e afins) do Ar.Co, em colaboração com a editora Chili Com Carne, e pretende ser um gesto anual.

Estes livros agregarão quer trabalhos desenvolvidos no decurso do próprio processo de ensino-aprendizagem, destacando-se os melhores "T.P.C.s", quer projectos pessoais dos alunos, que se integrarão no ensejo central do título. É o caso das produções de Sara Boiça, Mathieu Fleury, Simão Simões ou Stéphane Galtier. Em princípio, existirá uma linha temática que conduzirá uma das partes dos volumes, que é depois explorada da forma mais variada possível. Neste primeiro gesto, o tema foram as mulheres artistas dos vários movimentos das vanguardas estéticas do início do século XX, sobretudo russas. 

Mas haverá igualmente oportunidade para envolver ainda, como é o caso, os professores ou antigos alunos, que poderão ir conquistando maior ou menor espaço na paisagem editorial destes campos. Com efeito, encontrarão aqui trabalhos de autores como Rodolfo Mariano, Cecília Silveira (com uma peça a um só tempo divertidíssima e politicamente forte), Vasco Ruivo, Dileydi Florez (uma peça visualmente soberba), o colectivo Triciclo, Martina Manyà, Gonçalo Duarte e Igor Baptista, cujos nomes têm já lugar nos circuitos de fanzines ou da edição independente, e conhecidos dos leitores mais atentos. Francisco Sousa Lobo, antigo aluno, dispensará apresentações, dada a sua fortíssima presença e produção na "cena" nacional. Daniel Lima (na capa) e Amanda Baeza também participam, na qualidade de formadores da casa.


Também na qualidade de docente daquela instituição há uns anos, e como aspirante a argumentista, participo no volume duplamente. Em primeiro lugar, com um brevíssimo ensaio sobre o plágio na banda desenhada. Em segundo lugar, com uma história de dezassete pranchas (mais título), que respeita o tema indicado acima mas através de uma ficção, e com desenhos de Carolina "Zarolina" Moreira, Vasco Ruivo, Cecília Silveira e Martina Manyà, cada uma destas assinaturas tomando uma das camadas de Estratigrafias (a imagem que mostro é uma montagem de cortes).

Procurem!

1 de março de 2018

Participação em Mesa-redonda: 7 de Março, FLUL


Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a 8 de Março, terá lugar uma mesa-redonda na Faculdade de Letras de Lisboa, organizada com a American Corners, dedicada à personagem Mulher-Maravilha. O painel será composto pelas Professoras Lisa Botshon e Diana Ramos, e este vosso servente. 

Terá lugar na Quarta-feira, dia 7, pelas 17h00, no Anfiteatro III, da Faculdade de Letras de Lisboa (à Cidade Universtária).

Enquadrado num contexto da representação feminina na banda desenhada e no entretenimento popular, na história e desenvolvimento múltiplo desta personagem criada em 1941 por William Marston e as sucessivas revisões, entre as quais a mais recente versão cinematográfica, de enorme impacto para além dos fãs usuais, e questões mais abrangentes como o feminismo contemporâneo e o papel da fantasia (depreendendo-se aqui um termo específico de laivos psicanalíticos e políticos), da minha parte apenas tentarei não abusar do mansplaining (mas não prometo, nem desejo, abster-me dele!).